Do médico Franklin Cunha, recebemos uma preciosa colaboração. O doutor Franklin nasceu em Antônio Prado, em 1933, foi ginecologista e obstetra por 54 anos (realizou cerca de 3 mil partos) e é membro da Academia Rio-Grandense de Letras. É filho do engenheiro agrônomo João Batista Gonçalves da Cunha e neto do coronel Franklin Cunha, um desses incríveis caudilhos rurais rio-grandenses, que foi conhecido também pelo apelido de Gaúcho. Franklin José de Lima Cunha, nascido em São Sepé, em 1858, foi casado com Miguelina Gonçalves, com quem teve seis filhos.
O coronel herdou de seu pai, Gaspar Raymundo José da Cunha, a fazenda Vista Alegre, mas, além de pecuarista, teve participação relevante nos acontecimentos políticos e em revoluções, como a de 1893, na qual foi ousado comandante rebelde. Numa época em que os deslocamentos eram feitos a cavalo, de barco ou trem, o Gaúcho percorreu o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, atuando em confrontos bélicos que o levaram, inclusive, à condição de asilado no Uruguai e na Argentina. O general Laurentino Pinto, que acompanhou de perto o protagonismo do coronel Franklin, escreveu-lhe: “O seu patriotismo, o seu desinteresse, que tanto se distinguiu pelo seu valor nos combates, pela sua humanidade para com os vencidos, e a sua honradez na cautela dos interesses de nossos concidadãos... Sempre pronto a todos os sacrifícios, expondo-vos nos mais renhidos encontros com uma coragem e galhardia que causariam o orgulho de nossos antepassados (...)”.
Em 1916, provavelmente em razão de problemas de saúde de uma filha, o coronel Franklin estabeleceu-se em Caxias do Sul, e foi lá que a Revolução de 1923 exigiu a participação e a audácia do caudilho. O fato de se haver engajado nas hostes da revolução federalista pode confundir e levar à conclusão equivocada de que seria “maragato”. Apesar de ter servido sob o comando de Gumercindo Saraiva no princípio da guerra civil, manteve-se sempre ligado aos republicanos dissidentes.
O coronel Franklin Cunha morreu em Porto Alegre, aos 76 anos, em 1934. A foto é de uma “caçada ao veado” que ele ofereceu em honra do doutor Giovani Palombini, na fazenda Vista Alegre, em 1907. Curiosamente, por causa da sua profissão de médico, o doutor Palombini, no último instante, recebeu um chamado e não pôde comparecer. Enviou, então, o fotógrafo Alberto Lucarelli, escalado para fazer um “resumo fidedigno” e documentar o evento.
Na imagem maior, aparecem alguns “capriolos” (veados) pendurados. Ao fundo, sentado contra a árvore, de chapéu preto, está o coronel Franklin. O primeiro à esquerda, de camisa branca, lenço escuro e chapéu preto, é seu filho João Batista Gonçalves da Cunha. O primeiro de pé à direita, de branco e chapéu preto, é Amâncio Cunha, irmão do coronel e pai do economista Rafael Cunha.
Fonte: livro Ensaios de História Política, de Sérgio da Costa Franco. Ed. Pradense, 2013