O ambientalista, biólogo e economista Richard Rasmussen, famoso pelas expedições e documentários, passa por um momento de transição em razão das novas mídias e aposta no turismo pode ser ferramenta para a manutenção das raízes culturais e da natureza. Rasmussen, 47 anos, esteve sábado em Porto Alegre para um bate-papo sobre sua vida e sua trajetória na Fox Mitsubishi. Pouco antes do evento, conversou com Zero Hora. Não se furtou nem mesmo de falar sobre o episódio em que foi acusado de ter pago a pescadores do Amazonas para abater uma fêmea grávida de boto rosa durante gravação, para forjar uma denúncia de abate daqueles animais (o programa foi ao ar no programa Fantástico em julho de 2014). O biólogo nega que tenha feito o pagamento e diz que sua intenção foi de alertar a população sobre a matança dos botos.
Leia a entrevista:
Como estão os seus planos e projetos?
Voltei da Costa Rica ontem (dia 30) à noite. Estamos terminando a atual temporada de Missão América, da Net Geo, que estreia em outubro. Em julho, estreia o Melhor da África, também pela Net Geo. Temos esses dois produtos, ambos na TV a cabo. Saí da TV aberta, porque a TV a cabo tomou conta, tem mais o DNA do que a gente faz. Agora, invisto muito na parte digital, no Youtube.
As redes sociais influencia como no seu trabalho?
Até o ano passado, nada. Sempre fui muito reticente às redes sociais e ao Youtube, porque o meu conteúdo é muito caro, e eu não entendia essa coisa de distribuí-lo de forma gratuita. Hoje, entendo de forma diferente. Nosso canal cresceu muito em um ano de investimentos, e hoje temos um núcleo importante lá dentro. A questão é que mudaram os moldes. O jovem de hoje não tem paciência, mudou muito. Estou há 14 anos na televisão, mas tem gente que não me conhece pela televisão, e sim pelo canal. Isso foi surpreendente para mim.
Você está tendo de reinventar seu jeito de trabalhar?
É, na verdade ainda estamos experimentando, porque não há uma fórmula. No Youtube você vai lançando e vendo o resultado. O bom é que o resultado é imediato, tenho ele na mão, não passa por todo um filtro. Na televisão, se passa um ano gravando para a National Geografic, por exemplo. Quando vai ao ar, já é um material tecnicamente velho. No Youtube, não. Estou trazendo o material da Costa Rica e vou pô-lo no ar na semana que vem. Então, a resposta é muito mais rápida. Estamos aprendendo como trabalhar com o Youtube.
O que mais tem lhe procurado em termos ambientais?
Ah, estamos consumindo o nosso planeta aos poucos. Voltei da Costa Rica e vi que lá eles põem em prática a conservação. Nosso país ainda engatinha nisso. Temos uma visão muito paternalista e estamos vendo a fauna se esvair. Temos poucos planos reais e efetivos sendo feitos. Não adianta você criar um parque nacional e deixá-lo lá largado. Parque é para as pessoas frequentarem. A gente tem o péssimo hábito de distanciar as pessoas da natureza. As pessoas são os fiscais da natureza. Têm de estar dentro dos parques, são eles que vão cuidar. É o que acontece na Costa Rica, onde o turismo está superevoluído. As pessoas que frequentam o parque têm consciência de como se deve frequentá-lo e são fiscalizadoras.
O turismo ajuda?
O turismo é uma ferramenta linda. Primeiro, porque ela mantém as bases culturais. Você viaja para ver algo diferente, né? Você não viaja para ver algo ou alguém igual a vocês. Isso faz com que as raízes sejam mantidas e com que as pessoas que moram nesses locais tenham alternativas de trabalho e renda voltadas para a conservação. Os caçadores viram guias, conhecem os animais, as plantas, tudo. Então, o turismo é ferramenta fundamental.
Como ficou a polêmica do boto rosa?
Na questão do boto, eu dei a cara a bater. Tiver a oportunidade de fazer algo diferente (o documentário), que mudou a lei do país. Infelizmente, nem todo mundo gosta de mim. Ainda bem que a maioria gosta. Lá fora (no Exterior), me chamam de herói. Aqui, fizeram uma reportagem, e eu entrei com uma ação, que agora estão respondendo, em especial quem não ouviu o outro lado. O filme está sendo aclamado lá fora e provavelmente seja o filme deste ano, e eu colaborei como filme. Ele põe o fator humano na balança do problema ambiental. Mas algumas pessoas são prejudicadas, sempre. O fato é que não sou um conservacionista de papelão, que sai na chuva e se desmancha. Não sou daquele que vai lá, diz "olha o bichinho, que bonitinho" e vai embora. Tenho várias ações, e essa se tornou algo muito grande porque mudou a legislação do país. A gente tem que sair da família.
Você percebe esse tipo de reação ao seu trabalho?
Percebo por causa das redes sociais. Se não fossem elas, eu nem perceberia. As pessoas não entendem a cadeia o elo da cadeia e sua importância, que, se você tira um elo, como é que fica o resto da corrente. Fazer pessoas olharem para si próprias e para o meio ambiente e entendam que são uma coisa só e se sentirem responsáveis é importante. É coração em primeiro lugar, depois é preciso pagar por um processo racional, e alguém precisa pagar a conta. Conservação custa, mas deve ser vista com outros olhos. Queremos que as pessoas observem isso. Na questão digital, que fui contra até o ano passado, hoje a gente tem 20 milhões de visualizações nas nossas redes sociais por mês. Isso é gigante. Então, estamos influenciando, todo mês, 20 milhões de pessoas. O trabalho que a gente faz é para que as pessoas sejam felizes, sejam bacanas, observem a natureza, curtam o seu planeta, curtam o dia a dia. O mundo está cheio de gente que odeia isto, odeia aquilo. É cansativo isso.