No dia 6 de setembro de 1922, durante as comemorações do centenário da Independência do Brasil (1822-1922), às 18h, inaugurou-se, em Porto Alegre, a sede do jornal A Federação (1884-1937), representante do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR).
Na época, Lindolfo Leopoldo Boeckel Collor (1890-1942) – avô do ex-presidente Fernando Collor de Mello – era o seu diretor. Na cerimônia inaugural, estavam presentes o presidente do Estado, Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961), e outras personalidades ligadas à política e ao jornalismo local. Em frente ao prédio, houve uma apresentação da banda do 1º Batalhão de Infantaria da Brigada Militar, que abrilhantou a solenidade. Localizado na esquina da Rua dos Andradas com a Caldas Júnior, número 959, o antigo prédio do jornal A Federação faz parte do nosso Centro Histórico.
Sua construção ficou a cargo do engenheiro civil Theóphilo Borges de Barros. De estilo eclético, próprio da arquitetura do período positivista, nele misturam-se várias tendências artísticas. Em 1947, foi destruído parcialmente por um incêndio, sendo reconstruído e ampliado. Em 1977, o prédio foi tombado.
A escultura alusiva à imprensa que compõe o conjunto arquitetônico é de autoria do italiano Luís Sanguin (1877-1948). Restaurada em 1995 pelo escultor João Carlos Ferreira, da equipe da Brigada Militar, teve a supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae).
Após A Federação ter sua circulação encerrada, no local foram impressos, respectivamente, o Jornal do Estado (1937-1942) e o atual Diário Oficial do Estado. Este, em 1973, começou a ser impresso pela Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (Corag). Quando esta mudou-se para o bairro Partenon, o prédio passou a sediar o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.
Fundado em 10 de setembro de 1974, pelo jornalista Sérgio Dillenburg, a criação do museu contou com o apoio da Associação Rio-Grandense de Imprensa (ARI), na figura do então presidente Alberto André (1915-2001), do governador Euclides Triches (1919-1994) e do secretário de Educação e Cultura Mauro da Costa Rodrigues. Neste ano, esta instituição, responsável pela guarda, preservação e difusão da memória da comunicação gaúcha, completa 43 anos de atividades.
Quando, em São Paulo, eclodiu o Movimento Constitucionalista de 1932, houve uma cisão no Partido Republicano Rio-Grandense. A divergência política quanto ao centralismo do presidente Getúlio Vargas (1882-1954) resultou na criação do Partido Republicano Liberal, tendo à frente Flores da Cunha (1880-1959), e do qual A Federação passou a ser porta-voz. Apesar do seu caráter político-partidário, A Federação publicava notícias socioeconômicas, culturais e esportivas.
Em 1º de janeiro de 1887, o jornal foi vanguardista ao introduzir, na Província, o serviço noticioso telegráfico, contratado com a agência francesa Havas. Em sua fase final, em outubro de 1937, o jornal criou uma sucursal carioca.
Infelizmente, a crise financeira, atritos partidários e a concorrência com outros jornais desafiavam os seus 53 anos de existência. Em sua trajetória, contou com destacados nomes, como Júlio de Castilhos, Venâncio Aires, Assis Brasil, Ramiro Barcelos e Borges de Medeiros, entre outros.
Com a criação do Estado Novo (1937-1945), Vargas decretou o término do jornal A Federação. Encerrou-se, assim, em 17 de novembro de 1937, a trajetória de um jornal político-partidário que registrou fatos importantes de âmbito regional e nacional. O antigo prédio do jornal A Federação é o testemunho desta história.
Colaboração de Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Musecom