Já havíamos assistido ao ritual em DVD, adaptado por um dançarino em um show de dança do ventre, e a ideia de assistir à cerimônia em sua essência nos deixou na expectativa. Aliás, não é uma dança, como muitos pensam. É a cerimônia do "Sema" , um ritual místico de ascensão espiritual que simboliza o amor divino, a exaltação e o caminho para chegar a Deus.
A ordem dos dervixes (ou mevledi) que rodopiam foi fundada pelo místico sufi Mevlâna Celaleddin Rumi, um dos mais importantes poetas e pensadores da história do misticismo turco-islâmico. E o Sema, essa fascinante cerimônia, vem se realizando desde a sua morte, em 1273. Rumi acreditava que a música e a dança seriam um meio de conduzir o homem a um estado de êxtase que o levaria a se libertar da dor da vida diária.
Ao rodopiar, os dervixes erguem a mão direita para cima e a mão esquerda para baixo. Esses gestos das mãos significam que os dervixes tomam de Deus e o oferecem diretamente aos seres humanos. A roupa também tem seus símbolos: a ampla saia branca simboliza a mortalha do ego, o chapéu cônico representa a lápide do ego.
A noite tão esperada, na Capadócia, foi reservada para assistir a esse surpreendente ritual, que é realizado em uma caverna subterrânea. As pessoas vão chegando e ocupando seus lugares em silêncio, não se ouve um cochicho. Em pouco tempo, entra o grupo que vai fazer o acompanhamento musical para a cerimônia. Em alguns, minutos chegam os dervixes para o começo da cerimônia, que é dividida em sete partes, cada uma com um significado. São aproximadamente 45 minutos de total concentração: o movimento típico dos pés, os giros, as saudações, a música envolvente. Naquele momento, é só o rodopio dos dervixes e a música inebriante pela improvisação do "Taksim" executado pela flauta "ney" (flauta de bambu). O som do instrumento "ney" expressa a nostalgia que sentia Mevlâna pelas terras de origem, onde cresciam os bambus.
*Funcionária pública federal