Garrafas pet, vidros de xampu, pedaços de canos. Visto apenas como lixo por parte da população, esse material incomum foi usado para a construção de uma instalação interativa localizada no Parque Náutico de Capão da Canoa, no Litoral Norte. A ideia da montagem, idealizada pelo Projeto Reciclar, é chamar a atenção para o descarte irregular e mostrar que os resíduos podem ser reaproveitados – além de servirem de renda para trabalhadores da coleta seletiva.
Chamada de Travessia, a instalação inaugurada na última sexta-feira (7) se assemelha a um corredor. Em uma ponta, está o questionamento “o que tem nas nossas praias?” e, na outra, “o que será das nossas praias?”. Ao longo do trajeto, é possível ver nomes de espécies encontradas nas praias gaúchas e também de resíduos localizados na beira-mar: a expressão “bitucas de cigarro” está ao lado de “garça-moura”, e “canudinhos” contrasta com “tartaruga-gigante”.
A estrutura foi montada com materiais de baixo impacto ambiental, a maioria resíduos coletados pela Associação dos Agentes Econômicos Ecológicos de Capão da Canoa (Asagee), à qual está ligada o Projeto Reciclar. Também foi usada madeira tratada e tingida, além de iluminação de LED.
Ao longo da travessia, chama a atenção uma cortina feita com redes, que incomoda e dificulta a passagem do visitante. As redes de pesca foram coletadas pela Patrulha Ambiental da Brigada Militar. O objetivo das cortinas é, justamente, causar estranhamento:
– Queremos que a passagem seja desconfortável, incomode, porque é como o animal se sente no habitat dele quando esses resíduos vão parar no oceano. Essas redes atrapalham porque queremos fazer as pessoas refletirem: como é ruim quando alguma coisa é colocada no teu espaço de vida, no teu ambiente! A ideia é sensibilizar a pessoa que está lá para o problema da educação ambiental – explica Fernanda Grasselli, autora do projeto Reciclar Capão da Canoa.
No total, cerca de 200 kg de resíduos coletados pela Asagee foram utilizados na instalação. Os trabalhadores da associação são responsáveis por toda a coleta seletiva na cidade e a renda do trabalho é sua fonte de sustento. Assim, os idealizadores do projeto esperam chamar a atenção para a questão ambiental e social.
- Não existe “jogar fora”. Se o material não for reciclado, vai parar no oceano ou lixo comum e vai para o aterro sanitário, onde permanece por anos. É um problema que a coleta seletiva tenta resolver. Hoje, Capão da Canoa tem 14% da população participando da coleta seletiva contra 3% da média nacional, mas esse percentual pode ser maior. Queremos mostrar para as pessoas que elas poderiam estar participando de algo importante e podem mudar suas rotinas.
O Parque Náutico, voltado para a Lagoa dos Quadros, fica aberto de terça-feira a domingo, das 13h30min às 20h, com entrada gratuita. O acesso para o local, que fica na Rua 63, pode ser feito diretamente pela Estrada do Mar, nas proximidades do km 34. Outra possibilidade é seguir a Avenida Valdomiro Cândido dos Reis e passar pelo viaduto sob a Estrada do Mar.
Amostras pela cidade
Para convidar veranistas e moradores a se engajarem na causa e a conhecerem a Travessia, cinco fardos com resíduos serão espalhados ao longo dos próximos dias por diferentes regões da cidade. São fardos com, aproximadamente, 1m x 1m, com material já separado e prensado, pronto para voltar à indústria e ser reaproveitado - quatro já estão ao lado da Travessia, no Parque Náutico. Eles devem ser colocados na Praça Flávio Boianovski, na área central de Capão da Canoa, e também em Curumim, Arroio Teixeira, Capão Novo e Araçá.
- Junto, haverá um convite para que as pessoas conheçam a instalação no Parque Náutico. Os fardos contém todo tipo de material. Assim, alertamos para o descarte incorreto e também para o trabalho realizado pela associação. Queremos ter uma nova mentalidade na cidade daqui a alguns anos – diz o gestor ambiental do Projeto Reciclar, Ivair Bedendo.