“Senhoras e senhores ouvintes, muito boa noite. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro tem o prazer em apresentar Em Busca da Felicidade, emocionante novela de Leandro Blanco”, ao fundo, os acordes de uma suave trilha musical para essas primeiras palavras. Pronunciadas semanalmente pelo locutor, com grave entonação, às 20h30min, podia-se ter a certeza de que grande parte dos brasileiros, de Norte a Sul, estaria grudada em seus receptores. E assim reuniam a família para acompanhar a trama desse cubano, adaptada por Gilberto Martins, que perduraria com a mesma comoção, com a desconfiança de alguns homens de que aquilo fosse “para mulher”.
A estreia aconteceu em 12 de julho de 1941, retransmitida, depois, pela Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, iniciando, assim, um dos maiores sucessos da então PRH-2. A crônica, por sua vez, entusiasmada, dizia que, “pela primeira vez, os ouvintes deste Estado irão desfrutar as mais fortes emoções, jamais patrocinadas por um espetáculo radiofônico, com a irradiação da sensacional novela de radioteatro Em Busca da Felicidade”, então patrocinada pela Colgate. Mas foi O Direito de Nascer, do também cubano Félix Caignet, adaptada por Eurico Silva, que teria uma maior sintonia para acompanhar o drama de Mamãe Dolores e outros personagens, como Albertinho Limonta, com elenco de grande projeção.
“Quando da apresentação de O Direito de Nascer, a Rádio Nacional era absoluta em termos de audiência e, naquele horário, os cinemas, os teatros e os outros meios de entretenimento ficavam vazios... Era um horário religioso, uma imensa reunião emudecida e atenta, que comungava, junto aos receptores de rádio, todas aquelas emoções vividas por Albertinho Limonta e pelas demais figuras criadas por Félix Caignet”, relembra Reynaldo C. Tavares, em Histórias que o Rádio não Contou.
No Rio Grande do Sul, o grande nome do radioteatro foi Túlio Amaral, autor de Acusação Injusta, entre muitos outros sucessos da Rádio Farroupilha, da Capital, então a de maior audiência do Estado. Muitos artistas, como Pery Borges, Estelita Bell e Roberto Lis, entre os muitos atores e atrizes, são ainda carinhosamente relembrados pela sua atuação na época de ouro da radionovela.
O ator Cláudio Real, certa vez, contou um inesquecível episódio: “Havia uma cena, no Teatro Farroupilha, na qual o ator deveria gritar ‘Fogo! Fogo!, chamem os bombeiros’... No andar de baixo, de onde era o estúdio, funcionava um banco. Foi quando um funcionário ouviu o apelo e não teve dúvidas: chamou mesmo os bombeiros. Ao término da peça, os ‘valentes soldados do fogo’, como se dizia então, estavam subindo as escadas com suas mangueiras”.
Tradicionalmente, o inverno aumentava a sintonia das três emissoras. Principalmente à noite, quando o vento minuano teimava em açoitar Porto Alegre, obrigando os moradores a permanecerem em suas casas. Mesmo porque o horário do bonde ia até as 23h, seguido do último, denominado bonde fantasma, à meia-noite. Depois, tudo eram trevas. O melhor mesmo, portanto, era ficar em casa... ouvindo o rádio.
Colaboração do jornalista Sérgio Dillenburg