Quem passou pelo Litoral Norte gaúcho no inverno de 2020 e está retornando para o veraneio em 2021 vai encontrar um cenário diferente. Guaritas que haviam sido levadas pela ressaca do mar foram reconstruídas do zero, com ajuda de prefeituras, empresas e até de guarda-vidas. Em outros locais, postos foram desativados.
Segundo o Corpo de Bombeiros, dez locais foram reconstruídos desde o início da Operação Verão, em 19 de dezembro. Todos foram levados ou praticamente destruídos pela água: seis em Capão da Canoa (incluindo as praias de Capão Novo e Arroio Teixeira), três em Xangri-Lá e um em Tramandaí. GZH circulou por alguns locais nesta terça-feira (2) e conversou com banhistas e com guarda-vidas.
Na guarita 64, em Capão da Canoa, a casinha de madeira está pronta, mas falta proteção nas janelas, na parte frontal. A pintura também não foi concluída: a cor das tábuas contrasta com o amarelo e vermelho dos locais já pintados. Também falta pintar o número. Mesmo assim, o local que conta com guarda-corpo e telhado já é uma mansão para quem, há pouco tempo, não tinha nada:
— Na ressaca da Páscoa, não sobrou nada da casinha. Agora ficou bem bom, está ótimo pra trabalhar. Tem a estrutura necessária para que a gente não fique desguarnecido — relata o guarda-vidas temporário Daniel Silveira, 35, que faz dupla com Cristiano Tavares, 33.
Nas guaritas 90 e 97, em Xangri-Lá, a estrutura também está pronta, mas falta a pintura da casinha e do número, além de proteção nas janelas. Os veranistas se sentem confiantes com os novos postos de observação:
— Até tinha um resto da casinha, mas estava quebrada. Não tinha como os salva-vidas subirem e ficarem ali. Eu sentia falta, porque os netos entram na água. A gente se sente mais confiante. Como eles iam ter uma boa visão se não podiam subir? — questiona a aposentada Marta Inês Gonçalves, 63, moradora de Arroio do Meio e que veraneia no Balneário Marina Maristela, na guarita 97.
Já em Arroio Teixeira, em Capão da Canoa, a reconstrução da guarita 56 começou após o Natal e terminou no início de janeiro: a casinha tem guarda-corpo e pintura em vermelho e amarelo.
— Com os salva-vidas a gente fica sempre prevenido, além de ter a referência — comemora a aposentada Anair Tisott Ballardin, 75, moradora de Caxias do Sul.
Na área de Capão da Canoa, todo o investimento foi feito pela iniciativa privada, segundo a Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio. A pintura, provavelmente, não será concluída nesta temporada. Na área de Xangri-Lá, a força-tarefa para reforma contou com condomínios fechados e empresários. A pintura deve ser concluída nos próximos dez dias.
Outras 49 guaritas foram recuperadas, segundo o Corpo de Bombeiros. Elas estão espalhadas por Capão da Canoa (incluindo Capão Novo), Arroio do Sal, Xangri-lá, Tramandaí, Nova Tramandaí, Cidreira, Pinhal e Quintão.
A guarita ideal
Os postos de observação dos guarda-vidas precisam obedecer a alguns critérios para que estejam em conformidade com o padrão. A estrutura precisa contar com proteção para intempéries (chuva, sol e vento), além de guarda-corpo, plataforma de observação e estabilidade na fundação e no assoalho.
A guarita mais próxima do ideal é a 145, localizada no centro de Tramandaí. A estrutura antiga foi levada pela água, e a atual começou a ser construída há 20 dias - e já está praticamente finalizada. O local de permanência dos guarda-vidas é amplo, e há guarda-corpo, escada na parte de trás, pintura em vermelho e amarelo e número em branco. Em breve, deve ser colocado acrílico nas janelas.
O soldado Adriano Iensen Pendeza, 39, foi um dos que “pegou junto” e ajudou a montar a nova estrutura:
— Não sobrou nada da anterior. Agora, está perfeita para trabalhar. É melhor do que a outra, porque tem mais espaço. O material foi comprado pela prefeitura, mas foi tudo nós que fizemos. É um ponto de referência para o banhista, a guarita central da praia.
O casal Adriana Quintino, 48, e Rodnei Farias, 55, tem casa em Tramandaí e acompanhou a montagem da guarita. Para eles, a estrutura traz mais segurança:
— Muda bastante, tanto para o banhista quanto para o salva-vidas. A gente se sente desprotegido (sem a guarita). Casualmente, acompanhamos a construção e agora estamos vendo a conclusão. A gente sabe que eles precisam estar abrigados pra poder atender bem - conta a servidora militar aposentada, que vive com o marido em Porto Alegre.
Segundo o chefe de operações do Corpo de Bombeiros, major Isandre Antunes, a licitação de cada prefeitura faz com que as estruturas sejam diferentes em cada cidade:
— Nós estamos buscando estabelecer um padrão. Acredito que, no ano que vem, teremos um padrão de guarita bem melhor. Essa de Tramandaí é a guarita mais funcional que nós temos, com todos os requisitos.
Postos desativados
Os Bombeiros optaram por desativar três guaritas em 2021, alegando baixo fluxo de banhistas. Elas ficam em Capão da Canoa (70), Xangri-lá (102) e Tramandaí (139).
Nos locais onde estavam as casinhas, estão placas que alertam para “local perigoso” e “risco de morte”. Bandeiras fincadas na areia trazem mensagem semelhante. Guarda-vidas baseados em postos próximos fazem rondas e observam o movimento nos locais onde, antes, houvera uma guarita.
Em Rainha do Mar, em Xangri-lá, o local nem sequer tem passarela para o acesso à praia, mas há movimento de banhistas no local onde ficava a guarita 102. Eles temem pela segurança:
— Nunca disponibilizaram gente para esta guarita. O pessoal vem das outras e dá uma olhada. Mas me preocupa muito, porque inclusive já houve ocorrências. A placa diz pra não tomar banho, mas é porque eles não querem vir. Faz umas duas semanas que tiraram a estrutura antiga — conta a empresária Simone Pires Boeno, 42, que costuma trazer a filha Antônia, 5, para a beira da praia.
Em Tramandaí, a guarita removida ficava na barra, em uma praia quase que escondida entre o canal e uma parede de pedras. O local ficou sem proteção com a retirada da casinha de número 139.
Nathiele Machado, 27, mora em Tramandaí e costuma levar o filho Nathan, 7, e a enteada Isabelle, 12, para tomar banho de mar.
— A gente fica preocupado com as crianças, e orienta pra não entrar muito. Às vezes a gente vê salva-vidas, mas não sabe se estão aqui sempre. Ao mesmo tempo que este canto tem menos ondas, não tem a mesma segurança do que perto das guaritas.
As guaritas reconstruídas
- Capão da Canoa (incluindo Capão Novo e Arroio Teixeira): 48, 50, 54, 55, 56 e 64
- Xangri-lá: 90, 97 e 98
- Tramandaí: 145