Os testes da vacina de Oxford em crianças e adolescentes poderão ser estendidos ao Brasil ainda no primeiro semestre. Essa é a projeção de alguns especialistas, com base nas experiências de testagens anteriores em outras faixas etárias.
A AstraZeneca, resposável pela vacina, divulgou na manhã deste sábado que o primeiro estudo com voluntários mais jovens terá início ainda em fevereiro, no Reino Unido. Trata-se de um grupo de 300 participantes com idades entre seis e 18 anos. É a primeira vez que são realizados testes com indivíduos com menos de 16 anos.
Segundo o médico Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), é possível que as primeiras conclusões sobre o estudo sejam publicadas em poucos meses. Coordenador dos estudos da vacina de Oxford no HCPA, Sprinz avalia que não é possível afirmar quais países participarão das pesquisas depois que as primeiras etapas, no Reino Unido, forem encerradas. Mas é provável que também ocorram em cidades que já sediaram outros estudos do medicamento, como Porto Alegre.
– Se a vacina se mostrar segura e induzir a formação de anticorpos, passará para estudos mais amplos, que poderão ser estendidos para diversos locais, repetindo inclusive os centros que fizeram estudos em adultos. Mais ainda é cedo para afirmar quais centros participarão – explica Sprinz.
No Reino Unido, as declarações dos envolvidos na pesquisa denotam otimismo e celeridade. Jonathan Van-Tam, subdiretor médico da Inglaterra, afirmou em entrevista ao canal ITV News que há possíbilidade de aprovação da vacina para os mais
– É perfeitamente possível que teremos uma vacina infantil para a covid-19 aprovada até o final do ano. É perfeitamente possível, mas não é uma certeza – disse Van-Tam.
Integrante do comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul , o médico Juarez Cunha pondera que os novos estudos sobre a vacina podem não evoluir com a mesma rapidez dos anteriores. A redução de circulação do coronavírus, promovida pelo início da imunização, poderá gerar menos agilidade. Em fases anteriores, com a contaminação em alta, os participantes dos estudos se infectavam com maior rapidez, fazendo com que a comparação dos efeitos entre aqueles os que receberam a vacina e o placebo fosse agilizada.
– É importante lembrar que os primeiros estudos também conseguiram andar muito rápido porque havia muita covid-19. A Pfizer, por exemplo, esperava ter o número de pessoas infectadas em seu estudo em quatro meses, mas esse número foi atingido em dois meses. O avanço do estudo dependerá muito da evolução da doença e da exposição das crianças e adolescentes – alerta Cunha.
Importância
A vacina de Oxford é uma das principais alternativas para imunização da população brasileira. Ao lado de CoronaVac, representa uma das vacinas mais adquiridas pelo governo brasileiro. As compras dois imunizantes, somadas ao convênio Covax Facility, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir doses a nações em desenvolvimento, devem imunizar para 77,6% da população em 2021.
– Ter uma vacina que possa ser utilizada na faixa etária a partir de seis anos é muito importante. Apesar das crianças atingidas pelo coronavírus terem, em geral, um quadro relativo de menor gravidade, adoecem e transmitem para outras pessoas. Se protegermos esses jovens, estaremos protegendo também a coletividade – afirma Juarez Cunha.
O médico explica que vacinar os mais jovens é uma etapa importante para imunidade coletiva , capaz de bloquear o avanço do vírus:
– Se excluirmos da vacinação os menores de 18 anos, 30% da população não será vacinada. Ou seja, mesmo que vacinássemos 100% do restante dos restantes, o país teria apenas 70% de imunizados. Além disso, é um fator importante para o retorno definitivo das aulas. Haverá maior segurança de que os alunos estarão protegidos e não transmitirão a doença para seus familiares.