Foram mais de 10 anos desde que Maria Lúcia idealizou a publicação de um livro com os cartuns de seu pai, José Miguel Pereira de Sampaio (1927-2017), conhecido por Sampaio. Em 2007, quando o cartunista completou 80 anos, surgiu a ideia de uma publicação com seus trabalhos para a Revista do Globo. Projeto gráfico pronto, a timidez do artista falou mais alto e ele não autorizou a impressão. Poderia, sim, ser publicado, mas somente após a sua morte. Sua vontade foi respeitada.
Agora, junto com a tristeza de não tê-lo presente, veio a possibilidade da realização do que era, até então, apenas um sonho. Editado pela Insular, de Florianópolis, com capa de Mauro Ferreira e projeto gráfico da Libretos, todos poderão conferir (e divertir-se com) a qualidade e atualidade do trabalho dele no livro Ria por Favor, que será lançado hoje, dia 5, às 18h, no Baden Cafés Especiais (Avenida Jerônimo de Ornelas, 431 – esquina com a Vieira de Castro).
Nos anos 1940, muito antes de Onde Está Wally?, o cartunista Sampaio criou um personagem que deveria ser procurado no meio de uma “multidão”: um homenzinho fazendo xixi, de costas, naturalmente... De humor ingênuo, como ele mesmo caracterizava o seu trabalho, marcou sua carreira com estes cartuns, que retratam cenas do cotidiano e de momentos históricos, publicados entre 1947 e 1955 na Revista do Globo, respeitada publicação quinzenal gaúcha.
Sampaio nasceu em São Luiz Gonzaga, era irmão mais velho do cartunista SamPaulo, que também já morreu. Desde cedo, foram incentivados pelo pai, juiz de Direito, que costumava fazer caricaturas de seus colegas de trabalho no Tribunal de Justiça e, nas horas vagas, também pintava. O cartunista iniciou a carreira na Livraria do Globo, em 1944, como aprendiz de desenhista. Pouco a pouco, foi criando as próprias piadas, que acabaram na seção de humor da revista, que se chamava "Ria por favor".
Em 2004, Sampaio foi homenageado no 11º Salão Internacional de Desenho para a Imprensa de Porto Alegre, realizado pela prefeitura. Na ocasião, ficou surpreso com o convite, porque, segundo suas palavras, pensou que nem fossem mais se lembrar dele, porque já tinha "pendurado a caneta há muito tempo”. A ideia da publicação de seu trabalho é, exatamente, “despendurar” sua caneta para sempre.