Na década de 40, por influência direta do então presidente Getúlio Vargas, os sindicatos, por meio de seus institutos de previdência, passaram a desenvolver uma política habitacional para seus associados.
Nesse contexto, o Instituto de Aposentadoria e Previdência do Comércio (IAPC) idealizou a Vila dos Comerciários, um projeto habitacional para seus associados. A ideia era construir 2,1 mil casas. No projeto-piloto, foram erguidas 250 unidades, das quais apenas 202 foram concluídas.
As casas, de dois tipos, eram padronizadas. Todas foram entregues com fogões a lenha e serpentinas para aquecimento de água no banheiro e na cozinha. Casas em centro de terreno, acesso longitudinal de veículo, jardim, quintal, ruas e calçadas com 15 metros de largura e coleta de esgoto pluvial e cloacal.
O projeto paisagístico previu calçadas com canteiros, gramados e cercas vivas dividindo os terrenos e o plantio de mais de mil árvores. Inicialmente, o programa alugou os imóveis, selecionando os interessados e dando preferência a casais com filhos. Anos depois, com a fusão dos institutos de previdência (e a criação do INPS), o governo federal optou pela venda dos imóveis aos inquilinos.
No início, era um lugar bucólico, atrás do Morro Santa Tereza, com acesso pela Avenida Carlos Barbosa (onde hoje está o Postão da Vila Cruzeiro), pois não havia outra coisa a não ser as casas, o Grupo Escolar Alberto Bins, a sede da Sociedade dos Amigos da Vila dos Comerciários (Savic), onde tinha um cinema com cadeiras de palha, um campo e uma quadra de futebol e cancha de bocha.
No começo da década de 1950, todas as casas foram ocupadas imediatamente por casais jovens. Até certo ponto isolados do restante da cidade, seus moradores interagiam formando um grande círculo de amizades, as pessoas se visitavam. Muitos jovens namoraram, casaram-se, tiveram filhos e continuaram morando lá, seja com seus pais ou comprando outra residência no mesmo bairro.
As crianças que ali nasceram têm, hoje, aproximadamente 65 anos, e muitos que, na época, já eram adultos ainda vivem na Vila. Os que se mudaram até hoje se relacionam pelas redes sociais, onde existe um grupo chamado Vila.com, da Associação dos Moradores (Mavicom). Minha família e eu vivemos na Vila dos Comerciários até os meus oito anos de idade.
Nesta semana, nossa leitora Cecília Kemel, contente, comunicou-me que a Vila foi "oficialmente reconhecida como área de interesse cultural, com placa e tudo", disse ela, acrescentando:
"Ficamos muito felizes com a notícia, porque vínhamos batalhando por isso há um tempão e estamos compartilhando esta alegria contigo".
Obrigado, Cecília!