Se não fosse a forte ressaca no mar, o sábado (6) seria um dia típico de praia no Litoral Norte. O tempo com sol, poucas nuvens e pouco vento é convidativo a uma beira de praia. A temperatura é amena, 21 graus em Capão da Canoa.
Mas, pelo segundo dia seguido, a faixa de areia praticamente desapareceu e deu lugar ao avanço do mar, motivado pela ressaca causada pelo ciclone extratropical que atinge o oceano. Em vez de banhistas, donos e funcionários de quiosques contabilizavam os prejuízos nesta manhã.
Próximo ao Largo do Baronda, em Capão da Canoa, o dono e funcionários do Quiosque Serra e Mar completaram 24 horas dentro da estrutura.
— A gente ficou aqui para retirar as coisas se necessário. Temos aqui muita bebida, alimentos, geladeira. Mas ainda não precisou — disse Viviane Alves de Lima, 29 anos, que trabalha há dois meses no local.
O proprietário Varlei da Silva, 38 anos, lamenta o fato de não poder abrir o quiosque.
— A gente sabe que está perigoso. Se essa maré subir mais, vamos ter que começar a tirar tudo. É uma pena não poder abrir, ainda mais nessa temporada de poucas vendas — comentou ele, enquanto as ondas levavam suas escadas frontal e a lateral.
Alan dos Santos, 18 anos, estava enrolado em um cobertor ao lado de comidas e bebidas dentro do quiosque.
— Nem dormimos. Ficamos cuidando aqui. Vai que o mar avance — disse ele entre um bocejo e outro ao conversar com a reportagem.
Bem próximo dali, o proprietário de outro quiosque se antecipava e retirava tudo o que podia de dentro da estrutura. Ele preferiu não conversar com a reportagem. Como o mar estava avançando mais naquele ponto, geladeiras, cadeiras, bancos, mesas e isopor com alimentos e bebidas já haviam sido retirados e colocados em cima da duna que antecede o calçadão. Acompanhado da esposa, ele varria a água que já invadia o interior do quiosque.
Prejuízo de R$ 100 mil
Na praia de Atlântida, um quiosque construído com dois contêineres foi levado pela água. O proprietário Caio Dessuy, 38 anos, monitorava de longe a estrutura que voltou para a areia.
— Um deles virou de ponta cabeça. O outro foi levado pelo mar e foi boiando até perto da plataforma. Aí voltou e está aí — apontava o empresário, que é dono do restaurante que fica na plataforma e outro no Paradouro Rossi, na mesma praia.
Dessuy, que virou a noite retirando o que conseguia dos contêineres e monitorando a estrutura para evitar furto, estima prejuízo de até R$ 100 mil.
— Para esse verão já era. Não tem como reconstruir isso a tempo — lamentou o empresário ao relatar que conseguiu recuperar 5% do que havia dentro da estrutura.
Em Xangri-lá, no tradicional quiosque Deck 22, havia um segurança que passou a noite no local para evitar furtos e também para retirar objetos caso a maré avançasse ainda mais. Quando a reportagem esteve no local, por volta de 7h30min, muitos objetos já estavam sobre as dunas. A força do mar seguia levando parte do deck e da escada do quiosque.
A alguns metros dali, apenas suportes de um quiosque. A estrutura de madeira foi levada integralmente pelo mar. A reportagem não encontrou os proprietários no momento que esteve no local.
Perigo na areia
Quem caminha pelo calçadão de Capão da Canoa ou sobre as dunas de Xangri-lá consegue ver o rastro de destruição deixado pela ressaca no mar. Há muitos pedaços de madeira, lixeiras, garrafas, pedras e até geladeiras. Sarrafos com pregos virados pra cima estão aos montes pelo chão. Além disso, dos quiosques que foram destruídos, os fios ficaram expostos.
Em Xangri-lá, a areia da orla foi levada pela água para a avenida Beira-Mar. Em Capão da Canoa, o calçadão também ficou com aspecto de sujo em razão da areia molhada que invadiu trechos. As passarelas que dão acesso à praia estão interditadas.
A orientação dos Bombeiros é que as pessoas evitem a faixa de areia e, principalmente, o mar. As passarelas que dão acesso à praia de Capão da Canoa foram interditadas pela prefeitura como forma de conscientizar as pessoas dos riscos da forte ressaca do mar.
Guaritas danificadas
Segundo os Bombeiros, pelo menos seis guaritas foram danificadas com a força das ondas, sendo duas em Arroio do Sal e quatro em Capão da Canoa. Mas a reportagem também viu uma guarita quase tombada em Xangri-lá.
— Nesse mar de ressaca, além de ele ter força, a violência das ondas, ele causa instabilidade das pessoas. Os adultos acabam se desequilibrando e podem até morrer afogados — destaca o chefe de operações do Corpo de Bombeiros Militar, major Isandré Antunes.
O alerta emitido pela Marinha é de forte ressaca até a noite deste sábado.