Acostumada a receber milhares de argentinos durante o verão, a vizinha Santa Catarina deve registrar uma mudança no perfil dos seus visitantes nos próximos meses. Em razão da pandemia, os hermanos devem ceder espaço aos turistas do próprio Brasil. A estimativa é da Agência de Desenvolvimento do Turismo catarinense, a Santur.
A expectativa, explica Fábio Farber, gerente de promoção da Santur, parte da observação de novos hábitos de viagem adotados durante a crise do coronavírus, como, por exemplo, os deslocamentos de carro e em família.
— Por isso, temos a perspectiva de que tenha um deslocamento mais acentuado de gaúchos e paranaenses, principalmente, e também do público do Sudeste. Uma fatia muito boa de paulistas que acaba indo em veículo próprio — disse Farber, durante a realização da 32ª edição do Festuris, evento dedicado ao setor do turismo, realizado em Gramado entre 5 e 7 de novembro.
Pesquisa de Inteligência de Mercado do Grupo RBS aponta que o litoral catarinense será o destino de 56% dos gaúchos consultados em suas férias no próximo verão.
O aumento dos visitantes internos, acredita, pode ajudar a suprir a ausência dos argentinos nas areias catarinenses. Ainda assim, observa, há diferenças entre os dois públicos. Conforme Farber, os brasileiros, geralmente, ficam menos tempo nos destinos, ao contrário dos hermanos.
— O argentino tem a permanência mais alongada que o turista brasileiro. Eles ficam acima de sete dias, enquanto o público interno fica até sete dias. Quanto ao ticket médio, acredito que não tenha diferença — disse, ponderando que, por ficarem mais tempo, os estrangeiros acabam gastando mais.
Natureza ganha força
Questões geográficas também impactam na escolha do destino final, frisou o gerente da Santur. Pela proximidade, os gaúchos tendem a ocupar mais as praias do sul até o centro de Santa Catarina. Por outro lado, os paranaenses fazem o oposto: vão do Norte ao Centro. Já os paulistas, muitas vezes, preferem Balneário Camboriú, por sua característica mais cosmopolita.
— Tem essas ocupações, porém, isso muda muito hoje, pois a pandemia impôs novas regras. Então, a gente acredita que o turista vai procurar locais mais afastados, sem tanta aglomeração. Talvez tenhamos mais movimento em praias que não eram tão tradicionais. Esperamos que os turistas não fiquem só nas praias, mas que também aproveitem destinos de natureza, como a própria Serra, que sempre registra bons números no verão — destacou.
De fato, os destinos com áreas naturais são uma tendência observada neste ano. Gilson Machado, diretor-presidente da Agência Nacional de Promoção Internacional de Turismo (Embratur), que está atuando apenas no mercado interno em decorrência da pandemia, cita uma pesquisa feita pelo Google que mostra o crescimento das buscas relacionadas ao turismo de natureza em 2020 na comparação com o ano passado:
— Em 2019, a cada cem buscas por turismo no mundo, apenas 10% eram por turismo de natureza. Agora, a cada cem, 54% procuram esse tipo de turismo. É mais seguro, as pessoas estão procurando ambientes ao ar livre — avalia.
A Organização Mundial de Turismo (OMT), acrescenta Machado, emitiu uma nota afirmando que, no período pós-pandemia, o Brasil é um dos países com maior potencial de crescimento em razão de suas características naturais.
— Somos os únicos no mundo que têm seis biomas: pantanal, pampa, mata atlântica, Amazônia, caatinga e cerrado. Ainda temos a nossa Amazônia Azul, a maior capilaridade hídrica do mundo e sem furacão, sem terremoto, sem desastres naturais, sem guerra — finaliza o diretor-presidente.