Toda cidade humanizada tem sempre um local onde os cidadãos se reúnem para trocar ideias, conversar sobre os assuntos do dia (política, futebol...), confraternizar e desfrutar do prazer de viver em sociedade. Mas a questão pode significar também: a que ponto chegamos? Como é ser porto-alegrense hoje em dia? Nossa capital, que tem sido, não sem razão, tão criticada ultimamente, parece ter perdido a capacidade de acolher com um ambiente ameno, especialmente no Centro, a população cada vez mais numerosa e carente, inclusive de afeto. Nem sempre foi assim.
O Largo dos Medeiros, desconhecido como tal pelos jovens e, agora, raramente citado como lugar de convivência e ponto de encontro, já foi, aqui, o lugar mais identificado com essa finalidade. A confluência da Rua da Praia (Andradas) com a Rua da Ladeira (General Câmara) abrigou, durante muitos anos, os passantes que paravam para um bate-papo ou um café com amigos.
Foi assim denominado por uma lei de 1957, que oficializou a homenagem aos irmãos Eugênio e Pantaleão Medeiros, proprietários da Confeitaria Central, que ficava numa das esquinas do cruzamento daquelas vias centrais. As duas fotos que ilustram a coluna, do acervo do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, gentilmente enviadas pelo leitor Jorge Silva, são um bom exemplo da época em que o Largo tinha prestígio. Embora não saibamos a data exata das fotografias, é muito provável que as imagens tenham sido obtidas lá por 1957 ou 1958.
Numa delas, aparecem, em pé, numa roda de conversa, o prefeito, Leonel Brizola (à esquerda), e o governador do Estado, Ildo Meneghetti (à direita, de chapéu), entre outros. Brizola foi prefeito entre 1956 e 1958. Meneghetti foi governador duas vezes, de 1955 a 1959 e de 1963 a 1966.
Na outra foto, Brizola toma um cafezinho no balcão do Café América. Através da porta, pode-se ver o luminoso da Praiana, que ficava em frente, assim como os tapumes das obras da Galeria Di Primio Beck, ainda em construção, que podem ser vistos também na foto externa. Ver fotografias antigas é ótima oportunidade para a reflexão.
Fica a pergunta: alguém imagina o nosso governador ou o nosso prefeito (ou, ainda, quem sabe, os dois juntos) transitando descontraídos, a pé, pelo centro de Porto Alegre?
E mais, é justo perguntar: até que ponto eles e os seus antecessores contribuíram (ou estão contribuindo) para que nossa cidade seja, hoje, o que é?
Colaborou Jorge Silva