Em meio às peças de vestuário que ocupam os três andares da Lojas Renner, no antigo prédio da Livraria do Globo, uma estátua em tamanho real de Erico Verissimo resgata uma trajetória literária que teve início exatamente naquele endereço do centro de Porto Alegre. Na manhã desta quarta-feira (16), o número 1.416 da Rua dos Andradas recebeu, no espaço dedicado ao Memorial Livraria do Globo, uma escultura do escritor sentado em um banco lendo um livro.
– Era uma pose típica dele – ressalta Luis Fernando Verissimo, que, acompanhado da mulher, Lucia, visitou o local para prestigiar a homenagem ao pai.
Como editor e tradutor na Livraria do Globo, Erico colocou em circulação no país um número significativo de grandes autores estrangeiros. Também foi pela Editora Globo que o escritor publicou todas as suas obras, consagrando-se como autor reconhecido nacionalmente.
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– Costuma ser um trabalho difícil, principalmente quando se trata de um ícone. A gente fica tremendo. Mas o prazer de ser escolhido para fazer esse trabalho foi o maior pagamento – comenta o artista gaúcho Enio Fritsch, escultor de Gramado que dedicou um mês à criação da obra, que custou R$ 10 mil.
A ideia se soma à iniciativa da Renner de preservar o legado do edifício, que acolhe um tesouro cultural para a cidade, já que o endereço, além de ter abrigado a Livraria do Globo, também foi ponto de encontro de importantes nomes da literatura.
– Erico Verissimo sempre fez parte deste ambiente e queríamos perpetuar isso na memória das pessoas – ressalta o diretor de compras das Lojas Renner Fábio Faccio.
A inspiração
A estátua de fibras de vidro imitando bronze foi inspirada em um trecho do livro Solo de Clarineta (1973), em que Erico se autodescreve: "Essa cabeçorra, quase desproporcional ao resto do corpo, herdei-a de meu pai. Quanto à pele morena, talvez me tenha vindo de algum remoto antepassado índio ou mouro. As sobrancelhas negras e espessas – que passaram a vida no vão esforço de dar a essa cara um ar façanhudo, decerto com o propósito de atenuar a mansuetude quase humilde dos olhos – foram suavizadas pela prata com que o tempo retocou".