Em termos de monumentos, este parece insignificante e de mau gosto ao lado dos arranha-céus e das butiques luxuosas no abastado distrito de Gangnam. Mesmo assim, ele ocupa um ponto de honra em frente à sede da Samsung - um palco de compensado construído às pressas e enfeitado com silhuetas recortadas de um homem rechonchudo que parece estar saltitando como um cavalo.
Trata-se da primeira exibição pública em honra a PSY, o rap- per sul-coreano cujo clipe viral Gangnam Style pôs Gangnam nos lábios de espectadores do YouTube do mundo inteiro. A prefeitura pretende abrir um centro para visitantes neste mês que pode vir a contar com um holograma em tamanho real do cantor, cujo nome verdadeiro é Park Jae-sang, apresentando sua dança engraçada.
Porém, o sucesso de Park também ajudou a alimentar ambições muito maiores. Já famoso dentro da Coreia como parque de diversões dos novos ricos da nação, o bairro agora deseja se aproveitar da febre em torno de Gangnam Style para conquistar o reconhecimento global a que acredita fazer jus como centro da moda, do entretenimento e, como reconhece, do consumo desenfreado.
- PSY surgiu bem na hora em que estávamos prontos para transformar Gangnam em global. Já acreditamos estar no mesmo nível que Manhattan ou Beverly Hills em todos os sentidos - disse Shin Yeon-hee, a subprefeita.
A questão é como capitalizar o vi- deoclipe de Park, o primeiro no YouTube a registrar mais de 1 bilhão de exibições. Embora grupos musicais sul-coreanos de garotos e garotas cheios de produção e dramas televisivos melosos tenham se dado bem no resto da Ásia, a "onda coreana" ainda não havia chamado a atenção do Ocidente - até Gangnam Style.
Entretanto, muita gente por aqui parecia surpresa com a popularidade explosiva do vídeo, talvez porque poucos esperavam que o grande avanço se desse graças a PSY, um astro de nível intermediário que atua como humorista e cantor. O governo distrital está correndo para recuperar o tempo perdido.
O escritório local de promoção do turismo, com 13 funcionários, criado em novembro, construiu o palco de compensado na estação Gangnam, a coisa mais próxima de centro que tem o bairro. A seguir, será a vez da casa para visitantes, contando com hologramas de astros da música popular sul-coreana, incluindo, espera-se, Park (ainda é preciso fechar contrato com o rapper). Daqui a um ano, as autoridades esperam finalizar a Rua Hallyu, cujas calçadas contarão com a impressão das mãos de astros e estrelas.
Ostentação e glamour
Foto: Jean Chung/NYTNS
Apesar do nome da música, Gangnam em si quase não aparece no videoclipe, apenas como um horizonte distante cravejado de prédios altos.
- Nós precisamos criar uma conexão mais forte entre a música e o distrito - afirmou Kim Kwang-soo, chefe da nova agência de turismo.
O clipe faz uma paródia da reputação da área por sua pretensiosa exibição de riqueza. Em uma cena, um homem de terno amarelo e óculos escuros com excesso de tamanho pula sobre um carro esportivo vermelho. Em outra, o próprio PSY se pavoneia todo, metido em um smoking, entre mulheres glamourosas.
Parte da ostentação de riqueza exibida no clipe é aparente no bairro, localizado em frente ao largo Rio Han, no centro de Seul (Gangnam significa "sul do rio"). As corporações parecem competir pelo arranha-céu mais futurista, enquanto os moradores dirigem carros cintilantes, festejam em bares de vinho e têm o queixo esticado em uma das centenas de clínicas de cirurgia plástica.
Gangnam também parece querer recriar o estilo de vida da classe média alta norte-americana visto em filmes de Hollywood ou vivenciado por estudantes e imigrantes que voltam para casa. A área ostenta bulevares largos ao estilo de Los Angeles (sem esquecer os congestionamentos também ao estilo de Los Angeles). Os restaurantes da moda oferecem brunch e burritos o dia inteiro (ambos são raros na maior parte da Ásia).
Equilíbrio de valores
PSY, nativo de Gangnam, não respondeu aos pedidos de entrevista, mas outros moradores falaram que Gangnam Style capturou com precisão a personalidade dividida de uma área que adota o individualismo livre ao estilo dos Estados Unidos sem deixar de lado a identidade sul-coreana.
A música satiriza essa situação complicada com uma letra a respeito de sua preferência por mulheres que mantêm o tradicional papel reservado feminino durante o dia, mas que sabem se divertir à noite. Embora os moradores neguem que a realidade seja tão decadente, eles afirmam que ainda estão tentando descobrir como equilibrar as liberdades ocidentais com os valores tradicionais.
- Na fachada, os moradores de Gangnam seguem o que consideram norte-americano. Contudo, um estilo de vida moderno e aberto não significa se livrar de tudo - comentou Jenny Tae, 32 anos, funcionária de uma butique, que caminhava por uma rua de compras cheia de árvores em uma apertada calça de veludo cotelê marrom, unhas douradas e protetor de orelha rosa.
O tom nitidamente coreano é uma coisa que o governo local pretende promover. Quando questionada se Gangnam desejava ser como Beverly Hills, Yeon-hee, a subprefeita, proclamou com orgulho que o bairro não precisava mais imitar o Ocidente:
- Gangnam é uma marca singularmente coreana.