Bruna Lombardi*
Finalmente conheci a Chapada dos Veadeiros – foi antes dos incêndios que atingiram o Parque Nacional situado no interior de Goiás, em setembro e em outubro. No coração do país, existe uma infinidade de montanhas, trilhas, pedras, saltos, cânions, matas, cachoeiras, rios, quedas d’agua com formações de piscinas naturais de água turquesa cristalina que fazem a beleza do Cerrado.
Patrimônio Mundial pela Unesco, a Chapada é o centro geológico mais antigo da América do Sul, com um armazenamento de uma extraordinária quantidade de cristais. Por essa abundância de quartzo e pela passagem do paralelo 14 S, a região ficou conhecida como um polo de forte concentração de energia e por isso atrai turistas do mundo inteiro.
A ocupação mística começou há várias décadas. Ao longo do tempo, muitos desses visitantes foram morar nas pequenas cidades próximas, como São Jorge e Alto Paraíso. Aos poucos, vieram muitas tribos, missões e seitas espirituais e foram se formando uma cultura e uma identidade local. A região passou a ser uma combinação entre a gente nativa do Cerrado, os goianos que lidam com a terra e fazendas e os que criaram suas raízes no misticismo. No meio da beleza natural de lugares como a Catarata dos Couros, a Cachoeira dos Segredos e o Poço da Esmeralda, existe a busca da espiritualidade em vários centros de meditação, templos e novas doutrinas que acreditam no uso da força cósmica dos cristais.
A convergência energética dessa enorme placa de cristal sob a superfície, o astral esotérico e o mistério natural do lugar, com suas noites escuras num céu repleto de estrelas, criaram todo um folclore. Lendas sobre constantes visitas extraterrestres transformaram o local.
Existem campos de pouso e estacionamentos para espaçonaves, além de oficinas que se dizem especializadas em discos voadores. Entre crenças e humor, foram abertos bares, lojas e pousadas temáticas.
Ali, naquela profundeza, tudo isso parece fazer sentido e a gente acha natural esses cenários surreais serem visitados por ETs.
Nossos extraterrestres escolheram bem. Os lugares têm uma força e uma beleza únicas, e quem andar pelo Vale da Lua – uma grande formação de pedras esculturais entre cachoeiras – vai mesmo ter uma sensação de estar fora do mundo.
*Atriz, escritora e ativista ambiental