Com resultados que podem variar de poucos minutos a alguns dias, os testes para detecção de coronavírus são armas importantes para identificar os doentes e também fazer uma análise populacional da pandemia. Mas muito além do tempo que precisam para revelar os resultados, os testes ainda têm variações de precisão e aplicação.
Odir Dellagostin, professor do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), classifica os testes de duas formas distintas: por detecção direta ou indireta. A direta é a PCR, usada pelo Laboratório Central do Estado (Lacen). Seguindo um processo maior e mais trabalhoso, a técnica se vale das amostras retiradas das cavidades nasal e de orofaringe para determinar a presença ou não do vírus.
— A partir de uma pequena quantidade de vírus, conseguimos amplificar e detectar o coronavírus. Não é uma técnica rápida, mas é padrão ouro — explica o docente.
Para realização desse teste, o material colhido do paciente é submetido, primeiro, à inativação, que garante a segurança para ser trabalhado em laboratório. Depois, há um processo de extração de RNA e transformação do RNA em DNA. Em seguida, esse DNA é submetido a uma amplificação. Se esse material conseguir ser amplificado, significa que o teste é positivo para covid-19.
Por avaliar a presença ou não do vírus no organismo, esse exame larga na frente dos chamados rápidos. Isso porque pode identificar o coronavírus a partir do terceiro ou quarto dia de infecção.
— PCR detecta logo no início e isola a pessoa. Os testes rápidos, em sua maioria, são de uma reação na qual a pessoa precisa estar infectada há, em média, sete a 10 dias. Do momento em que a pessoa é infectada até fazer o teste rápido, ela está transmitindo, essa é a grande diferença — pontua Ilma Brum da Silva, diretora do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Atualmente, em função do grande volume de material, o Lacen trabalha com um prazo que varia entre quatro e cinco dias para emitir os laudos da doença. O laboratório recebe amostras de pacientes internados em estado grave, das unidades sentinelas (unidades de saúde de regiões estratégicas do Estado) e também dos profissionais da saúde.
Testes rápidos
Anunciados no sábado (28) pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, os testes rápidos para detecção da covid-19 têm previsão de entrega à pasta nesta segunda-feira. O Ministério não informou a quantidade da primeira remessa. No entanto, na última terça-feira, anunciou que pretende ampliar para 22,9 milhões a oferta de exames para o coronavírus no país (entre rápidos e PCR). Até o momento, a Secretaria Estadual da Saúde não sabe informar o número, nem a data de recebimento deste material.
A grande diferença é que eles, ao contrário da PCR, não identificam o vírus, mas os anticorpos (imunoglobinas/Ig) produzidos para combatê-lo.
— Eles detectam as imunoglobinas, que são proteínas produzidas pelo organismo em resposta a um determinado ataque — descreve Ilma.
Por este motivo, são considerados testes "indiretos". As versões já aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são capazes de avaliar dois tipos de imunoglobinas, a IgM e a IgG. Como se tratam de anticorpos, é preciso que a infecção esteja um pouco mais avançada para que os testes consigam capturá-la.
— IgM é a classe de anticorpos que começa a ser produzida em torno de cinco a sete dias após a infecção. O IgG começa a aparecer por volta do 10° dia e permanece elevado por semanas. Desta forma, esses testes conseguem um resultado positivo a partir do sétimo dia de infecção. Em alguns casos, só a partir do 10° dia — explica Dellagostin.
Com funcionamento parecido com os testes de gravidez, esses exames acusam a presença de anticorpos contra proteínas do vírus. Embora menos sensível que a PCR e capaz de gerar falsos negativos, esse tipo de exame é muito útil para uma análise populacional, destaca o docente da UFPel.
— Precisamos ter uma leitura de qual é o grau de infecção da população em geral, pois muitas pessoas não vão ter sintomas, mas terão anticorpos, o que significa que já foram infectadas. A partir desse conhecimento, podemos determinar o percentual da população que estaria imune. Provavelmente, seja esse teste que a gente precise usar para diminuir as restrições (sociais), afinal, saberíamos a quantidade de pessoas que estão teoricamente protegidas a partir da sinalização dos anticorpos.
Ainda mais rápido do que os modelos atuais, um teste anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, promete resultados positivos em cinco minutos e negativos em 13. Criado pelo laboratório Abbott, o exame, aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA, órgão americano equivalente à Anvisa), seria um intermediário entre o PCR e o rápido. Por meio da análise molecular, seria capaz de identificar em pouco tempo o vírus.
Conforme o laboratório, os equipamentos terão capacidade de emitir 50 mil testes por dia para o sistema de saúde norte-americano.
— Não deve ser barato e não sei como seria a produção em larga escala. Não dá para colocar a esperança nesse teste — avalia o professor da UFPel, acrescentando que, mesmo se for bem sucedida, a tecnologia não deve desembarcar tão cedo por aqui.