Correção: o dinheiro repassado pela Fundação Boticário ao Botos da Barra não será destinado a bolsas para os professores envolvidos no projeto, como havia sido publicado entre 15h53min de 4/01/2022 e e 15h52min de 6/01/2022. Somente os alunos vão receber bolsas para seguirem estudando sobre a pesca cooperativa. O texto já foi corrigido.
Projeto que valoriza a pesca cooperativa entre botos e pescadores, uma das atrações mais valiosas entre Tramandaí e Imbé, o Botos da Barra foi um dos únicos no Rio Grande do Sul a ganhar incentivo da Fundação Boticário, que apoia iniciativas ambientais em todo o Brasil.
Serão cerca de R$ 218 mil repassados ao Botos da Barra, que já começa a receber as primeiras parcelas no início deste ano. Fundado em 2013, o projeto luta para que a interação entre botos e pescadores na captura da tainha não seja apenas preservada, mas encarada como patrimônio do litoral gaúcho e até do país.
A coordenação é do biólogo Ignacio Moreno, pesquisador do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) e professor de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ele, há poucas interações como essa no mundo.
- A pesca cooperativa é um fenômeno muito raro. Só ocorre no Sul do Brasil, principalmente em Tramandaí e em Laguna (Santa Catarina). Muitos outros lugares já tiveram pesca semelhante, mas terminaram, por diversos fatores - diz Moreno.
O dinheiro repassado pela Fundação Boticário permitirá que os estudantes que integram o Botos da Barra recebam bolsa para permanecerem aprofundando os estudos sobre a pesca cooperativa, além de capacitar os próprios pescadores a entenderem a importância da função que exercem. Também será feito material de divulgação sobre o projeto.
Não é simples se comunicar com os botos que frequentam a Barra do Rio Tramandaí, onde a pesca cooperativa ocorre. É uma tradição repassada de pais para filhos. Precisa entender o comportamento do animal, que encurrala o cardume de tainhas e, após um sinal, chamado de "batida de cabeça", coloca o rosto para fora da água, indicando onde estão os peixes.
Aí, basta lançar a tarrafa, espécie de rede, em direção ao local onde estão as tainhas.
- A pesca cooperativa é única porque tanto o pescador quanto o boto precisam se comunicar, entender seus comportamentos. O boto faz toda aquela movimentação para avisar o pescador. Se o pescador não entende, vai jogar a tarrafa na hora errada, no lugar errado. Então, esse conhecimento tradicional, passado de geração a geração, é muito importante - explica Moreno.
E essa troca tem audiência. Enquanto os pescadores preparam suas redes, dezenas de veranistas se sentam na calçadão de Imbé, em direção ao Rio Tramandaí, ou mesmo nas areias da Barra de Tramandaí, para aguardar a aparição dos botos. Muitos querem tirar dúvidas, saber quando os bichos vão colocar a cabeça para fora da água.
É um espetáculo que, na avaliação do professor Ignacio Moreno, tem grande potencial turístico - apesar de ainda ser mal aproveitado.
- A gente quer mostrar para os turistas que isso é único. Também queremos mostrar aos gestores o que é pesca cooperativa, a importância disso para a história. Pode ser valorizada como atração turística pelas prefeituras, e a tainha, capturada pelos pescadores com ajuda dos botos, pode ser valorizada pelos restaurantes da região - diz.
Outro projeto beneficiado pela Fundação Boticário fica em Torres, também no Litoral Norte. Chama-se Como Virar Torres para o Mar, que é uma iniciativa do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars) para observar e valorizar a fauna marinha do litoral gaúcho.