O céu é dramático, com raios de sol irradiando como holofotes por trás de nuvens negras. Depois de duas horas de viagem por uma tortuosa estrada de mão dupla, você está um pouco zonzo (e o casal 20 que não para de falar desde Auckland também não ajuda muito), mas, depois de encher o pulmão algumas vezes com o ar fresco do campo, você se sente renovado. Não importa o quão teimoso, cínico ou relutante seja (talvez os três ao mesmo tempo), esse lugar certamente irá enfeitiçá-lo.
Para o cineasta Peter Jackson, para a Nova Zelândia e para milhões de fãs que invadiram a ilha na última década à procura dos sets de filmagem de O Senhor dos Anéis, a jornada começou novamente. Na sexta-feira passada, estreou O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, o primeiro dos três filmes da série, com lançamento previsto até 2014. Se tudo ocorrer como planejado, as produções também irão reabrir as comportas do turismo no país.
Filmes - efêmeros e imaginários - são capazes de enviar os fãs em busca de algo real. A Noviça Rebelde deixou uma marca tão profunda em Salzburg, após as filmagens de 1964, que passeios ao local onde Julie Andrews tocou Dó-Ré-Mi no violão ainda atraem milhares de visitantes. Na Escócia, as visitas ao monumento de Wallace aumentaram drasticamente após o lançamento de Coração Valente, em 1995. Já em Natchitoches, Louisiana, os fanáticos continuam a gastar US$ 175 por noite para dormir no Shelby Room, onde Julia Roberts se tornou uma estrela em Flores de Aço, há 23 anos.
Mas a trilogia de O Senhor dos Anéis, que faturou mais de US$ 3 bilhões entre 2001 e 2004, mudou completamente o cenário do turismo cinematográfico. Para a surpresa de muitos, ela tomou conta de um país inteiro. Quando a New Line Cinema lançou o primeiro filme, em dezembro de 2001, os órgãos de turismo esperavam que ajudasse a Nova Zelândia a subir um ponto ou dois nas listas de principais destinos turísticos. Afinal de contas, Jackson destruiu metade da Vila dos Hobbits quando terminou a primeira filmagem. Para começo de conversa, quem, em sã consciência, iria dirigir horas até a zona rural do país?
Mas, desde o lançamento, cerca de 266 mil pessoas visitaram a Vila dos Hobbits, de acordo com o Ministério do Turismo da Nova Zelândia. Em Queenstown, no sul da ilha, 17 empresas turísticas começaram a oferecer excursões ligadas ao filme. Hotéis em todo o país criaram promoções e pacotes, e autoridades alfandegárias penduraram bandeiras dizendo: "Bem-vindos à Terra Média".
Foto: Andrew Quilty/NYTNS
A Vila dos Hobbits
O governo da Nova Zelândia espera que o planejamento agressivo aumente o número de visitantes interessados no filme. Um acordo com a New Line permitiu incluir comerciais de turismo em todos os DVDs. Em agosto, entrou no ar uma campanha de marketing global com o slogan: "100% Terra Média, 100% Nova Zelândia". O país está gastando ao menos US$ 50 milhões em programas turísticos relacionados aos Hobbits, mas a principal atração continua sendo a fazenda de 486 hectares na fabulosa cidade de Matamata, na Ilha do Norte.
A Vila dos Hobbits é o ponto de partida de qualquer turista fã de Tolkien, que precisará de ânimo, concentração e tempo para ver parte dos cerca de 70 locais exibidos nos filmes. Eles vão do Porto Waikato, no ponto mais alto da Ilha do Norte, ao ponto mais baixo da Ilha do Sul, onde os Hobbits buscam refúgio com um homem que pode se transformar em urso.
Fãs intensos e orelhas de elfo
A Nomad Safaris foi uma das primeiras empresas a oferecer excursões temáticas quando os fãs começaram a chegar, há cerca de uma década.
- Nós subestimamos a intensidade dos fãs. As pessoas chegavam e começavam a procurar o lugar onde Aragon esteve - afirmou o dono da Nomad, o inglês David Gatward-Ferguson.
A Nomad oferece agora duas opções de "safáris nos cenários", ambas por US$ 134 para adultos e US$ 65 para crianças, com quatro horas de duração. A empresa afirmou que levou cerca de 10 mil pessoas no ano passado.
- Ninguém vai voltar para casa sem orelhas de elfo - diz Ferguson.
Grupos e guias
Foto: Andrew Quilty/NYTNS
A Nomad espera que muitos novos turistas venham após o lançamento de O Hobbit. Dessa vez, jurou Gatward-Ferguson, a empresa estará preparada para tirar proveito da invasão. Haverá um novo passeio para os fanáticos, envolvendo fantasias e objetos cênicos.
Além disso, a loja irá aumentar de tamanho e oferecer mais produtos temáticos, como orelhas de elfo por 17 dólares neozelandeses.
A eficiência das empresas neozelandesas será uma grata surpresa, seja a Red Carpet Tours, de Auckland (fone 00xx64 9-410-6561; redcarpet-tours.com), ou a Nomad Safaris, de Queenstown (00xx64 3-442-6699; nomadsafaris.co.nz). A parada perfeita para receber boas informações turísticas e fazer reservas é a Positively Wellington, a divisão de turismo da capital (esquina da Wakefield com a Victoria; 00xx64 4-916-1205; wellingtonnz.com).