É atuando junto ao monumento a Iemanjá, a poucos metros de distância do mar de Tramandaí, no Litoral Norte, que Paulo Joel Pereira Dias, o Paulo de Oxalá, 62 anos, se sente realizado. Todos os dias, o pai de santo costuma permanecer no local das 9h às 18h, atendendo fiéis de diferentes cidades.
Esta reportagem faz parte da série A Praia de Cada Um, que conta como pessoas de diferentes perfis aproveitam o litoral gaúcho. Veranistas e moradores da região compartilham suas preferências e o que a praia representa em suas vidas.
— As pessoas vêm aqui, tomam passe, gostam, saem felizes, vão para a praia e, às vezes, voltam de novo. Gente de todos os lugares vem aqui, de Porto Alegre, da Região Metropolitana e até da Fronteira — contou Paulo de Oxalá, entre um atendimento e outro.
Natural de Novo Hamburgo, o pai de santo se mudou para Nova Tramandaí em 2022 e, desde então, divide sua rotina entre atendimentos no entorno do monumento ao orixá — que ocorrem de dezembro a março —, em sua casa e até pelo WhatsApp. Também vai até a cidade do Vale do Sinos uma vez por mês, para não deixar os filhos de religião de lá desemparados.
De acordo com Paulo, a decisão de morar no litoral gaúcho está relacionada com a parte em que atua mais na Umbanda e partiu de seus guias espirituais:
— O povo cigano responde aqui na praia. Então, eu tinha que jogar, fazer meus trabalhos em Novo Hamburgo, e trazer para despachar aqui na praia. Às vezes, em uma semana, eu precisava vir dois dias, então, estava muito caro e era cansativo também.
Cerca de 150 pessoas são atendidas diariamente junto à imagem do orixá, estimou o pai de santo. Mas em 2 de fevereiro, dia de homenagens a Iemanjá, que é conhecida como a rainha do mar, o movimento se intensifica e os atendimentos costumam se estender das 8h até a madrugada do dia 3.
— Nós viemos para cá para dar conforto às pessoas. Nem todas são de religião, mas mesmo assim de vez em quando vêm aqui, fazem o sinal da cruz. E as que são de religião vêm, batem cabeça, fazem outras coisas. Nos atendimentos, eu peço aos ciganos para tirarem as coisas ruins que as pessoas têm na mente, depois peço para a mãe Iemanjá, que é a dona da mente, coloque coisas boas na mente das pessoas.
Paulo destacou que se sente realizado atuando próximo ao orixá e que considera linda a fé e a emoção das pessoas que frequentam o local para pedir e agradecer. Também relatou que não costuma ter tempo para curtir a praia, mas que, às vezes, quando se sente carregado demais, tira os sapatos e as meias, dobra a barra da calça e vai até o mar para molhar os pés e fazer suas orações.
— Para mim, isso aqui é tudo, tem luz, tem minha fé, dá tudo certo na minha vida. Aqui estou muito feliz, estou completo e bem realizado. Diz meu Preto Velho que vou morrer com 105 anos, estou com 62, então tem bastante tempo ainda, mas se eu fosse morrer logo, estaria satisfeito com isso aqui, com a energia que o mar manda para nós. Agora, vou viver feliz mais muitos anos.