As incidências de queimaduras de veranistas por água-viva nas praias do litoral do Rio Grande do Sul estão, aproximadamente, 10 vezes menos recorrentes neste verão do que na temporada passada. Se nos primeiros dias da temporada de 2019/2020 havia mais de 47 mil registros, agora, desde de 19 de dezembro de 2020, são pouco mais de 4 mil ocorrências.
Os dados são do Corpo de Bombeiros, que alega ter menos pessoas entrando no mar. Já biólogos e professores de biologia que atuam na região informam que estas incidências têm ligação direta com condições climáticas, mas destacam a importância de um levantamento sistemático e homogêneo para se ter informações mais precisas.
De 19 de dezembro do ano passado até o dia 5 de janeiro de 2021, o litoral norte e o litoral sul do Estado registraram pouco mais de 4.030 contatos entre água-viva e pessoas. Mas, no verão passado, no mesmo período de 17 dias, foram 47.359 registros. Uma média de 2,7 mil fatos diários. Levando em conta os números, em apenas dois dias da temporada passada, houve mais casos do que neste verão — até agora — de pessoas atingidas por água-viva na orla marítima. A diminuição neste verão chega a 91,4%.
O alerta dos guarda-vidas segue, inclusive com orientações e colocação de bandeiras de cor roxa em pontos com infestação. Em uma primeira avaliação, o major Isandre Antunes, chefe de operações do Corpo de Bombeiros no Estado, diz que há menos pessoas na faixa de areia, principalmente nos dias da semana, e que os feriados de Natal e Ano-Novo tiveram um dia a mais e sem distanciamento social na temporada passada.
Especialistas
O biólogo Maurício Tavares, do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), em Imbé, alerta que, na natureza, as questões não ocorrem de forma tão igual todos os anos — apesar da comparação dos dados ser entre períodos iguais. Ele destaca que são fatos registrados, ou seja, depende também de ação humana: alguém procurar um guarda-vida, ter profissionais em atuação no momento do ocorrido, bem como ser na área de cobertura de uma guarita. Segundo Tavares, tudo tem relação com mar, vento e temperatura.
Por exemplo, ele diz que invertebrados do mesmo grupo das águas-vivas, as caravelas portuguesas — que também causam as irritações na pele — são organismos que apareceram já na primavera, ainda em novembro, antes da chegada dos guarda-vidas e de um número maior de pessoas nas praias. Tavares enfatiza que ainda não se pode fazer comparações exatas, são só percepções, porque não há um dado coletado de forma homogênea e sistemática.
— Se não, será apenas uma falsa impressão de incidência. Inclusive sugeri um projeto-piloto para os guarda-vidas, uma coleta mais sistemática e até com o desenvolvimento de um aplicativo para buscar e tabular estas informações — diz Tavares.
O biólogo ressalta que este trabalho depende da grande demanda que os guarda-vidas já têm, mas que este levantamento futuro deve produzir excelentes dados para uma pesquisa mais detalhada sobre incidência destes invertebrados no Litoral.
A professora de biologia marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no Litoral, Carla Menegola, que é especialista em invertebrados marinhos, também entende que menos gente na água é um fator, mas também uma possível variação de temperatura por diversos eventos climáticos. Lembrando que águas mais quentes são favoráveis para a reprodução destes organismos e que os mesmos são trazidos à orla por correntes marinhas, ela lembra que são seres carnívoros. Por isso, os tentáculos — dependendo do tamanho da água-viva — possuem células que liberam toxinas para apreender, por exemplo, um peixe de pequeno porte ou para se defender de outro animal. Mas, em contato com a pele humana, causa irritação, já que é o mesmo sinal de alerta é emitido, independentemente se for uma pessoa ou uma possível presa ou predador.
A professora diz que ainda existem os chamados estiletes, uma espécie de pequenos espinhos, que entram na pele humana e dão a sensação de queimadura e de ardência. Eles abrem um espaço primeiro, para depois ocorrer a introdução da toxina.
— Mas isso não é para atacar o ser humano, é defesa e alimentação do animal, mas como o ser humano está ali, principalmente no verão, quando elas estão em águas mais quentes e próximas da costa, quando são trazidos pelas correntes marinhas, ocorrem os contatos justamente no momento em que elas se proliferam devido às temperaturas mais amenas — diz Carla.
Em caso de incidência
- Não esfregue o local.
- Cobrindo os dedos com uma camiseta ou toalha, retire os eventuais tentáculos grudados à pele.
- Lave o local com água do mar ou mineral. Jamais utilize água doce.
- Procure a guarita de guarda-vidas mais próxima para aplicar vinagre, que proporciona o alívio da dor.
- Depois de meia hora, um banho morno é benéfico.
- Se o paciente tiver febre, pode tomar um antitérmico.
- Algumas pessoas desenvolvem reação alérgica, com vermelhidão, prurido e coceira. Antialérgicos e analgésicos também podem ser necessários.
- Pomadas com neomicina e cremes hidratantes são indicados. Os melhores hidratantes são aqueles com a menor quantidade de produtos químicos _ quanto mais água na fórmula, melhor.
- Quando a queimadura for muito extensa e se o quadro geral do paciente for ruim, busque atendimento médico.
- Se o banhista for queimado nos olhos, é preciso procurar um pronto-atendimento com urgência em busca da avaliação de um especialista.