A possibilidade de um colapso de grandes dimensões da mina de sal-gema às margens da Lagoa Mundaú, em Maceió (AL), tornou-se uma preocupação que ultrapassa moradores e empreendedores de um dos cinco bairros diretamente ameaçados. Atinge até negócios em outros Estados, como o Rio Grande do Sul. Em redes sociais e grupos de WhatsApp, um documento assinado por cinco entidades e associações nacionais ligadas ao turismo circula pelo país, alertando os turistas sobre a situação e demonstrando o tamanho da aflição.
Intitulado "Guia de orientação para os turistas sobre o caso da mineração em Maceió" (leia mais abaixo), o material reforça que "turistas que chegam à cidade não correm risco algum durante sua estadia e passeio". A rede hoteleira de Alagoas ainda não computa dados de cancelamentos e evita um tom pessimista. Mas confirma que há um impacto.
— A ocupação para o Réveillon, hoje, está em 85%, com tendência de chegar a 90%. (Antes), o nosso Réveillon girou em torno de 90% a 95% de ocupação. Pode aumentar um pouco, dependendo do andamento (da situação da mina). Mas houve uma redução na procura porque as pessoas ficaram assustadas — diz Ricardo André Santos, presidente Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/Alagoas), uma das entidades signatárias do documento.
A ABIH/Alagoas representa 112 hotéis, pousada e resorts de Alagoas, somando 17,2 mil leitos. O setor do turismo no Estado ainda é responsável por 120 mil vagas de trabalho diretas e indiretas.
— O turismo é uma das principais atividades econômicas e sociais do Estado. Muitas dessas famílias que, provavelmente, perderam as suas casas trabalham no segmento. A gente precisa mais do que nunca fazer com que a economia continue girando — apela a superintendente do Maceió Convention & Visitors Bureau, Danielle Novis.
Cerca de 60 mil pessoas foram desalojadas dos bairros do Mutange, Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto e Farol. Pelo menos 14 mil imóveis foram desapropriados. O epicentro da crise, o bairro do Mutange, está localizado a sete quilômetros da orla de Maceió.
Impacto no RS
Com destinos como as praias de Maragogi, Japaratinga, Ponta Verde e Francês, o Estado de Alagoas é um dos preferidos dos gaúchos tanto na baixa quanto na alta temporada. Por aqui, as agências de turismo também não computam cancelamentos embora registrem mais busca por informações sobre a segurança de visitar Maceió. A Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV/RS) alerta que a crise na mineração não é aceita em eventual justificativa para reembolsos.
— Obviamente, sempre que tem situações em que as viagens oferecem insegurança, como aconteceu recentemente com Israel ou Rússia, o trade se solidariza e isenta de multas e de taxas de alterações. Mas não é o caso (de Maceió) — explica o presidente da ABAV/RS, João Augusto Machado, que representa 165 agências no Rio Grande do Sul.
Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul perdeu posições no ranking de Estados que mais enviam turistas a Maceió, estando hoje entre o sexto e o sétimo lugar, segundo a associação que representa a rede hoteleira nordestina. Na semana passada, representantes de algumas das associações de turismo de Alagoas estiveram no Rio Grande do Sul para estreitar parcerias.
— O gaúcho é um público muito querido por nós — resume Danielle Novis, superintendente do Maceió Convention & Visitors Bureau.
Trechos do "Guia de orientação para os turistas sobre o caso da mineração em Maceió"
Algum ponto turístico importante à beira da lagoa ou acesso à outras praias foi interditado?
Não. Um dos pontos turísticos mais visitados à beira da Lagoa Mundaú, o Pontal da Barra, está aberto à visitação. Também estão funcionando normalmente as rodovias e pontes de acesso sobre a Lagoa Mundaú (incluindo a Ponte Divaldo Suruagy, a mais importante via de acesso entre a capital e as praias do Litoral Sul como a do Francês, em Marechal Deodoro, e a da Barra de São Miguel e a Praia do Gunga). É importante também destacar que o problema não afeta a Lagoa Manguaba, com 42 quilômetros quadrados (quase o dobro da Mundaú), onde estão localizados outros pontos turísticos.
A orla marítima de Maceió foi afetada?
Não. Toda a orla urbana e turística de Maceió, que concentra a maioria dos hotéis da capital nos bairros de Ponta Verde, Pajuçara, Jatiúca, Cruz das Almas e Jacarecica, não foi afetada pelo problema da mineração. Assim como o Centro de Maceió e bairros históricos como o Jaraguá, reduto de bares e casas noturnas, onde também está localizado o porto e seu terminal turístico, que recebe os cruzeiros que chegam à capital.
Houve alguma alteração na programação do réveillon da capital ou de voos para Alagoas?
A programação segue sua programação sem alteração.