Marca registrada do litoral gaúcho, o mar chocolatão está presente em quase todas as praias do Rio Grande do Sul, em diferentes intensidades. A exceção fica por conta de Torres, onde a água costuma ser mais clara, próxima de tons azuis e um pouco mais semelhante àquela vista em Santa Catarina. Isso faz com que muitos veranistas a considerem a praia mais bonita do Estado e prefiram passar suas férias na cidade. Mas por que ocorre essa diferença?
De acordo com Haig They, professor do Campus Litoral Norte e pesquisador do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a coloração marrom do mar gaúcho pode ser explicada pela presença predominante da alga Asterionellopsis guyunusae, que é bem pesada e cresce no fundo do mar, atrás da zona de arrebentação das ondas. Essas algas fazem fotossíntese e precisam basicamente de duas coisas: nutrientes e luz.
— No Rio Grande do Sul, temos uma conjunção de fatores que fazem com que a costa sempre tenha bastante disponibilidade de nutrientes. Isso principalmente pelo fato de estar próxima de dois estuários grandes, que é o da Laguna dos Patos e, um pouco mais ao Sul, o do Rio da Prata — comenta o professor.
A água doce que sai dos rios, chamada de pluma estuarina, forma como se fosse um “bolsão de água”, com bastante nutrientes, que flutua sobre o mar. No inverno, especialmente com o vento sul, essa pluma é distribuída por toda a costa do Rio Grande do Sul e acaba fertilizando as algas. Torres, no entanto, recebe menos influência dessa pluma do que o restante das praias, porque fica bem ao norte do Estado.
— Além disso, não tem grandes estuários próximos para trazer uma grande quantidade de nutrientes para as algas. Outra diferença é da parte da geologia, porque temos promontórios ali, então já tem um relevo diferente do restante do Estado, que é mais um fator que também pode reduzir a formação dessas florações. Então, acaba que Torres tem uma característica de coloração da água mais parecida com Santa Catarina — esclarece.
Sol e água clara
Na tarde desta terça-feira (30), as faixas de areia da Praia Grande e da Prainha, em Torres, estavam lotadas de guarda-sóis coloridos e havia muitas pessoas se refrescando no mar — a temperatura era de 26° por volta das 15h, mas o sol forte fazia a sensação de calor ser ainda maior. Uma das veranistas que aproveitava a água era Graziela Nunes, 22 anos, que mora em Uruguaiana.
Estudante de Educação Física, a jovem é natural de Santana do Livramento e vem para Torres todos os anos com sua família. Graziela estava sozinha na água na tarde desta terça e afirma que as ondas de Torres também são melhores para brincar:
— Também temos a possibilidade de ir para Imbé, mas aqui é sempre muito mais lindo. É muito diferente, até para entrar no mar. Eu estava em Tramandaí e cada pisada que eu dava dentro da água, achava um buraco. Não senti vontade de ficar no mar, como fiquei agora. Aqui sempre fico horas no mar, é muito bom. Pular onda é a melhor coisa!
Em outro ponto da praia, o dentista Luciano Eifert, 50 anos, ajudava o filho Davi, 11, a pegar ondas com uma prancha de isopor. A família moradora de Novo Hamburgo já passou as férias em diferentes praias do litoral gaúcho, mas tem preferência por Torres também pela cor do mar, que não é tão chocolatão quanto nos outros lugares, explica a mãe Aline Eifert, 47 anos.
Antigamente, eles iam bastante para Balneário Gaivota, em Santa Catarina, onde tinham familiares. Na visão da farmacêutica, o mar de Torres é bem parecido com o das praias catarinenses.
— Ano passado, optamos por Pinhal por ser mais perto, mas não é o mar que Torres oferece, aqui é bem diferente. Do chocolatão eu não gosto muito — diz Aline, ressaltando que o filho e o marido gostam mais do mar do que ela.