A quantidade de pacientes com suspeita ou exame positivo para coronavírus aumentou 38% ao longo das últimas duas semanas nas UTIs de Porto Alegre, e chegou a 76 leitos ocupados até as 14h desta quarta-feira (20).
Esse avanço coincide com um crescimento na taxa geral de ocupação no mesmo período, quando o uso das vagas por todos os tipos de doentes passou de 72% para 78%. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ressalta que o número de internados com diagnóstico confirmado de covid-19 se mantém sob controle e aponta a retomada de procedimentos eletivos e uma maior pressão do Interior como razões para o salto na demanda pelos leitos de alta complexidade.
Duas semanas atrás, quando GaúchaZH realizou o levantamento anterior mais recente, havia 55 casos suspeitos ou confirmados. Até as 14h desta quarta, o número estava em 76 — com 43 testes positivos e 33 sob análise. Levando-se em conta apenas os diagnósticos já confirmados, a elevação nessas duas semanas ficou em 13%. O aumento das suspeitas pode estar relacionado a uma maior incidência de síndromes respiratórias em geral pela proximidade do inverno.
— O número de casos confirmados, por enquanto, segue estável. Considerando essa estabilidade, os hospitais foram sendo liberados para procedimentos eletivos, como cirurgias cardíacas, que demandam pós-operatório em UTI e aumenta a ocupação geral — argumenta o diretor de Atenção Hospitalar da SMS, João Marcelo Lopes Fonseca.
Os procedimentos eletivos foram reiniciados na Capital no final de abril, após uma orientação emitida pela Secretaria Estadual da Saúde no dia 23 autorizando a retomada. Fonseca afirma que o cenário das UTIs está sendo monitorado diariamente pela secretaria e pelo gabinete do prefeito Nelson Marchezan, e novas restrições poderão ser adotadas caso o avanço da pandemia se intensifique.
Embora a situação nas salas de tratamento intensivo seja considerada sob controle, a situação já foi melhor na Capital. A partir da segunda semana de abril, os pacientes com coronavírus passaram a apresentar uma tendência de estabilidade e até de queda nos hospitais — havia 43 internados com exame positivo em 10 de abril, e apenas 28 no final do mês. Agora, faz cinco dias em que o contingente de contaminados se mantém acima do patamar de 40 casos no município.
É a primeira vez que isso ocorre desde o começo da pandemia, de acordo com os registros do Boletim Epidemiológico municipal. Essa variação é posterior a medidas tomadas desde o final de abril que flexibilizaram o distanciamento social, como a retomada da construção civil e a reabertura de pequenos comércios de rua.
O Hospital de Clínicas é a instituição que concentrava a maior parte de casos até o começo da tarde de quarta, com 16 confirmações, seguido por Ernesto Dornelles (12) e Conceição (oito). A ocupação não é maior nas UTIs porque, ao longo das últimas semanas, a oferta de leitos também vem aumentando. As vagas disponíveis contabilizadas pela prefeitura passaram de 525 no começo de março para 614 neste momento.
Aumenta pressão do Interior por leitos do SUS na Capital
Parte do aumento na ocupação das UTIs em Porto Alegre tem explicação fora dos limites da cidade. A demanda de pacientes de outros municípios — com ou sem covid-19 — por vagas do SUS na Capital registra uma tendência de crescimento nas últimas semanas.
O diretor geral de Regulação da SMS, Jorge Osório, revela que, até o começo da tarde de quarta-feira, 52,4% de todos os doentes nos leitos de terapia intensiva na rede pública eram provenientes de outras cidades, contra 47,6% de moradores da Capital.
Quando se analisam somente os internados com coronavírus, essa distorção se torna ainda maior. Nas chamadas “UTIs covid”, localizadas nos hospitais de Clínicas e Conceição, a proporção de pessoas de Porto Alegre cai para 35,6%, contra quase 65% de habitantes de outros lugares.
Habitualmente, levando-se em conta a ocupação de todas as UTIs disponibilizadas pelo SUS, o percentual ocupado por pacientes da Capital costumava ficar entre 50% e 55%. Sob a pandemia, essa balança se inverteu e passou a pesar mais para o Interior.
— Estamos em alerta permanente, e lembramos que essa ocupação reflete também outras demandas (não covid), e que as UTIs de Porto Alegre, por ser polo de referência, sempre tiveram uma taxa de ocupação elevada — analisa Osório.