São Francisco de Assis, na Fronteira Oeste, é conhecida como “a querência dos bugios” – algo muito apropriado para a cidade que leva o nome do santo protetor dos animais. Por lá, esses macacos reinam, sendo encontrados em abundância. Tanto que inspiraram o ritmo musical gaúcho conhecido como bugio, criado nos anos 1920 em São Chico – como o município é carinhosamente chamado pelos moradores.
Para se largar para essas bandas, são 440 quilômetros de viagem a partir de Porto Alegre, em quase seis horas de carro. Para a nossa equipe, que saiu de Santa Maria, são cerca de duas horas de trajeto. É preciso ficar atento às condições das rodovias, pois muitos trechos apresentam desníveis e alterações na pista.
Trinta quilômetros antes de chegar à cidade, dois cerros nos dão boas-vindas. À direita, o Cerro do Loretto, e, à esquerda, o Cerro Seio de Moça. Às margens da RS-241, seguimos 11 quilômetros por uma estrada de chão até a Reserva Nativa do Seu Salvador. Na entrada, uma prévia do que encontraríamos por lá: sucos feitos com três das 400 espécies de frutas produzidas na propriedade. São cinco hectares de plantas de praticamente todos os países. Conhecer esse lugar é uma rica experiência de contato com a natureza. A visita é gratuita, mas deve-se agendar pelo telefone (55) 99938-5353.
Depois, voltamos para a RS-241 e seguimos em direção a São Chico. Pertinho da cidade, encontramos a Gruta São Tomé, único vestígio de uma redução jesuítica que havia por ali.
– Ela foi criada em 1632 pelo padre Mendonça de Orelhano. Devido ao ataque das bandeiras paulistas, essa redução desceu o Rio Ibicuí e subiu o Rio Uruguai, dando origem à atual São Tomé, que fica em frente a São Borja – relata o pesquisador da história e cultura local Jadir Anchieta.
Atualmente, esse é um ponto de muita religiosidade e devoção, principalmente a São Tomé. Dá para ver pelo número de placas de agradecimentos por graças alcançadas. Além disso, há uma fonte de água que, acredita-se, teria poder medicinal e curativo.
Palco da revolução de 1923, entre governistas e revolucionários, São Chico abriga muitas outras histórias, que podem ser conferidas de graça no Museu Municipal Cônego Hugo.
– Algumas peças têm em torno de mil anos e foram encontradas em alguns sítios arqueológicos da nossa região – conta a coordenadora Fabiana Mazuco.
Na praça onde fica o museu, há uma estátua de São Francisco de Assis. Foi lá que iniciamos nossa busca pelos bugios. Encontrei três deles em cima da árvore nos olhando. Perto dali, na Praça Independência, avistamos mais alguns. Os macacos vivem soltos pelas árvores, são praticamente amigos dos moradores.
– Aqui, tem muitos bugios não só nas praças, mas nas casas, no interior, por tudo. Então, o ronco do bugio ecoa, ao anoitecer e ao amanhecer – diz a turismóloga Prescilla Saquetti.
Foi o ronco deles que inspirou o ritmo gaúcho chamado de bugio, que hoje embala bailes por todo o Estado.
– O ritmo é como a vaneira, de dois em dois, como a gente diz. Só que ele tem um puladinho no meio, imitando o bugio, como ele pula de galho em galho – explica Talles Alves Manganeli, 2º Piá Farroupilha do RS.
Praia na fronteira
Outra opção de passeio em São Francisco de Assis é o balneário Poço das Pedras, que fica na cidade. No verão, esse lugar enche de gente em busca de uma sombra ou mesmo das águas do Rio Inhacundá. O balneário é mantido pelo poder público, então as pessoas podem passar o dia ali de graça. Em um camping no local, é possível até assar churrasco.
Em São Chico, também tem praia de água doce. Fica no Rio Ibicuí, a 18 quilômetros da cidade por uma estrada de chão batido, no limite com Alegrete.
A entrada custa R$ 15 por carro, e o valor para ficar no camping varia de R$ 6 a R$ 50, conforme o tamanho da barraca. Para quem quer um pouco mais de conforto, há uma pousada com diárias a R$ 50 reais por pessoa.
Como o rio está mais cheio nessa época do ano, a areia fica encoberta – nada que tire o encanto do lugar. Por lá, a gente trocou o ronco do bugio pelo da lancha. O passeio pelo Ibicuí, que custa R$ 100, revela uma natureza preservada. Dá para fazer, inclusive, uma parada em uma ilha de areia branca.
#PartiuRS é uma série multimídia que mostra as belezas do Estado. Além do ZH Viagem, a série pode ser acompanhada aos sábados, no Jornal do Almoço, da RBS TV, no Supersábado, da Rádio Gaúcha, e em um site especial no G1. A coordenação é de Mariana Pessin (mariana.pessin@rbstv.com.br)