— Pode soltar a proa! — gritou o comandante Luiz Maria Oliveira Filho, 58 anos, ao auxiliar, enquanto manobrava o timão da escuna Divino Sol. Segundos depois, a corda da parte de trás da embarcação também foi liberada do cais, no Centro de Rio Grande, no Sul do Estado. Os comandos deram início à jornada pelo estuário da Lagoa dos Patos até os Molhes da Barra, na praia de Balneário Cassino, na quarta-feira (8), quando a equipe de GZH embarcou para o passeio com quatro horas de duração.
Ao todo, 40 quilômetros por água separam a área central do balneário da cidade. O trajeto é feito pelo canal entre o porto de Rio Grande e São José do Norte, no Litoral Médio gaúcho. Logo no início da jornada, a escuna partiu da área denominada Rincão da Cebola, que ganhou este nome no passado devido à produção de cebolas, comum em toda a região. Elas eram descarregadas no trecho para seguirem viagem a outras partes do Estado e do país.
Na sequência, avistou-se a praça Palestina, inaugurada em homenagem à comunidade árabe palestino-brasileira que vive em Rio Grande. Mais adiante, a estação hidroviária, seguida do cais do porto velho e de prédios históricos, como o Mercado Público e o Museu Municipal. Antes de ingressar no canal que une Rio Grande à Ilha da Base, ainda foi possível observar a Corveta-Museu Imperial Marinheiro V-15 e a área pertencente ao Comando do 5º Distrito Naval.
A Ilha da base, aliás, merece um capítulo à parte. Segundo o Comando do 5º Distrito Naval, quando se deu início à abertura do canal da barra de Rio Grande, em 1911, os estudos realizados pela Compagnie Française Du Port de Rio Grande do Sul, uma companhia de dragagem, chegaram à conclusão de que o canal passaria exatamente sobre um banco de terra existente na área. Foi a partir do material retirado deste fundo que surgiram os terraplenos Leste e Oeste. Mais tarde, eles se tornaram a ilha que hoje abriga o Serviço de Sinalização Náutica do Sul – Ilha Terrapleno de Leste. Porém, a área é mais conhecida como Ilha da Base porque, no final da década de 1930, foram iniciadas as construções e a instalação de uma Base AeroNaval no terreno. Com o passar dos tempos, o local abrigou atividades diversificadas até que, em 1976, foi instalado na área o atual Serviço de Sinalização Náutica do Sul.
— Da orla portuária, Rio Grande fica mais bela com os prédios históricos. Não é a mesma vista de quem costuma usar o catamarã entre a cidade e São José do Norte, pois sai apenas de um ponto da hidroviária e vai se afastando. Na escuna, o passeio vai costeando as cidades. É diferente — comentou Luiz, que desde os 19 anos atua na área marítima, trabalhando com navios e rebocadores.
Indo em direção aos Molhes da Barra, o passeio seguiu costeando a área de portos em Rio Grande, à direita. Ali, além dos possantes navios cargueiros estrangeiros, destaca-se o Dique Seco do Estaleiro Rio Grande. À esquerda, ao longe, São José do Norte, mais precisamente a Povoação da Barra, onde estão localizados o Farol da Barra, erguido em 1852, e a centenária Igreja de Nossa Senhora de Boa Viagem, construída em 1848. Pelo caminho de água, pequenas embarcações de pescadores passavam e acenavam ao comandante e à equipe de reportagem.
Há oito anos, Luiz abriu a própria empresa de apoio portuário. Como sempre gostou de turismo, comprou a escuna, que antes navegava nas águas da laguna em São Lourenço do Sul. O empresário pretendia atrair os próprios moradores de Rio Grande para passeios náuticos pela região. Mas, ao contrário do que ele imaginava, quem hoje busca os serviços são turistas de outras partes do Estado e do Brasil:
— Os rio-grandinos não estão acostumados com turismo na própria cidade. Quem faz é o pessoal de fora. No verão, principalmente, os moradores daqui vão para o Cassino. Então, já atendi clientes de Porto Alegre, do Vale do Sinos e famílias inteiras de Roraima e São Paulo.
Luiz também oferece passeios privados, com grupos de até 79 pessoas (número permitido pela Marinha do Brasil). Desta forma, a Divino Sol já foi palco para shows de bandas, congressos de igrejas pentecostais, festas de aniversário, grupos privados de pesca e até formaturas de graduandos. O comandante revela que também já atendeu clientes da Capital que alugaram o barco para pesca esportiva por três dias seguidos. Os valores são negociados diretamente com o proprietário da escuna.
Depois de duas horas indo na direção do oceano Atlântico, a escuna chegou aos molhes de Rio Grande, de onde partem as vagonetas. Desde 1938, os carrinhos de madeira movidos pelo vento e pela força humana transportam turistas sobre um caminho de pedras e trilhos de metal, que avançam mar adentro por mais de 4 quilômetros.
Ao longo do caminho de volta, lobos-marinhos e botos foram avistados ao saltarem durante a pescaria. Difícil foi registrá-los. Ágeis, apontavam num extremo e apareciam em outro rumo, segundos depois.
— Temos potencial para deslancharmos no turismo náutico, mas ainda falta incentivo público de divulgação e até um espaço específico, com trapiche, mais próximo aos molhes da praia do Cassino — justifica Luiz.
Espetáculo único
Dependendo do horário do passeio e da parceria com a "mãe natureza", o entardecer e o anoitecer poderão surpreender os visitantes com um cenário de encher os olhos até da própria tripulação da Divino Sol, já mais acostumada com o itinerário. Na data do passeio da equipe de GZH, por volta das 18h30min, o céu começou a ganhar novas cores, além do azul e do branco. Primeiro, veio um tom avermelhado na direção do sol, enquanto ele ensaiava sua despedida do lado de Rio Grande. Em seguida, tons rosados surgiram sobre São José do Norte. Depois de um dia que foi de chuvoso à parcialmente nublado, as nuvens foram ganhando variados tons de rosa, laranja, vermelho e lilás. O jogo de luzes naturais deixou os três tripulantes e a reportagem sem saber para qual lado observar porque as cores tomaram o céu por completo. O espetáculo durou cerca de uma hora até o surgimento da lua.
Na trilha sonora, selecionada especialmente para o passeio, clássicos do rock. O sol se despediu ao som de Bob Dylan cantando Knockin' On Heaven's Door. Mas, ao contrário da música, que fala de despedida desta vida, o passeio na Divino Sol revigorou o fôlego dos que puderam desfrutar daquelas quatro horas pelas águas do estuário.
Para conhecer o passeio
- www.facebook.com/escunadivinosol/
- www.instagram.com/escunadivinosol/
- Para informações sobre valores, contato pelo WhatsApp: (53) 98132-3688
Confira os tipos de passeios oferecidos
- Passeio de duas horas, com show a bordo, no final da tarde
- Passeio de quatro horas até os Molhes da Barra
- Passeio de seis horas, para grupo fechado com até 79 pessoas, com paradas para banho