No verão passado do Hemisfério Norte, a Coreia do Sul começou a cantar em coro "Gangnam Style", de PSY, astro do K-pop, a música popular sul-coreana. Em outubro, meus sobrinhos de Maryland se juntaram ao coral. Meses atrás em Chongqing, China, vi mulheres se exercitando, repetindo a característica dança do cavalo numa praça pública. Em fevereiro, PSY se apresentou para milhares de pessoas no Carnaval brasileiro.
O sucesso totalmente global (o clipe atualmente é o mais visualizado do YouTube, com mais de 1,3 bilhão de exibições) transformou Gangnam, distrito de 39 quilômetros quadrados no sudeste de Seul, conhecido pelas boates noturnas, butiques caras e a onipresença das clínicas de cirurgia plástica, num novo destino magnético.
Eu costumo evitar esse tipo de lugar - uma questão de orçamento e preferência -, mas durante uma viagem recente à Coreia do Sul, não pude resistir ao desafio: seria possível passar três dias num distrito definido pela opulência sem estourar meu orçamento?
Não apenas foi possível, como mais fácil do que fingir montar um cavalo. E se você se der ao trabalho de desconstruir a canção, vai entender por que: este é um bairro abastado onde, pelo preço de uma xícara de café ou um batom, dá para passar a tarde bancando o rico. No vídeo, PSY tira sarro dos impostores vindos de bairros mais humildes. Porém, como eles também estão ali, os negócios reagiram. Sim, existem restaurantes caros e butiques refinadas inacessíveis às pessoas normais. Contudo, também temos diversas oportunidades para comer, beber, dançar e fazer compras gastando pouco. Podemos chamar de o estilo frugal de Gangnam.
Minha visita coincidiu com o Ano-Novo lunar, que os coreanos costumam passar com a família; o evento reduziu o público, mas deixou algumas atrações, como o Museu do Pulmuone Kimchi (prato típico coreano), fechado. ("E daí?", questionou Youngpo Hong, estudante e uma de minhas fontes locais. "Eu tenho um museu do kimchi na minha geladeira.") Porém, a maior parte de Gangnam ainda estava com as portas abertas, principalmente a área ao redor da estação de metrô que leva o nome do distrito, onde um labirinto de vielas, a maioria só para pedestres, apinhadas de gente e iluminadas por neon, abrigam restaurantes, bares e boates - empilhados verticalmente em cinco andares. O distrito de compras perto do rio Han também estava ativo, bem como um punhado de atrações culturais, incluindo o templo Bongeunsa (bongeunsa.org; entrada grátis), um tranquilo retiro budista numa encosta e o sossegado parque que abriga as tumbas da dinastia Joseon (ingresso: 1.000 wons, ou cerca de US$ 0,95 com o dólar a 1.055 wons).
Seria um feito chamar qualquer parte de Gangnam de "hipster" - um perímetro invisível anti-hipster barra quem não siga a moda sofisticada predominante ao longo do rio em Hongdae -, mas o ponto mais quente do momento é Garosu-gil, rua de compras orlada de árvores nos arredores da estação do metrô Sinsa e abarrotada de cafés e butiques.
PSY faz diversas referências ao café na música, e não é de se estranhar: a quantidade de cafés em Garosu-gil e cercanias é surpreendente. Decidi começar minha exploração da área com uma pesquisa rápida. Embora o café seja geralmente bom, a maioria dos fregueses parece pouco se preocupar com o comércio justo ou a origem do produto; a questão aqui é ver e ser visto. O melhor exemplo disto em Garosu-gil é o Coffeesmith (coffeesmith.co.kr), um espaço de vários níveis, gigantesco e levemente mais bacana do que um Starbucks satisfatório, mas tão popular entre a galera de salto alto e bebendo ao estilo norte-americano que, mesmo com o público reduzido por causa do feriado, foi complicado conseguir uma mesa.
As opções de compras são divididas em lojas requintadas ao longo da avenida principal oferecendo marcas coreanas - boas para olhar sem compromisso - e as butiques pequenas que oferecem artigos mais originais. Uma loja falsamente rústica chamada Farmer (thefarmer.co.kr) estava cheia de acessórios feitos à mão para mulheres; protetores de orelha coloridos, chapéus e presilhas para cabelo, muitos por menos de dez mil wons, dominavam o gelado inverno de Seul. Um amigo, Eun Young Koh, contou que os coreanos assalariados costumam se livrar do estresse comprando um artigo pequeno, como um par de meias - eu recomendo esse exercício na cadeia coreana Aland, onde achei um par com listras azuis e vermelhas por 7.900 wons. (Eu reconheço ter sentido uma onda breve de dopamina após a compra.)
Foto: Seth Kugel/NYTNS
Esta é a notícia ruim para os compradores: Garosu-gil é adorada demais para seu próprio bem, e uma invasão global já começou. Durante minha viagem, uma loja de quatro andares da marca Hollister, do sul californiano, era a mais recente; dentro, encontrei multidões de 20 e poucos lemingues da moda conferindo as novidades enquanto os alto-falantes ribombavam a letra "ah, é tão clichê...". Justamente.
O consolo pode ser encontrado numa das opções baratas para comer em Gangnam. Praticamente toda refeição que comi custou menos de US$ 10. Existe uma variedade de "jajangmyeon" - locais com comida chinesa e coreana para viagem -, mas também pontos mais chiques, como Sawore Boribap, onde pechinchas podem estar escondidas em meio aos cardápios de luxo. Por exemplo, o boribap, à base de cevada, misturado com vegetais e pasta de pimentão, custa apenas 8.500 wons; já um haemul jeon, deliciosa panqueca de frutos do mar com mais frutos do mar do que panqueca, sai por sete mil wons. Como na maioria dos restaurantes coreanos, peça menos em vez de exagerar; os pequenos acompanhamentos, conhecidos coletivamente como banchan, grátis e à vontade, compensam tudo. (No Sawore Boribap, eles incluem ostras cruas bastante apimentadas; um ponto alto para mim.)
Em "Gangnam Style", PSY celebra as mulheres que podem beber café de dia e cair na farra à noite - e, de fato, a vida noturna é um aspecto fundamental da vida em Gangnam. Porém, como ela pode se mostrar cara, dois amigos sugeriram uma solução. Si Yeon Kim, nascido em Gangnam, me levou à Rainbow, local ao estilo coreano inspirado nos hippies onde grupos de quatro pessoas dividem tigelas de escorpião no valor de 28 mil wons e narguilés. O ambiente era bastante incomum, mas os preços continuam meio salgados.
Foto: Seth Kugel/NYTNS
Youngpo, um autoproclamado "agroboy", teve uma ideia melhor, me levando a alguns "armazéns de cerveja", locais que estão ganhando popularidade e resumem o ato de beber ao seu essencial. Os armazéns são praticamente sem serviço; no Cube, lugar simples com iluminação de neon suave e um vídeo projetado na parede, havia apenas o caixa e alguém limpando as mesas - você mesmo pega a cerveja (a partir de 3.500 wons) nas geladeiras.
Minha última noite pedia para cair na balada, mas nas boates mais famosas de Gangnam - por exemplo, Octagon e Eden - a entrada pode custar 30 mil wons ou mais e o cenário pode machucar o ego de quem tem mais de 30 anos. Tanto Rob quanto Youngpo concordaram: a solução era Bam-gwa Eu-mak Sa-I ("entre a noite e a música"), onde a entrada durante a semana fica na casa dos mais razoáveis dez mil wons. Localizado descendo as escadas numa das vielas da estação Gangnam, com encanamento à vista, piso molambento, chope a dois mil wons e "clássicas" infecciosas do K-pop da década de 1990 atraíam uma galera despretensiosa e divertida. Trocando em miúdos, justamente o lugar onde alguém cansado depois de dias simulando ser endinheirado pode se soltar - embora, de preferência, sem a dança do cavalinho.
Se você ficar
Poucas opções de hospedagem baratas existem no distrito Gangnam de Seul; aqui estão três partindo de vários preços.
Morning Guesthouse (terceiro andar, 829-13 Sinseong Building, Yeoksam-Dong). A seis quarteirões da estação Gangnam, quartos minúsculos no estilo de cápsulas combinam cama confortável e cubículo com banheiro e chuveiro num espaço tão pequeno que parece impossível. Fiz reservas pelo site booking.com e paguei 60 mil wons, cerca de US$ 57, por uma noite.
JA Gangnam (número 508, Sungwoo Village, 1307 Seocho 4-dong, Seocho-gu). Inaugurado há poucos meses, tem apenas dez camas e um anfitrião muito trabalhador chamado Hyunchung Kim. Este é um lugarzinho cheio de charme pessoal, bem no meio do movimento - embora praticamente impossível de achar. Fiz reserva pelo hostelbookers.com por 28 mil wons a noite.
Uma opção de hospedagem menos convencional, provavelmente mais adequada para uma única noite, é o Gold Spa (quarto andar, 143 Saimdang-ro, Seocho-gu), um jjimjilbang 24 horas, uma casa de banhos coreana. Entre à tardinha (deixe a bagagem num armário da vizinha estação Gangnam) e pague dez mil wons. Dá para passar a noite em quartos com beliches simples (esteiras e cobertores estão inclusos).