Os números de lesões provocadas por águas-vivas no litoral do Rio Grande do Sul já ultrapassam os registrados na temporada anterior. Até domingo (5), a Operação Verão 2020 contabilizou 38.855 mil casos, contra 33.622 mil no mesmo período de 2018/19. Com isso, além do vinagre, um novo item desponta: um filtro solar que promete repelir os invertebrados e suas toxinas.
Produzido em Israel, o Safe Sea, que passou a ser importado para o Brasil neste ano, atua em algumas frentes para inibir a intoxicação. De acordo com o site do próprio laboratório, inicialmente, o creme faz com que os tentáculos das águas-vivas deslizem sobre a pele, evitando o contato direto. Depois, ele lança substâncias que "enganam" alguns sistemas do animal, fazendo com que ele reaja ao toque como se estivesse em contato com outra água-viva, e não à pele.
Certificado pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão norte-americano similar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o filtro apresentou bons resultados em estudo conduzido em 2002 pela Stanford University School of Medicine, também nos Estados Unidos. Ele inibiu a ação das toxinas em 10 das 12 pessoas participantes da amostra. Apenas duas apresentaram algum tipo de desconforto no braço no qual o produto foi passado. Contudo, a dor foi inferior àquela sentida no braço que não teve o creme usado. Em 2006, outra pesquisa, desta vez da University of Minnesota, dos EUA, publicado no Journal of Travel Medicine, concluiu que o Safe Sea é uma barreira tópica efetiva na prevenção de mais de 80% das intoxicações.
O médico dermatologista Vidal Haddad, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), destaca que, via de regra, uma boa dose de vinagre e água gelada do mar ajudam a resolver o desconforto quando há contato com a água-viva, sem a necessidade de comprar um produto específico para tal.
— Isso existe há tempos lá fora e nunca foi milagroso. Não testei, mas sei que age como repelente. (O contato com águas-vivas) Não é uma coisa absurdamente grave que justifique comprar algo específico.
Por aqui, este filtro é comercializado em algumas farmácias. Um tubo de 100 ml do filtro com fator de proteção 50 custa, em média, R$ 70.
Fuja da água doce
Usada para capturar presas e também como sistema de defesa, as toxinas ficam localizadas nos tentáculos das águas-vivas que, em contato com as pessoas, são depositadas como uma espécie de farpa na pele, injetando veneno nela.
— Essa toxina varia de espécie para espécie. Algumas têm potencial para maiores danos — explica a bióloga Carla Ozório, professora do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ceclimar/ UFRGS).
Ainda carente de estudos, o fenômeno crescente dos últimos verões pode ter relação com dois fatores, especula a professora. O primeiro é o aumento das espécies com potencial de causar lesões na costa gaúcha em razão do predomínio de correntes de águas tropicais nesta época do ano. Segundo, é uma maior quantidade de banhistas dentro do mar.
— Isso aumenta a probabilidade de acidentes. Teríamos que ter certeza se, antes de aumentar o número de águas-vivas, não aumentou a população do Litoral em razão da onda de calor que tivemos — sugere a bióloga.
Em caso de lesão por água-viva, a orientação é utilizar apenas vinagre e compressas de água do mar.
— Vinagre é bem-vindo porque trava as células de veneno, que são microscópicas, fazendo com que elas não se espalhem. Água doce (da torneira ou mineral) faz com que as células disparem veneno. Para dor, o gelo é o melhor anestésico — ensina o dermatologista.