Dos planos iniciais, em 1969, até o lançamento oficial do Columbia, primeiro ônibus espacial dos Estados Unidos, em 1981, foram muitos anos de planejamento, estudos e testes. Todos os passos, desde os primeiros esboços do gigante, são compilados em alguns minutos no vídeo que dá as boas-vindas aos visitantes do espaço Space Shuttle Atlantis, no Kennedy Space Center Visitor Complex – centro de visitantes da Nasa (a agência espacial americana), localizado na Flórida (EUA).
Antes de ingressar na sala onde a projeção é feita, já dá para sentir o gostinho do que está por vir: na frente do prédio, está posicionada uma réplica do tanque de combustível e dos propulsores que alçaram o Atlantis. Os tubos brancos e laranjas podem ser vistos à distância, desde a rodovia que leva ao centro. Além dos objetos de proporções gigantescas logo na entrada, o visitante é convidado a entrar no clima, ou em órbita, antes mesmo do filme: na porta do salão, um relógio faz a contagem regressiva do tempo que falta para a próxima sessão.
Depois do breve resgate histórico, os turistas são levados a uma viagem pelo espaço dentro de uma sala escura com teto arredondado que se cobre de imagens de estrelas, cometas e naves espaciais. O auge da visita, de emocionar qualquer vivente, fica para o fim, quando o ambiente repleto de astros começa a transparecer o que espera os visitantes alguns passos à frente. As estrelas começam a minguar e uma porta se abre, revelando a grande atração: o próprio Atlantis, aposentado em 2011 depois de cumprir mais de 30 missões. É de arrepiar até mesmo quem nunca sonhou em ser astronauta na infância, o que é meu caso.
A recepção de pompa abre as portas para uma grande viagem pelo universo espacial, com direito a simulador de lançamento, monitores interativos que mostram os mínimos detalhes do Atlantis, réplica do telescópio Hubble e ambientes que demonstram como é a vida no espaço – como os astronautas comem, dormem e vão ao banheiro? Também conta com brinquedos que fazem qualquer adulto voltar à infância, como um túnel que imita a Estação Espacial Internacional por dentro e dois escorregadores que representam a área chamada de “deorbit burn”, que é quando o veículo reingressa à atmosfera da Terra.
Esse é só um aperitivo de toda a exploração possível dentro do parque de 17 hectares. Nesta edição, confira algumas das opções para curtir este interessante passeio pela história da exploração espacial.
Sobre o centro
Aberto oficialmente como um centro permanente para visitantes em 1967, o Kennedy Space Center Visitor Complex fica a cerca de 45 minutos de Orlando, em uma área de 17 hectares. Com estrutura completa, o espaço conta com restaurantes, lanchonetes e cafeterias. É por lá que também que está a maior loja da Nasa do mundo, que vende desde chaveiros até o divertido sorvete de astronauta. Os ingressos para orbitar por lá variam de US$ 47 a US$ 57 (mais impostos).
Encontro com o Atlantis
Deixe todos os seus pertences em um dos centenas de armários na chegada da atração para entrar em órbita sem nenhum percalço. Suba a rampa e atente para as instruções do veterano Charles Bolden, que, em um vídeo de poucos minutos, apresenta a “missão”. Depois de pousar sobre o ponto vermelho do chão, que indica o local onde cada visitante deve se posicionar na fila, abrem-se as portas do ônibus espacial fictício. Cintos de segurança afivelados? Que comece o lançamento.
No Shuttle Launch Experience, que fica dentro do Space Shuttle Atlantis, o visitante é convidado a sentir na pele a sensação que um astronauta tem de dentro de um ônibus espacial sendo lançado. O simulador se vira, deixando o público em um ângulo de 90 graus, e começa a tremer. Logo à frente dos participantes, uma tela mostra a contagem regressiva para a chegada ao espaço, até o regresso à Terra, concomitantemente com o retorno dos bancos à posição original.
De volta para casa
Como o ônibus espacial retorna à atmosfera da Terra? Primeiro, a velocidade é reduzida, reduzida, reduzida, até que a nave passa a funcionar como um avião. O frio na barriga na volta para casa é representado por dois escorregadores gigantes, que chamam os visitantes para si.
Como se faz xixi no espaço?
Tudo bem que isso nunca tinha passado pela minha cabeça até o dia que visitei o Kennedy Space Center. Mas, ao entrar lá, já veio a dúvida: como é que os astronautas vão ao banheiro? Bom, a dúvida mais comum da maioria dos terráqueos pode ser respondida com uma simples caminhada pelo primeiro piso do Space Shuttle Atlantis, que reproduz os banheiros espaciais e ainda mostra como os astronautas fazem outras atividades rotineiras como dormir e comer.
Almoce com um astronauta
O bufê de saladas, pratos quentes e sobremesas – que incluem desde cookies até mousses de vários sabores – não é a atração desse almoço, mas sim o bate-papo, bem de perto, com um astronauta da Nasa sobre o dia a dia em órbita. Durante a projeção de imagens em dois telões, Wendy Lawrence, que foi quatro vezes ao espaço, dividiu com um salão cheio de adultos e, principalmente, crianças, um pouco daquilo que acontece fora da Terra. Depois da apresentação, ainda dá para fazer perguntas ao palestrante.
– No espaço, gosto de fazer coisas que só posso fazer lá – respondeu ao pequeno espectador que perguntou como ela se entretinha no além-céu.
O almoço é uma opção à parte da visita ao Kennedy Space Center. Para participar de um dos encontros – o calendário de astronautas muda mensalmente –, é preciso pagar US$ 29,99 (12 anos ou mais) ou US$ 15,99 (crianças de três a 11 anos).
Tour de ônibus
O passeio de 45 minutos a bordo do ônibus do Kennedy Space Center, incluído no valor do ingresso de entrada no parque, faz um tour por duas plataformas de lançamento – ou seja, de onde as missões partem rumo ao espaço –, apresenta os prédios dos parceiros da Nasa (SpaceX, Boeing e United Launch Alliance) e ainda mostra vídeos que remontam a trajetória da agência. O veículo climatizado – superindicado para suportar o calor da Flórida – tem seu fim da linha no Apollo/ Saturn V Center, local dedicado às aventuras do homem na Lua.
Em outra versão do passeio, além dos portões da área principal do Kennedy, é possível circular pela área externa do parque a bordo de um ônibus que para em determinados pontos, onde dá para fazer fotos. Esse tour leva duas horas e custa US$ 25 para maiores de 12 anos.
Viajante espacial por um dia
Atração in-crí-vel, mas limitada a grupos maiores e de crianças entre 10 e 17 anos, propõe aos participantes um treinamento para alcançar a conquista espacial tão desejada: Marte. A ideia do Astronaut Training Experience (ATX) é implantar uma base no Planeta Vermelho. Para isso, há simuladores de chegada no planeta desconhecido, óculos de realidade virtual que simulam uma caminhada no ambiente marciano, além de cadeiras que imitam a microgravidade. Paga à parte (com preços que variam de US$ 30 a US$ 175), a atração requer inglês fluente.
O futuro é agora
Se a Lua não é mais limite, quais os próximos passos rumo ao futuro? Essa questão é respondida no espaço Nasa Now, que mostra um pouco dos projetos atuais da agência, inclusive o de levar terráqueos comuns para uma voltinha pelo espaço. Fora isso, claro, a menina dos olhos de todo interessado no tema: Marte. No espaço dedicado ao Planeta Vermelho, dá para conhecer um pouco mais dos planos para visitá-lo e especular se estamos ou não sozinhos nesse mundão.
Lendas e heróis
Esqueça o clichê de mãos, pés ou qualquer outra parte de corpo eternizadas em um bloco de cimento. Também não espere só uma exposição de quadros enfileirados – ok, há um pouco disso também. O Heroes & Legends, a “calçada da fama” dos astronautas norte-americanos, é muito mais do que isso.
A começar pela introdução dada aos visitantes antes de ingressar no teatro onde uma apresentação 4D é feita: na sala redonda, projeções mostram visitantes e astronautas da Nasa contando quem são seus heróis – em um dos trechos, o brasileiro Marcos Pontes dá a sua dose de estímulo: “Você consegue ser o que quiser na vida, desde que estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você”.
Dado o recado, o público é encaminhado para a área da projeção, que relembra os americanos pioneiros no espaço. Nada comum, o vídeo 4D coloca os visitantes a bordo de uma nave espacial pronta para invadir o céu – pelo menos essa é a sensação. A experiência é única.
Depois dessa imersão, o público é encaminhado para um ambiente onde, enfim, estão as imagens dos grandes heróis da Nasa. A recepção do Hall da Fama fica por conta de uma estátua enorme de Alan Shepard, o primeiro norte-americano a ir para o espaço.
A conquista da Lua
Passados mais de 56 anos do discurso que acirrou a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, a famosa frase do presidente norte-americano John F. Kennedy segue ecoando pelos corredores do Apollo/Saturn V Center: “Nós escolhemos ir à Lua”. Nessa área dedicada ao projeto que levou o homem ao satélite em 1969, é possível conhecer detalhes da empreitada bilionária que até hoje é considerada um dos grandes feitos da humanidade.
O ponto alto da atração é a experiência de participar de uma simulação do lançamento do foguete Saturno V com a Apollo 8, primeira nave tripulada que orbitou o satélite da Terra. Sentados em uma espécie de arena, os visitantes ficam frente a frente com alguns dos consoles reais que foram utilizados e acompanham a contagem regressiva. Detalhes como a tremedeira do chão e dos assentos e o som alto do foguete dão o toque de realidade. Depois da experiência única, dá-se de cara com uma versão restaurada do foguete suspensa sob as cabeças dos visitantes, toda dividida em módulos.
Curiosos e apaixonados por temas espaciais também devem conhecer as exposições dessa área: galeria de tesouros do Apollo, que inclui a roupa usada por Alan Shepard, primeiro americano a ir para o espaço, artigos originais das missões e protótipos das vestimentas usadas.
Lançamentos
Além de todas as legalzices do parque, pode-se avistar, de lá, o lançamento de espaçonaves. São quatro pontos para assistir, três pagos à parte e um incluído no valor do ingresso de admissão geral do complexo. Os valores variam de US$ 20 a US$ 49. Interessou? Confira o calendário de lançamentos neste site.
*A repórter viajou a convite do Kennedy Space Center e do Visit Central Florida