A tão presente bandeira roxa na temporada de 2020 alertando para a presença de água-viva no mar quase não é vista neste ano. Basta caminhar pela orla, que se percebe que ela não se mistura com as demais bandeiras verde, amarela e vermelha, hasteadas para indicar as condições do mar. É que houve uma redução considerável de relatos por banhistas da presença desse animal marinho, que provoca queimaduras na pele.
Levantamento do Corpo de Bombeiros indica redução de 82% nas lesões provocadas por água-viva comunicadas entre 19 de dezembro de 2020 e esta terça-feira (2). Foram 15.207 nesta temporada contra 86.857 na passada. Capão da Canoa, Tramandaí e Torres seguem liderando o ranking de registros.
Os bombeiros apontam que há menos gente na praia em razão da pandemia de coronavírus e que o tempo está mais instável, o que ajuda a reduzir os incidentes. Mas também contam que têm encontrado menos águas-vivas durante resgates e treinamentos no mar.
— Tivemos três anos de aumento das lesões comunicadas. Mas também houve maior número de dias balneáveis. Quanto mais dias balneáveis, mais pessoas no mar e maior a chance de ferimentos — relata o comandante do 9º Batalho de Bombeiros Militar e coordenador da Operação Verão, tenente-coronel Cláudio Morais.
A reportagem de GZH circulou pela orla de Capão da Canoa e encontrou a bandeira roxa hasteada em frente à guarita 76, área próxima ao Largo do Baronda, muito procurada por veranistas.
— A bandeira roxa tem sido usada, mas menos do que no ano passado, em função, justamente, da redução de relatos — conta o chefe de operações do Corpo de Bombeiros Militar, major Isandré Antunes, ao destacar que o vinagre, geralmente usado para amenizar a ardência do ferimento, segue nas guaritas e é oferecido para quem precisar.
O auxiliar administrativo Clauderson de Sena Vargas, 35 anos, brincava na areia com a filha pequena, em Capão da Canoa. Ela recém havia saído do mar. Assim como os guarda-vidas, ele também percebeu redução de águas-vivas nesta temporada.
— Vim no ano passado para cá e me acidentei com água-viva. Com certeza reduziu muito. A gente tomou banho de mar nos últimos três dias e não aconteceu nenhum acidente — relata o morador de Cachoeira do Sul.
Segundo o ecólogo Kemal Ali Ger, professor do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), essa aparente redução de águas-vivas pode estar ocorrendo por dois motivos principais: mudanças na temperatura da água, corrente do mar e força do vento ou “simplesmente por causa da redução do número de banhistas em razão da pandemia”. No entanto, diz que seria preciso ter mais dados para apontar uma única razão:
— Para saber os principais fatores, precisaríamos saber o número de banhistas entre os dois períodos e a abundância das águas-vivas na zona de arrebentação.
Também professora da UFRGS, Carla Menegola explica que as águas-vivas fazem parte do grupo de animais cujas principais características são células urticantes na epiderme com toxinas neuroparalisantes para suas presas, como peixes e crustáceos, por exemplo. Para as pessoas, em geral, os efeitos são alergênicos. A espécie caravela é mais perigosa e pode gerar ferimentos mais severos.
O que fazer em caso de queimadura
A dermatologista Mariele Bevilaqua explica que as pessoas feridas por água-viva não devem lavar o local com água doce, pois aumenta a liberação de veneno dos tentáculos do animal e piora a queimação e a dor.
— Lave com água do mar, pois ela facilita a retirada de eventuais tentáculos que estejam grudados na pele, liberando mais veneno e provocando mais dor. Coloque vinagre na queimadura. É o melhor produto para diminuir o efeito do veneno na pele e atenuar a dor. Qualquer tipo de vinagre serve. Puro, sem diluir em água — explica a médica.
Segundo Mariele, compressas por 30 minutos também ajudam a aliviar a dor. Ela ressalta que é mito colocar urina na queimadura.
— Pode, inclusive, piorar a lesão e levar à infecção local — alerta.