Um dos principais símbolos da preservação histórica, cultural e ambiental catarinense, a Ilha de São Francisco do Sul, no Litoral Norte, mantém memórias que remontam ao tempo dos primeiros desbravadores de Santa Catarina. Considerada a mais antiga e primeira capital do Estado, a cidade com pouco mais de 50 mil habitantes é guardiã de 515 anos de história, preservadas por meio de museus, igrejas, casario antigo em estilo colonial, tombado em 1987 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além de seus sambaquis, ruas e monumentos que atravessaram séculos.
Para ter a sensação de pisar no ponto de partida da história da cidade, quem deseja conhecer as riquezas históricas e naturais da região pode começar pelo Trapiche do Centro Histórico, onde, possivelmente, aportaram as primeiras embarcações.
O Centro Histórico, composto por cerca de 150 imóveis açorianos originais, pontos turísticos, bares, restaurantes e lojinhas de artesanato, faz com que quem reside ou mesmo visita a região tenha a sensação de transitar entre o presente e o passado. Em um único dia é possível conhecer, em detalhes, esse cenário localizado às margens da Baía da Babitonga.
Para chegar à cidade, é preciso ter paciência, em particular no último trecho da viagem. A BR-280, que conecta a BR-101 ao interior da ilha, é de pistas simples e está em obra de duplicação. Ao longo de aproximadamente 30 quilômetros, carros de turistas dividem o mesmo espaço com caminhões que chegam e partem do Porto de São Francisco do Sul. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), no verão é comum que o trânsito fique pesado da BR-280, inclusive com momentos de parada.
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Museu Nacional do Mar
Aberto ao público em 1993, o Museu Nacional do Mar funciona nas instalações da extinta empresa de navegação Cia. Hoepcke, em um prédio erguido há pelo menos 115 anos. Importante mantenedor da história e do patrimônio naval brasileiro, o espaço reúne cerca de 90 embarcações em tamanho natural e mais de cem em miniatura, artesanato e modelismo, dispostas em cerca de 7 mil metros quadrados.
Parada obrigatória para turistas e amantes dos assuntos do mar que visitam o município, o museu recebe, em média, 40 mil pessoas por ano e pode ser considerado uma salvaguarda do patrimônio naval brasileiro.
Entre as peças de maior destaque, está a embarcação I.A.T, do navegador Amyr Klink, utilizada na expedição pioneira em que ele atravessou a remo o Oceano Atlântico, na década de 1980. Há, ainda, jangadas de paus nordestinas, além da canoa de tolda Lu Lhia, do Rio São Francisco, que foi uma importante embarcação para o desenvolvimento econômico do Nordeste.
Mercado Municipal
Ao lado do trapiche e rodeado por um deck construído em 2006, está o Mercado Municipal. O casarão faz parte do acervo tombado pelo Iphan e foi inaugurado em 1900. A estrutura passou por restauração há cerca de 10 anos, por meio do Programa Monumenta, e hoje abriga mercearia, peixaria, loja de artesanato, lanchonete, barbearia e uma sala que os frequentadores mais antigos usam para jogar dominó.
O prédio tem um memorial do Carnaval, e o local serve de palco para apresentações musicais e folclóricas. A Associação Francisquense de Artes e Artesanato (AFAA), há 20 anos sediada no espaço, é uma das opções para o turista que pretende levar lembranças simbólicas feitas por um grupo de 30 artesãos locais.
– São trabalhos feitos à mão, em conchas, madeira, crochê e diversos materiais que chamam a atenção dos visitantes. O que mais vende são lembrancinhas relacionadas a São Chico – afirma a artesã Marinês Zomer (foto à esquerda).
Entre os estabelecimentos mais antigos do mercado também estão a peixaria Genecy Macedo, a barbearia do Nelson e a Lanchonete do Macuco.
Museu de Arte Sacra
Situado aos fundos da Igreja Nossa Senhora da Graça, o Museu Diocesano de Arte Sacra Padre Antônio de Nóbrega conta com acervo de aproximadamente 800 peças. De acordo com o diretor de patrimônio, Carlos Lima, o espaço tem, por exemplo, um simbólico resguardo das madeiras de pau a pique da antiga igrejinha, deixada como comprovação da promessa cumprida pelos espanhóis.
O espaço mantém em seu interior o sepulcro de Antônio, padre na paróquia entre 1867 e 1915, e o primeiro altar da igreja, de 1665. Também tem joias e coroas em ouro, que eram doadas por nobres em homenagem à Nossa Senhora da Graça, e crucifixos em madeira e marfim. Estátuas sacras de roca, partituras em prata escritas em latim, matracas e relicários completam o rol.
Igreja Matriz Nossa Senhora da Graça
Um dos cartões-postais mais antigos e cheios de histórias do “centrinho” é a igreja, que mantém no topo do altar a imagem original de Nossa Senhora da Graça, trazida a São Francisco do Sul em 1553 de forma inesperada.
O bergantim espanhol La Concepción, que se dirigia à região do Rio da Prata, foi surpreendido em alto mar por uma forte tempestade que ameaçava a segurança de quem estava a bordo. No auge do desespero, os tripulantes se ajoelharam perante a imagem e prometeram que, se saíssem vivos, iriam construir, na primeira terra firme que encontrassem, uma capela dedicada à santa.
O temporal passou, e, dias depois, o grupo aportou em São Francisco, onde a promessa foi cumprida. A imagem tem pelo menos 530 anos e ficou dentro daquela pequena capelinha até 1665, quando a primeira igreja catarinense foi inaugurada no local. Em 1699, teve início a construção nos moldes aproximados ao que existe no terreno hoje (só em 1957 ganhou a segunda torre). Atualmente, a Matriz passa por restauro.
Passeio de escuna
Dois barcos com temática pirata, cada um com capacidade para cerca de 180 pessoas, fazem diariamente, durante a temporada, um passeio por 14 ilhas que rodeiam a de São Francisco: o Capitão Vô Preto e o Holandês Voador.
O trajeto dura de três a quatro horas e sai do Trapiche do Centro Histórico, passando pelos portos de São Francisco e Itapoá, Museu do Mar, Canal dos Golfinhos – onde é possível avistá-los – e tem parada para almoço na Vila da Glória e para banho na Ilha das Flores. Há coletes e itens de segurança para crianças, e ainda é possível conhecer as histórias e as lendas relacionadas à baía.
Para Matar a Fome
A culinária açoriana está presente nos bares, lanchonetes e restaurantes espalhados pela beira-mar e pelas vielas que ligam cada um dos edifícios tombados pelo Patrimônio Histórico. No Restaurante Portela, fundado há 30 anos na marina do Centro Histórico, o destaque é o prato Camarão Imperial, composto por camarão à milanesa, linguado e salmão grelhados, arroz à grega, fritas, banana à milanesa, frutas, salada e molhos especiais. A iguaria serve de três a quatro pessoas. Também há opções de carnes e massas.