Por Luciano Ferreira, especial
Sempre fomos apaixonados por viajar, eu atrás de ondas, a Caína com seus mochilões. Pelas redes sociais, seguíamos viajantes que cruzavam continentes de carro ou van. Deveria ser possível.
Nascemos em Porto Alegre, onde, por anos, fui professor de inglês em cursinhos e colégios. Mudei-me para Floripa no final de 2008, onde trabalhei em uma multinacional até abrir uma imobiliária, em 2011. A Cá é arquiteta e saiu da sociedade na empresa que tinha quando foi morar comigo no final de 2014.
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O ano seguinte foi de novos projetos: ela criou sua marca de roupas femininas, e eu entrei de sócio em uma hamburgueria. No Carnaval de 2016, surgiu a oportunidade de vender a imobiliária. Foi o empurrão que precisávamos! A confecção ainda engatinhava, e a economia ia de mal a pior – a imobiliária mal se pagava.
Traçamos um plano: vender tudo, viajar para os Estados Unidos, comprar um carro e dirigir até a Patagônia. Vendemos carros, bicicletas, máquina de lavar, computadores, cafeteira… Convidamos amigos e liquidamos artigos pessoais em um garage sale – qualquer coisinha era vista como "dólar para a viagem". Vendi minha parte da hamburgueria e, assim, financiamos nosso projeto.
Em 3 de agosto, desembarcamos em Los Angeles. Começamos a busca de um carro para ser nossa casa nos próximos anos. Depois de muito procurar, achamos a Maria Gasolina. Uma Mitsubishi Montero 2002, com 138 mil milhas, segundo dono e todas as revisões feitas e registradas! Barganhamos e conseguimos comprá-la por US$ 4.350 – o mesmo carro no Brasil custaria mais do que o dobro. Motivo que nos levou a começar a viagem pelos EUA...
Compramos fogão, barraca, geladeira e tudo o que imaginamos ser necessário para nossa viagem e saímos a testar o equipamento: cruzamos os Estados de Nevada, Arizona, Utah e Califórnia.
Em 3 de janeiro, entramos no México. Já rodamos mais de 15 mil quilômetros, acampando em praias, montanhas, desertos e cidades. Tentamos viver com um orçamento de US$ 1 mil por mês. Nos EUA, foi impossível, mas no México, estamos próximos disso. Trouxemos uma malinha de roupas da COG (marca da Caína) para vender no caminho e criamos o porlacarretera.com.br para relatar nossas experiências e, quem sabe, fazer algum dinheiro. Nosso mote é: quanto menos gastarmos, mais ficaremos "por la carretera".
Nosso maior desafio tem sido organizar o carro e viver com pouca coisa. Criamos procedimentos para montar acampamento, fazer café e outras tarefas cotidianas. Uma aula de desapego e minimalismo! Mudamos prioridades e estamos vivendo de acordo com o relógio solar, valorizando coisas simples como banho quente ou sinal de internet. Já tivemos pneus furados (dois no mesmo dia!) e passamos alguns dias sem banheiro acampando numa praia deserta.
Aprendemos muito sobre nós mesmos em pouco mais de sete meses de viagem. Conhecemos lugares lindos, mas as pessoas que passaram em nosso caminho fizeram toda a diferença. É surpreendente o número de viajantes de van ou motorhome. E como é legal vê-los compartilhando não só experiências, mas também suas coisas.
Já ganhamos peixe fresco, vara de pescar, bolos, jantares de despedida e serviços de eletricista para plugar nossa geladeira do carro em uma tomada. Tudo com extrema solidariedade e sorriso no rosto. Acabamos entrando nessa corrente, oferecendo café, compartindo refeições, doando livros, ajudando da forma que nos é possível.
Não é simples se desprender e trocar o conforto do lar pelos perrengues de dias de chuva numa barraca, cozinhar no frio, sem paredes e teto e nem sempre banheiro próximo; mas cada novo local nos presenteia com realizações que não conheceríamos se não tivéssemos entrado nessa aventura.
Não sabemos o que faremos depois. Não temos mais 20 anos (eu, 43, e a Cá, 34) e, em algum momento, teremos de recomeçar. Mas, agora, queremos viver ao máximo essa experiência focando no presente e torcendo que, no nosso futuro, tenha um camping bacana com chuveiro e água quente!