Imagine uma cidade com cenário futurista, tipo a Metrópolis filmada por Fritz Lang em 1927. Com prédios gigantescos em formato de pirâmide, de vela náutica, de cilindro, de meia-lua, de lâmina gigantesca que vai se estreitando sob um azul celeste. Esse lugar já existe: é Dubai, maravilha arquitetônica situada às margens do Golfo Pérsico — ou Golfo Arábico, como preferem os orgulhosos habitantes locais.
É como se paisagistas do mundo inteiro disputassem ali um concurso de residenciais mais mirabolantes ou icônicos. Muitos desses edifícios são dotados de praias particulares, restaurantes de vários tipos e para vários gostos, além de aquários com centenas de espécimes marinhas, uma constante no Oriente Médio. As diárias variam de centenas a milhares de dólares, mas é possível pagar cerca de R$ 1 mil para passar o dia num desses hotéis-palácios.
Capital de um dos sete Emirados Árabes Unidos — principados muçulmanos situados na Península Arábica —, Dubai é meca para os ricos e aspirantes a milionários do planeta inteiro. Trata-se de uma espécie de Veneza do Oriente Médio, repleta de canais de água doce e salgada, pelos quais é possível conhecer a cidade. As vias fluviais são congestionadas, e variam bastante os preços dos passeios, pois há desde antigos barcos de pesca transformados em veículo de turismo (com passagem a custo simbólico) até iates oceânicos.
Paris é outra cidade europeia referenciada em Dubai: grifes de moda como Chanel, Louis Vuitton, Dior, Saint-Laurent, Givenchy e Balenciaga (além das italianas Armani e Gucci) ganham generosos espaços nos muitos centros comerciais, e algumas até têm prédios próprios. Se sua paixão é por carros, nas avenidas de seis pistas da metrópole árabe há revendas da Ferrari, da Porsche, da Lamborghini e da Maserati, algumas lado a lado. Um desses automóveis pode estar roncando seu motor no trânsito, ao lado do seu táxi.
Dubai é sinônimo de superlativo. Lá, fica o prédio mais alto do mundo, o Burj Al Khalifa, com 160 andares (dos quais 125 podem ser visitados pelos turistas). Seria quase desnecessário dizer, mas a vista dali é inigualável, com destaque para as ilhas artificiais do Golfo Pérsico (onde se destaca o Burj Al Arab, tido como um hotel sete estrelas). Ao pé desse edifício, que alterna escritórios e residências, está aquele que dizem ser o segundo maior shopping do planeta, o Dubai Mall, com 1,2 mil lojas. Pode-se passar o dia ali, sem ver tudo. Perto dali, está a piscina com vista infinita situada no ponto mais alto já construído, no 77º andar do Address Beach Resort.
Aliás, para chegar a Dubai o brasileiro viaja no maior avião comercial do mundo: o Airbus A 380-800 da Emirates Airlines, com capacidade para mais de 570 passageiros. É uma aeronave com quatro motores e dois andares, um deles para a primeira classe e também a executiva, com direito a desfrute de champanhe francesa, caviar e cama (não um simples assento).
Mas, além da grandiosidade, a marca de Dubai é mesmo o futurismo. E não só no estilo arquitetônico. O primeiro-ministro (emir) do país, Mohammed bin Rashid Al Maktoum, é considerado um dos mais visionários do mundo árabe. Usa parte de sua fortuna para criar museus nos quais enaltece o passado e projeta o futuro do país. É o caso do Dubai Frame (em formato de quadro, como o nome indica) e o Museu do Futuro (em formato de anel metálico). Nesse último, além de ensaios holográficos sobre naves espaciais flutuando sobre o deserto (projetadas pelo próprio emir, falam lá), estão guardadas cópias de genes dos principais animais e vegetais da Terra. Em caso de extinção, estão ali para possível uso em clonagem.
Dromedários, falcões e bazares repletos de ouro
Dubai não é apenas uma megalópole futurista, mas também uma cidade conectada ao seu passado. Uma parte dela é entrecortada por medinas, cidadelas árabes típicas, amuralhadas e com vielas entrelaçadas. Por todo lugar é possível sentir o perfume de especiarias e o aroma de chás, vendidos nas ruas, a preços módicos. É o caso do incenso, do ouro e da mirra. Reza a Bíblia cristã que, quando Jesus nasceu, seus pais foram presenteados pelos Reis Magos com esses três valorizados produtos, vendidos no Oriente Médio desde a Antiguidade. Pois eles fazem a alegria dos turistas que vão aos Emirados Árabes Unidos. Basta comparecer aos souks (mercados), repletos de bazares.
Nas lojas, as vitrines com ornamentos dourados são tantas, que é até difícil acreditar que seja tudo ouro, ainda mais 22 quilates, como o anunciado pelos vendedores. Mas o governo disponibiliza até e-mail aos turistas para que reclamem, caso não estejam satisfeitos com a qualidade do produto ofertado. A promessa é de fechamento da loja e devolução do dinheiro ao comprador — e sabemos como a lei pode ser dura num país muçulmano.
Gosta dos prazeres da boa mesa? Dizem os emirati (o povo dos Emirados) que é possível comer por 12 anos em Dubai sem jamais repetir uma refeição. Cartazes anunciando restaurantes dos mais renomados chefs do mundo podem ser vistos nos quarteirões da cidade. Frutos do mar são uma especialidade regional, sobretudo grelhados. Pode-se escolhê-los ainda frescos. Entre os restaurantes brindados no Guia Michelin, estão o Milos (culinária grega, situado à beira-mar, no hotel Atlantis, The Royal), o 11 Woodfire (grelhados) e o Sal (cozinha mediterrânea, no hotel Burj Al Arab).
Para quem prefere a chamada comida de rua, uma boa pedida é contratar a Frying Pan Adventures, grupo de guias especializados em conduzir o turista por restaurantes populares de Dubai. Os quitutes são saboreados em meio a aulas de história sobre o Oriente Médio. Dá para degustar kebabs (churrasco grego ou turco), shawarmas (sanduíches com pão árabe), kibes e esfihas, além de maravilhosos doces com uma profusão de nozes e tâmaras, entre outros ingredientes. Tudo a preços similares aos do Brasil, acredite (assim como alguns hotéis, com diárias semelhantes às da serra gaúcha).
E não pense que a comida árabe é uma só. Existem diferenças sutis entre as cozinhas marroquina, libanesa, iraquiana, emirati e até judaica presentes em Dubai (sim, o emirado mantém relações com Israel). Mas algumas especialidades são comuns a todo o Oriente Médio, como o falafel (bolinho de grão de bico, frito), o pita (pão achatado) e as pastas de berinjela ou coalhada. Só não peça porco, cuja carne não é consumida na região.
Das cabras e das pérolas ao petróleo
Dubai nem sempre foi cosmopolita, sequer uma cidade. O emirado era um amontoado de casas em torno de um oásis quando foi fundado, em 1833, por um dos xeques da Península Arábica. As atividades principais eram o pastoreio de cabras e a pesca de pérolas (com mergulhadores que retiravam a preciosidade das ostras, no fundo do mar). Até meados do século 20 continuava assim, com habitantes circulando em dromedários, até que as multinacionais descobriram o tamanho da jazida de petróleo na região.
Isso mudou o destino. A indústria petrolífera tornou bilionários os emires, que trataram de beneficiar suas tribos. Os melhores empregos, públicos ou privados, estão hoje reservados aos nativos. O trabalho pesado é feito por migrantes, sobretudo do Extremo Oriente, como cingaleses, indonésios e filipinos.
Mas os dromedários ainda podem ser vistos pelas estradas dos emirados. E existem vários locais onde o turista pode conhecer os hábitos dos beduínos, os habitantes originais. Um deles é o Sonara Camp, um acampamento em pleno deserto. Ali, entre canapés e um idílico pôr do sol, o visitante pode passear de dromedário e deixar que um falcão pouse em sua mão enluvada (esta ave de rapina ainda é usada para caça, pelos emirati). Depois que anoitece, são oferecidos shows de dança do ventre, fogos, espadas e acrobacias, em meio a um banquete sensacional, com destaque para os assados. Há também passeios para os mais corajosos, como um recém-lançado pelo aventureiro britânico Bear Grills.
Como se vê, Dubai tem de tudo, menos tédio.
Cinco dicas para conhecer Dubai
- Dê preferência para visitar Dubai no inverno deles (de outubro a maio). A temperatura varia de 20ºC a 33ºC nessa época. No verão (de maio a setembro), o calor ultrapassa facilmente 45ºC
- As praias do Golfo Pérsico são de águas cristalinas e mornas. Turistas são os mais assíduos. Os emirati vão para a orla mais à noite, com mulheres vestidas com abayas (túnicas dos pés à cabeça), mesmo na hora do banho de mar
- A maioria dos lugares aceita dólares ou euros, mas tenha alguns dirham (moeda do emirado) para compras de rua. Cotação: R$ 1,30 para cada dirham
- A imensa maioria dos bares e restaurantes não vende bebida alcoólica. A exceção são alguns locais situados dentro de hotéis ou restaurantes de grife internacional
- A viagem de São Paulo a Dubai é direta, mas são 14 horas de voo. Importante caminhar um pouco dentro do avião, para cansar e conseguir dormir quando chegar nos Emirados, já que os pousos lá são perto da meia-noite
(*) O jornalista viajou a convite do Departamento de Economia e Turismo de Dubai