Quem é velho, como eu, certamente já acumulou durante a vida algumas frustrações com os chamados fenômenos astronômicos. A gente é sempre alertado para não perder a "oportunidade única" de ver isso ou aquilo, que só vai se repetir "daqui a 500 anos", quando não mais estaremos presentes para testemunhar a rara "exibição". E o que acontece? Acordamos de madrugada, ficamos cuidando o calendário e o relógio, o pescoço endurece de tanto olhar para o céu e, quase sempre, se vê pouco ou nada.
Foi assim com o cometa Kohoutek, com o Halley e com inúmeros eclipses, que, de tão "raros", toda hora estão na mídia. Com certeza, o problema deve ser meu, provavelmente por ignorância, que não aprendi a valorizar suficientemente aquilo que os cientistas levaram tantos anos para descobrir e identificar.
De acordo com a Wikipédia, "Eclipses totais do sol são eventos relativamente raros. Apesar de eles ocorrerem em algum lugar da Terra a cada 18 meses, é estimado que eles recaem (isto é, duas vezes) em um dado lugar apenas a cada 300 ou 400 anos". Está lá. Não estou dizendo? Talvez eu seja um cara traumatizado pelo eclipse de 1966, que, 50 anos atrás, foi o assunto mais comentado naquele tempo (leia reportagem no caderno DOC).
Eu tinha 15 anos e começava a me interessar por fotografia. Depois de participar de um ciclo de palestras sobre o tema, eu e alguns amigos montamos um laboratório fotográfico para as primeiras experiências na revelação de filmes e impressão de cópias. Foi aí que surgiram as notícias sobre o eclipse. Preparamos câmeras, compramos filmes, cobrimos óculos escuros com película velada para proteger as retinas e, no dia 12 de novembro, exatamente às 11h10min locais, lá estávamos nós: Flávio Canali Ferreira, Protásio Romeu, Ademir (irmão do Flávio) e eu, prontos para desfrutar o momento histórico e, naturalmente, registrá-lo para a posteridade.
Não importava que não estivéssemos na Praia do Cassino, melhor posição geográfica para a observação, e que também não dispuséssemos de teleobjetivas (essenciais para este tipo de foto). Munido de uma Rolleiflex emprestada, eu faria fotos extraordinárias, se o dia não estivesse... nublado. Sim, aqui na Capital, só deu para notar a diminuição da luz diurna por alguns minutos e tudo voltou ao normal. Os filmes adquiridos foram usados para fotos, ironizando nosso fracasso. E a presença dos cientistas da Nasa aqui no Estado. Puro despeito.
Em 1994, num outro "raro" eclipse, me vinguei. Já como fotógrafo profissional, registrei o sol encoberto junto a uma das torres da Igreja Nossa Senhora das Dores (foto acima).