A prefeitura de Porto Alegre acompanhará com cautela a flexibilização de atividades econômicas na cidade em meio à pandemia do coronavírus. Após a publicação do decreto que libera shoppings, bares e restaurante, entre outros serviços (veja a lista abaixo), o prefeito Nelson Marchezan afirmou que, se a situação sair do controle, haverá volta de restrições.
— Se o vírus vai continuar entre nós, e é nessa tese que a gente acredita, não podemos segurar isso (as restrições) ad eternum, porque aí teremos outros reflexos para a economia. O que a gente entende é que precisamos que haja uma movimentação maior (de pessoas). Se essa movimentação maior em Porto Alegre gerar um aumento acelerado da ocupação dos leitos da UTI, nós teremos que retroagir na liberação das atividades — afirmou, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade desta quarta-feira (20).
Apesar disso, a prefeitura espera que o número de leitos ocupados em UTIs da Capital aumente nos próximos dias, por conta do deslocamento de pessoas, que ficará mais intenso — o efeito é desejado, de forma controlada, para que, aos poucos, a população seja imunizada. O que vai acender o "alerta" é a curva dessa ocupação dos leitos:
— Não podemos continuar com apenas 44 leitos ocupados se queremos ampliar um pouco a contaminação do vírus para que se comece a fazer o tal do (efeito de) rebanho. Assim, pessoas que já estão contaminadas não se contaminam mais e não repassam o vírus. (...) Se esse número subir, acende o sinal amarelo. Mas ele deve subir (...) Se aumentar rápido demais, a curva de progressão vai dizer em quanto tempo teremos todos leitos disponíveis ocupados.
O Executivo se apoia em evidências científicas para usar a ocupação hospitalar como referência para as medidas tomadas. Marchezan explica que outros índices, como o número de óbitos ou de casos confirmados, não podem ser utilizados para a tomada de decisões.
— O número de óbitos se refere, em tese, a 15 a 20 dias depois da contaminação. Todas as decisões tomadas hoje em virtude dos óbitos estão atrasadas. As decisões tomadas em função do número de casos são mal fundamentadas, porque representam a capacidade de testagem da cidade, que hoje estamos ampliando, mas no geral é muito baixa — admitiu.
Atualmente, com o apoio de laboratórios privados, Porto Alegre tem capacidade para realizar até 580 testes por dia. Assim, a orientação é de que todas as pessoas que apresentem sintomas de coronavírus sejam testadas. O que a prefeitura não consegue fazer, ainda, é o rastreamento do perfil de casos:
— A gente busca fazer rastreamento, buscar estatística, como origem por bairros e idade. Mas, efetivamente, não há estrutura hoje, nem informações, para chegarmos a esse detalhamento.
Ouça a entrevista completa:
Liberação de bares
Um dos pontos que abre margem para diferentes interpretações no decreto é a liberação do funcionamento de bares. Por decreto estadual, este tipo de estabelecimento não poderia funcionar em regiões que receberam bandeira laranja, caso de Porto Alegre.
Marchezan minimizou a divergência, afirmando que não quer polemizar “aquilo que não vai fazer diferença”:
— Os bares não existem no alvará de Porto Alegre. A pessoa tem autorização para um restaurante. (...) Os locais onde as pessoas sentam para comer e mantêm distanciamento de dois metros, com até 50% da capacidade de lotação do ambiente, com as devidas regras de higienização, podem funcionar.
A fiscalização será feita por fiscais de diferentes secretarias da prefeitura, inclusive agentes da Guarda Municipal. Os estabelecimentos que descumprirem as normas estão sujeitos a multa e interdição, além de perda do alvará.
Segundo Marchezan, a liberação feita nesta terça movimenta 15 mil empresas de pequeno porte, que, além dos funcionários, causam o deslocamento de outras pessoas, clientes e consumidores. O ensino, que segue sem aulas presenciais, colocaria nas ruas cerca de 300 mil.
Em relação ao aeroporto, a média era de 22 mil passageiros diários. Atualmente, é de cerca de 500, conforme o prefeito.
Movimentação na Orla
Questionado sobre pedidos para o fechamento da orla do Guaíba, Marchezan repetiu o que já vinha falando em outras entrevistas: o local deve continuar liberado, com acesso à Edvaldo Pereira Paiva aos domingos. Ele lembrou que a prefeitura repete formatos adotados em outros países, como a ampliação de calçadas e isolamento de ruas para que as pessoas possam se deslocar e fazer atividades físicas, mantendo o distanciamento.
— Existem algumas pessoas que não respeitam o isolamento e o distanciamento físico. Se essa pessoa sai da Orla e vai na Edvaldo, faz uma roda, troca chimarrão e contatos físicos, ela não faz aquilo por estar na Orla. Faz aquilo porque é inconsequente e fará aquilo com os mesmos amigos na sua residência. Não acredito que a Orla seja um fator que leve as pessoas a terem atos inconsequentes ou insanos.
O que tem permissão para funcionar:
- Estabelecimentos comerciais e de serviços independente do enquadramento
- Mercado Público
- Shoppings, galerias e centros comerciais
- Restaurantes, bares, lancherias e similares
- Missas, cultos e similares
- Serviços sociais autônomos
- Entidades sindicais
- Museus e bibliotecas
- Clubes de tiro
- Atividades no sistema drive in
- Ensino individual
Quais proibições foram mantidas:
- Casas noturnas, pubs, boates e similares
- Teatros, centros culturais, cinemas e similares
- Clubes sociais e similares
- Quadras esportivas, exceto para esportes individuais
- Atividades de ensino, exceto aulas individuais.