Estou sentado com as pernas cruzadas no chão de um grande salão, cercada por estranhos. Suor corre pelo meu rosto, e minhas coxas estão tremendo em agonia. Estou tentando meditar, mas minha mente continua calculando por quanto tempo estou aqui (cerca de cinco horas) e quanto tempo ainda falta (cerca de outras cem).
É o primeiro dia de meu retiro silencioso em Gujarat, na Índia. Não tenho permissão para falar durante os 10 dias. Na verdade, não tenho permissão para fazer muita coisa: não posso ter contato visual com meus colegas meditadores, ler, escrever, ouvir músicas, me exercitar ou fazer praticamente qualquer outra coisa que não seja sentar aqui no chão.
Meus motivos para me inscrever tão subitamente parecem muito tolos. Em vez de ser uma busca espiritual ou uma tentativa de resolver problemas pessoais de longa data, vim esperando ver os fogos de artifício advindos da meditação. Meditei intermitentemente durante anos, e sei que isso funciona.
Quando ocasionalmente consigo me manter meditando por mais do que alguns dias, me torno uma pessoa mais calma, mais legal e capaz de dormir melhor. Em bons dias, considero ela levemente agradável, porém, há sempre algo faltando. Outros meditadores descrevem que veem cores, experimentam estados elevados de êxtase ou desenvolvem uma serena compreensão das complexidades da vida. Isso nunca aconteceu comigo. Então, na esperança de contornar os anos de constante esforço que eu imagino serem necessários, viajei ao centro Dhamma Sindhu para uma meditação Vipassana, a técnica mais extrema de retiro que conheço.
Vipassana, que significa "ver as coisas como elas realmente são", é uma antiga técnica budista revivida e popularizada por um indiano nascido na Birmânia chamado SN Goenka. Seus cursos são ministrados em cerca de 140 centros ao redor do mundo, todos os quais respeitam o mesmo cronograma: acordar às 4h, meditar às 4h30min, café da manhã às 6h30min, mais meditação, almoço às 11h, meditar, jantar (dois pedaços de fruta e uma xícara de chá) às 18h, meditar, um vídeo de Goenka, e apagar das luzes às 21h30min. Os cursos são gratuitos, apesar de você ser incentivado a fazer uma doação no final.
Dor, muita dor
Há cerca de 120 de nós no retiro de Gujarat, sendo todos, exceto 10, indianos. No dia antes do início do curso, entramos em uma fila para entregar livros e celulares antes de sermos apresentados aos nossos quartos individuais, parecidos com celas. Na manhã seguinte, com apenas cinco horas de meditação experimentadas, já estou tendo receios.
Fui preparado para odiar tudo algumas vezes e até, ocasionalmente, me arrepender de ter vindo, mas não tinha imaginado que seria uma luta constante. Pior que o silêncio, de longe, é a dor. Nenhuma quantidade de meditação que eu já tinha feito poderia me preparar para sentar no chão por 10 horas e meia por dia. Eu tento de tudo: mais almofadas, menos almofadas, duas pequenas almofadas sob meus joelhos, uma almofada firme apoiada em uma mais suave, uma almofada no meu colo para apoiar minhas mãos. Nada ajuda.
Depois de dois dias, lacunas começam a aparecer na sala de meditação. As pessoas estão desistindo. Fomos avisados de que o segundo e o sexto dias serão os mais difíceis, então diminuo minhas expectativas e preparo para austeridade até o sétimo dia quando, certamente, haverá alegria.
Enquanto isso, eu sofro. A técnica Vipassana envolve mover sua atenção sistematicamente ao redor do seu corpo, percebendo sensações físicas sem reagir a elas.
Do tédio para alegria
Toda noite, Goenka nos encorajava da tela da TV, prometendo uma vida mais feliz e harmoniosa se aprendermos a receber bem o prazer e a dor. "Aceite as sensações à medida em que elas crescem, sem desejo nem aversão, e elas passarão", ele insiste em dizer.
O sexto dia não foi melhor, e várias outras pessoas abandonam o curso. O sétimo dia é terrível. Além da dor, há o tédio. Eu percebo o quanto dependo de narrativas externas no decorrer do dia - trabalho, romances, filmes, fofocas, Twitter, notícias, o que for. Aqui, somos apenas eu e meus devaneios, vergonhosamente transparentes. Agora sei que minha busca falhou.
- O propósito da Vipassana não é experimentar sensações prazerosas, mas desenvolver igualdade entre todas as sensações. Seu progresso é medido apenas em o quanto você consegue encarar as vicissitudes da vida com igualdade, nada mais - diz Goenka.
Posso imaginar a utilidade disso, porém estou mais preocupada em contar as horas para ir embora.
Então, depois do almoço no oitavo dia, tudo muda. Eu entro em uma outra dimensão. É como se os limites do meu corpo físico se dissolvessem, libertando cada molécula para voar ao redor da sala. Tudo brilha em vermelho. Tudo é alegria. É como a mais intensa euforia imaterial induzida por drogas, porém calma, sem ansiedade, sem dúvidas.