O Hospital Beneficência Portuguesa enfrenta um momento especialmente crítico nos seus 163 anos de história. Uma das mais tradicionais instituições da área da saúde em nossa cidade corre o risco de, até mesmo, fechar suas portas.
Desde 2011, quando o corpo administrativo foi afastado por suspeita de irregularidades, a situação foi se agravando. Agora, já não há dinheiro sequer para pagar salários e comprar remédios e alimentos. O Beneficência está em tratativas com outra instituição para fazer uma parceria que o mantenha funcionando. O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes, está liderando um grupo de trabalho em prol do hospital. Seria mais uma grande vergonha para os gaúchos permitir que o pior aconteça.
A criação da Sociedade Portuguesa de Beneficência em Porto Alegre seguiu o mesmo caminho de outras cidades brasileiras. Foi uma iniciativa do vice-cônsul de Portugal, Antonio Maria do Amaral Ribeiro, em atendimento às necessidades de cuidados da comunidade imigrante portuguesa e seus descendentes. Tendo como modelo a associação de socorros mútuos formada em 1840, no Rio de Janeiro, a nova sociedade foi fundada na capital gaúcha em 26 de fevereiro de 1854. Seu objetivo primordial era a construção de um hospital para prestar assistência aos sócios.
Ao final do primeiro ano, a Sociedade Portuguesa de Beneficência contava com 557 integrantes, mas não dispunha de sede própria. Estabeleceu-se, na época, um convênio com a Santa Casa de Misericórdia para o atendimento médico. Entretanto, com o crescimento da instituição, em 28 de maio de 1858 foi adquirida uma casa na antiga Rua da Figueira, atual Rua Coronel Genuíno, no centro de Porto Alegre. O primeiro paciente foi atendido em janeiro de 1859.
Mais tarde, a construção do novo hospital se iniciou em um terreno localizado no Caminho da Aldeia (ou Estrada dos Moinhos de Vento), atual Avenida Independência. As obras do edifício, um dos marcos arquitetônicos da Capital, começaram em 29 de junho de 1867. Graças às doações e à realização de leilões, recitais e eventos para arrecadação de recursos, o prédio foi inaugurado em 29 de junho de 1870.
Ainda hoje, é referência na área da saúde e destina 116 dos seus 187 leitos ao atendimento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), além de abrigar doentes do Ipergs, de convênios e particulares. Segundo o site do hospital, o corpo clínico é integrado por 202 médicos.
Na maternidade do Beneficência, nasceram, além deste humilde colunista, personalidades de projeção nacional e internacional, como a cantora Elis Regina e o escritor Moacyr Scliar, por exemplo. Ali, encontra-se um importante acervo de informações sobre as atividades médicas em mais de 160 anos de história.
Para melhor conservação do acervo, foi assinado um convênio, em 2007, reunindo o Museu de História da Medicina (MUHM/Simers), a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e o Beneficência. O prédio histórico abriga o Museu de História da Medicina, uma iniciativa do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).