Motivos para ter orgulho da terra natal, mesmo que não existam, a gente dá um jeito e cria. Não que Porto Alegre seja carente de coisas boas, mas o afeto pelo nosso chão muitas vezes vira exagero. Suponho que em outros lugares aconteça o mesmo.
Nos anos 1940, por exemplo, a Capital se orgulhava de possuir, além do “pôr do sol mais bonito do planeta (?)”, uma bizarrice arquitetônica. No número 27 da Praça Montevidéu (largo da prefeitura), havia, então, a “casa mais estreita do mundo”.
A construção estimulou algumas lendas. Quem seria o proprietário? Que móveis poderiam caber ali? Como habitar um imóvel cuja fachada possuía pouco mais de um metro de frente? Seria uma questão de partilha mal resolvida? Ao acordar, o morador poderia espreguiçar-se sem bater as mãos nas paredes? Todos os que passavam diante da casa pela primeira vez paravam curiosos e, ao observá-la, soltavam a imaginação.
Quando em julho de 1940 o pintor contratado para embelezar a “residência” foi entrevistado por um repórter, pouca informação agregou. Disse apenas que nunca antes tivera um trabalho tão fácil como aquele. “Nem preciso mudar a escada de lugar”, afirmou o trabalhador.
Em maio de 1945, diante da notícia de que “a casa mais estreita do mundo” seria demolida para permitir a construção de um grande edifício, um jornalista da extinta Folha da Tarde resolveu acabar com as dúvidas, jogou luz sobre o caso e acabou com o folclore. Na verdade, ali, antes da “casa”, havia um estreito corredor que ligava a Rua José Montaury ao largo da prefeitura.
Lá por mil oitocentos e oitenta e tantos, o senhor Henrique Jacob Dexheimer teria comprado o terreno por 500 mil réis. Fechou as extremidades colocando uma porta alta (e sobre ela uma janela) e fez do espaço um depósito de coisas usadas, como garrafas vazias o outros objetos.
Quando foi demolida, a “casa” era da senhora Elvira D. Livonius, esposa do senhor Paulo Livonius. Da “casa mais estreita do mundo”, agora, só restam algumas poucas fotografias, como estas que estamos publicando, e mais uma boa história da nossa cidade.
Colaboraram o jornalista Marcello Campos e Silvia Maria de Mello