Maurício Tadeu Cardoso Telier, 58 anos, sempre uniu a arte à carreira militar. Morador de Ijuí, o primeiro-tenente da Brigada Militar está no Litoral Norte para a Operação Verão e aproveitou para deixar sua marca nas paredes do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO), que fica em Osório, e também no canil, que fica no mesmo complexo, entre outros trabalhos.
Foram três brasões pintados no CRPO, dois brasões no canil e um brasão e um golfinho no 8º Batalhão de Polícia Militar. Além disso, Telier pintou os quadros da Lola, uma labradora, e do Nemo, um pastor alemão, ambos no canil — cães que contam com grande respeito dos policiais. Nemo ainda está em atividade, mas Lola despediu-se das missões policiais em 2018, embora seja mantida no mesmo local dos demais “ex-colegas”. Os desenhos chamam a atenção de quem passa pelo local.
— Nasci com esse dom. Quando vi, já estava desenhando e pintando. E consegui dominar todas as artes: entalhes em madeira, escultura em madeira, bronze e cobre, e também o desenho. Faço porque gosto e, muitas vezes, são trabalhos até voluntários — conta, orgulhoso.
Telier é natural de Tupanciretã, mas sua carreira começou em 1983 no Corpo de Bombeiros de Ijuí. Em 2010, entrou para a reserva, mas a vontade de seguir trabalhando era grande. Assim, em 2012 voltou a atuar, já pela Brigada Militar, no Colégio Tiradentes, também em Ijuí.
— Eu tinha me aposentado e comecei a me sentir mal. Queria ter uma utilidade. E aí, escolhi o colégio, e o colégio me escolheu também. Lá, trabalho no setor administrativo, manutenção, pinturas, serviços de todo o tipo — relata.
Apesar da inclinação para a arte, a opção pela carreira militar estava no sangue. O avô de Telier era subdelegado, e o pai era sargento da BM. O irmão, tenente. Assim, a opção pelas forças de segurança foi natural – tanto que o filho dele, Everton, 36 anos, também seguiu a linha familiar e hoje é soldado da BM.
— Sabe quando tu vê o teu pai e quer ter a mesma profissão? Foi o meu caso. Mas sempre consegui aliar as duas coisas. Presto serviços para a comunidade, faço minha a arte para fora, para a Brigada, para quem precisar — explica.
“Trabalhando, me mantenho vivo”
Telier se orgulha de ter trabalhos seus espalhados por diferentes locais do Estado: ele calcula ao menos oito bustos, além de pinturas. Uma das produções de que mais gosta é uma sequência de 32 telas que contam a história da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros. A coleção está no Panteão Coronel Aparício Borges, em Porto Alegre, local construído em homenagem aos policias militares que morreram no exercício de suas atividades.
Há cerca de um ano, o primeiro-tenente teve problemas de saúde por conta de diabetes. Em 22 dias, perdeu aproximadamente 30 kg. Para dar a volta por cima, viu nas pinturas e esculturas uma forma de manter a saúde mental:
—Jurei para mim mesmo que vou me curar. Então, faço esse trabalho voluntário e mantenho minha cabeça bem. Eu poderia ter parado, mas venho para a praia, me ofereço, vou às unidades. Deixo minha marca, não quero nada em troca. Trabalhando, me mantenho vivo.
Ele e a esposa, Isabel Cristina, 56 anos, chegaram ao Litoral Norte no fim de dezembro após Telier receber dispensa por serviços prestados. Depois de se oferecer para fazer trabalhos artísticos, ele foi integrado à Operação Verão no dia 3 de janeiro. No dia 18, deve se apresentar novamente em Ijuí.
A ideia, no entanto, é retornar ao litoral para realizar outros trabalhos para os quais já foi convidado. Para Telier, é quase como uma missão:
— Todos os anos que venho para cá, desde 2007, eu presto trabalho voluntário nos colégios. Sempre deixo uma pintura. É uma retribuição por ser bem recebido.