A onda de cancelamento de voos da Avianca, que está convulsionando os aeroportos brasileiros, colocou uma noiva gaúcha em risco de perder o próprio casamento.
A operadora de caixa Gabriela Lopes Silveira, 19 anos, embarcaria na tarde desta quarta-feira (24) no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, mas seu voo acabou cancelado. O destino era Recife (PE), onde o noivo a espera para uma cerimônia à beira-mar marcada para as 9h de quinta-feira. Até o fim da manhã, ela não tinha perspectivas concretas de embarcar.
— Já estão em Recife, para o casamento, meus pais, primos, avô e avó. Só eu que não. Estamos organizando tudo há um ano. Alugamos o espaço para o casamento, contratamos festa, buffet, decoração, fotógrafo. Se eu não chegar a tempo, vou ter de cancelar tudo — lamentou.
Já estão em Recife, para o casamento, meus pais, primos, avô e avó. Só eu que não. Se eu não chegar a tempo, vou ter de cancelar tudo.
GABRIELA LOPES SILVEIRA
Noiva
Gabriela conheceu o noivo, o administrador pernambucano Felipe dos Santos, 26 anos, há dois anos. Ela estava no Recife até alguns dias atrás, mas voltou ao Estado para buscar seus pertences (vai se mudar para o Nordeste), incluindo o vestido e os sapatos que pretende usar na cerimônia de casamento.
Nesta quarta, chegou ao Salgado Filhos às 6h30min, embora seu voo fosse apenas as 14h55min, porque já estava receosa por causa das notícias sobre cancelamentos. Disseram-lhe que o caso dela não era prioritário e que devia comprar outra passagem, para posterior reembolso.
— Vou tentar. É preferir fazer isso do que ficar esperando — concluiu.
Transtornos no Salgado Filho
No saguão do Salgado Filho, junto à area de check-in da Avianca, onde passageiros tentavam uma solução para seus casos, os dramas se multiplicavam. A estudante de Farmácia Carolynne Alves, 19 anos, debruçava-se exausta sobre malas repletas de chocolates e vinhos comprados na Serra Gaúcha. Ela veio passar o feriadão de Páscoa em Gramado, com a mãe e a irmã, mas não estava conseguindo voltar para casa, em Arcoverde (PE).
O voo de volta seria na terça-feira (23) à tarde. Carolynne e a família chegaram ao Salgado Filho às 10h e receberam a informação de que, devido ao cancelamento, seriam realocadas em outra companhia, o que não aconteceu. Ficaram até as 22h no aeroporto, quando a Avianca levou-as para um hotel. Nesta quarta, foram trazidas de volta às 8h. Perto do meio-dia, continuavam sem uma definição.
— Está sendo a mesma coisa de ontem. A gente não aguenta mais esperar. É muito tempo. E estou perdendo aulas e provas — queixou-se a passageira.
O caso dos advogados Roberta Izolan, 33 anos, e Rodrigo Lima, 35 anos, era parecido. Moradores de Belo Horizonte (MG), eles vieram visitar parentes em Porto Alegre e não estavam conseguindo voltar para casa. Na terça-feira, foram pela manhã ao Salgado Filho, na esperança de embarcar, junto com a filha de quatro anos. Não houve voo, e eles retornaram para a casa dos parentes com a promessa de que seriam contatados. Isso não aconteceu. No fim do dia, retornaram ao aeroporto em busca de uma solução, que também não veio. Na manhã desta quarta-feira, estavam outra vez de plantão junto ao check-in.
— Tem gente comprando passagens por preços absurdos, por causa de compromissos. Nós, pelo menos, estamos conseguindo resolver as coisas de trabalho por aqui — disse Rodrigo.
Um dos casos que chamava mais atenção era o de uma família de Santa Maria, com 17 pessoas, que tinha viagem de férias em grupo para João Pessoa (PB). Eram o pai, a mãe, as cinco filhas, os cinco genros, mais netos e outros parentes. A viagem vinha sendo planejada desde o ano passado, e os integrantes do grupo, com dificuldade, conseguiram todos marcar férias no mesmo período.
— A ideia de juntar todo mundo era um sonho antigo — disse o pai, o empresário Jorge Brandão, 62 anos.
O grupo locou uma van e saiu de Santa Maria às 22h de terça-feira. Chegou ao aeroporto às 2h, com voo marcado para as 5h. O horário foi sendo mudado repetidas vezes, até redundar em cancelamento. A turma ocupava uma área de assentos no saguão e tentava negociar uma saída com funcionários da Avianca.
— No guichê, nos disseram que não existe mais a empresa, que não têm o que fazer — relatou uma das filhas, Luciane Brandão, 35 anos.
Até o final da manhã, toda a família foi realocada em voos da Gol programados para deixar Porto Alegre entre 19h30min e 20h30min. A Avianca resolveu a situação de 10 pessoas do grupo, e as outras sete foram auxiliadas pelo portal de milhas em que haviam comprado as passagens. Para aguardar com mais conforto, a família acabou se instalando em um hotel próximo do Salgado Filho, tudo pago do próprio bolso.
Posição da Avianca
GaúchaZH entrou em contato com o setor de comunicação da Avianca, para saber sobre os cancelamentos no Salgado Filho e sobre a assistência aos passageiros atendidos. A empresa respondeu por meio de um comunicado com informações gerais, sem entrar no caso específico. A nota afirma que a empresa "devido à redução da sua frota e visando minimizar o impacto na sua operação e aos seus passageiros" decidiu realizar cancelamentos pontuais. O comunicado inclui as seguintes orientações aos passageiros:
- Verifique o status do seu voo no site da companhia
- As consultas devem ser realizadas com até 72 horas de antecedência
- Caso seu voo não esteja na lista, fique tranquilo. Nenhuma ação é necessária e seu voo será mantido conforme o programado
- Caso seu voo esteja na lista e você tenha comprado as passagens via canais diretos da Avianca Brasil (site/app, call center ou lojas), a empresa entrará em contato para oferecer reembolso ou opções de reacomodação
- Caso seu voo esteja na lista e você tenha comprado as passagens via agências, sites de viagem, você deverá entrar em contato diretamente com essas empresas.