Disseminado pelo mundo na carona de passageiros internacionais, o coronavírus limitou a entrada de estrangeiros em muitos países e estabeleceu normas rigorosas para deslocamentos. Por isso, nestes tempos de pandemia, qualquer viagem requer um planejamento prévio e cuidadoso.
Médicos alertam que, com a covid-19 descontrolada no Brasil, ainda não é momento para turismo. Mas, em casos de roteiros considerados essenciais, alguns cuidados podem ser tomados para diminuir os riscos desde o local de origem até o destino final.
Três infectologistas consultados por GaúchaZH – Fabio Lopes Pedro, do Hospital Universitário de Santa Maria, Luciano Goldani, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, e Paulo Ernesto Gewehr Filho, do Hospital Moinhos de Vento – analisaram os atuais perigos de se pegar a estrada ou embarcar em um avião e deram dicas de como se prevenir.
— Existem viagens por motivos essenciais, e essas devem ser feitas. Nesses casos, dois aspectos são importantes: o meio de transporte tem de ser seguro, e, no destino, precisam ser respeitadas as medidas de segurança. Cumprindo esses dois pré-requisitos, não há impedimentos — resume Gewehr.
1) A necessidade
Embora brasileiros ainda enfrentem restrições de acesso à maioria dos destinos internacionais, incluindo a Europa e os Estados Unidos, deslocamentos nacionais estão autorizados pelas autoridades. No entanto, viagens pelo país, por ora, só devem acontecer em casos de absoluta necessidade.
— Viagem, agora? Apenas se estritamente necessário — diz Goldani. — Não é o momento adequado para lazer porque o visitante pode acabar se infectando ou até mesmo contaminar outras pessoas, contribuindo para que a pandemia siga em alta no país. É uma questão de responsabilidade social.
Para Lopes Pedro, cada caso tem de ser analisado individualmente. Deslocamentos para cuidar de familiares ou comparecer a compromissos profissionais inadiáveis não são condenados, desde que se elabore um plano de viagem com antecedência.
— Não há uma receita geral. É uma situação bastante particular de cada pessoa, que tem de avaliar a oferta de recursos de saúde e a possibilidade de retorno para casa. Por enquanto, ainda desaconselho viagens interestaduais, a menos que sejam percursos curtos e em um carro particular —afirma o médico.
2) A origem e o destino
Como a covid-19 também é transmitida por assintomáticos, um visitante que se sinta saudável pode contaminar pessoas com quem tiver contato durante seu percurso. Por isso, segundo Gewehr, há um risco duplo – o de carregar o vírus para o destino final e o de transportá-lo no retorno para casa.
— É uma mão de duas vias. À medida que temos locais onde a circulação do vírus está menor, podemos aumentar a velocidade da pandemia nesta área. Mas, se estamos em uma cidade com taxa de contágio menor e retornamos de um local com surto, podemos voltar trazendo o vírus. Neste momento, recomendo que as pessoas ainda evitem a circulação. Se não é essencial, a viagem deveria ser adida, porque sempre agrega risco — pontua Gewehr.
3) O meio de transporte
Atualmente, especialistas apontam o veículo particular como a maneira mais segura para deslocamentos, escapando do contato com outros passageiros em ônibus ou aviões. Mesmo de carro, o percurso requer cuidados, sobretudo em pedágios e paradas na estrada. Nestas situações, as pessoas devem colocar a máscara no rosto, usar álcool gel nas mãos e manter o distanciamento social.
— Ir para um aeroporto ou subir em um ônibus, para viagens mais demoradas, ainda não me parece prudente — diz Lopes Pedro.
Se recorrer a ônibus ou aviões for imprescindível, os passageiros devem utilizar máscara ao longo de todo o percurso e evitar se sentar ao lado de outras pessoas. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) publicou um guia, recomendando, também, check-ins pela internet. Consulte aqui.
4) A assistência à saúde
Também é necessário checar a cobertura do convênio ou a infraestrutura de saúde pública no local de destino. Infectologistas orientam que as pessoas só deixem sua cidade após se sentirem seguras sobre o atendimento médico adequado em caso de covid-19 ou outra doença – há municípios brasileiros que estão com seus sistemas sobrecarregados.
— Um plano de saúde sem abrangência nacional, do ponto de vista prático, pode tornar a assistência médica muito difícil. E, em caso de adoecimento em um local distante, ainda será complicado retornar para casa, tornando a viagem uma grande dor de cabeça — avalia Lopes Pedro.
5) As restrições
O viajante precisa estar bem informado sobre as restrições impostas pelas autoridades no local de destino – o bloqueio em fronteiras internacionais, por exemplo, ainda impera para os brasileiros. No território nacional, cidades seguem com atividades suspensas, como restaurantes, museus e shoppings.
Já nos municípios onde há liberações, visitantes devem se portar como se estivessem contaminados, tomando as devidas precauções, afirma Goldani:
— As pessoas têm de manter a blindagem com a máscara e o distanciamento social, procurando ambientes ventilados e usando o álcool gel. Independentemente do local onde se vá, mesmo se houver poucos casos, os cuidados, hoje, são universais, e a postura precisa ser sempre a mesma.
6) A hospedagem
Uma pesquisa nas regras e na disponibilidade de hotéis também deve ser empreendida, cuidando com mudanças de última hora que possam acontecer. No planejamento, visitantes ainda precisam avaliar se haverá recursos financeiros suficientes para permanecer na hospedagem por mais tempo do que o programado, em caso de contaminação.
— Neste aspecto, hóspedes em casas de familiares me parecem uma situação mais tranquila, porque poderiam se manter no local, isolados por mais tempo, se necessário — comenta Lopes Pedro.
No caso de hotéis, recomenda-se a preferência por estabelecimentos que incorporaram cuidados sanitários, como o cancelamento de bufês no café da manhã e a adoção de check-ins online.