Mesa ao centro, um jogador ou duplas de cada lado e concentração extrema. Dois toques na bola para ter o domínio e um terceiro para devolver, com a cabeça, peito ou pé com uma pirueta como uma bicicleta ou um voleio. A bola quica na mesa do adversário e a cena se repete. Se não acontecer de novo, é porque um ponto foi marcado. É assim que se disputa um jogo de futmesa, uma mistura entre futevôlei e pingue-pongue que ganhou força neste veraneio no litoral gaúcho. Futmesa também é o apelido que os praticantes usam para se referir ao futebol de botão, como GaúchaZH demonstrou em reportagem publicada há duas semanas na seção Singular.
Partindo direto das concentrações das seleções e dos grandes clubes brasileiros e do Exterior, divulgadas em vídeos com milhares de curtidas no Instagram, as disputas do novo esporte vêm fazendo a cabeça de quem é apaixonado por futebol, especialmente de adolescentes.
– Acho uma atividade muito massa para se fazer na beira da praia. A gente saiu de casa e veio aqui para a areia só para isso. Conhecemos o esporte na internet, nos vídeos do Neymar e do Ronaldinho – explicou o estudante João Victor Pereira Lopes, 17, que pratica o esporte na mesa de um quiosque, em Xangri-Lá.
Lopes estava acompanhado de Lucas Pinzon, também de 17 anos. Os dois são de Atlântida Sul e aproveitam para treinar durante as férias escolares. Os amigos ignoraram o vento forte que carregava flocos de areia para perto do local onde estavam. A cada erro, se divertiam e debochavam um do outro. Os celulares foram deixados em cima dos chinelos e, naquela altura, já com mais de uma hora de partida, já estavam cobertos pela areia.
O quiosque em que os adolescentes jogavam, o Deck22, na altura da guarita 92 de Xangri-Lá, comprou neste verão a mesa de uma pequena fábrica de Porto Alegre. Segundo o educador físico do quiosque e professor de surfe Gustavo Oliveira, 28 anos, a mesa é o grande atrativo do local e reúne muitas pessoas, especialmente aos finais de semana. A mesa é disponibilizada de graça, assim como é emprestada uma bola de futevôlei para a partida.
Diferentemente dos amigos, que jogavam um contra o outro, há também jogos em dupla ou trio, tornando o esporte uma alternativa aos tradicionais jogos de futebol na beira da praia. Um dos pontos em que o futmesa ganha é que não existe contato físico – com isso, se reduz o risco de lesões.
A educadora física Clarissa Bravo de Carvalho, que trabalha no Sesc de Capão da Canoa, explica que o esporte aprimora especialmente a coordenação motora.
– Trabalha muito a atenção. Tem que ter ritmo e habilidade para jogar. É quase um futevôlei, só que mais difícil porque o espaço é reduzido e (a bola) tem que quicar na mesa do adversário. O controle de bola e a noção de espaço são essenciais para quem está jogando – explica.
Já houve, inclusive, uma competição de futmesa no Sesc de Capão da Canoa, com premiação de camiseta e medalha, em janeiro. Participaram 12 duplas em um jogo que ganhava quem atingisse dez pontos. Devido à grande procura, a administração do local decidiu deixar a mesa disponível para o jogo até durante as noites, durante todo o veraneio.
O alvoroço com o futmesa é tão grande que fez o Sesc comprou para esta temporada mesas para colocar em todas as unidades de sua programação de verão no Estado. No Litoral Norte, além de Capão, há mesas em Torres, Atlântida, Atlântida Sul, Imbé, Tramandaí, Cidreira e Pinhal. No Litoral Sul, também foram colocadas unidades na praia do Laranjal, em Pelotas, em São Lourenço do Sul e no Cassino, em Rio Grande.
As mesas preparadas especificamente para o esporte possuem aproximadamente dois metros de comprimento. A de Xangri-Lá é plana, enquanto a de Capão da Canoa tem um ângulo convexo. As das concentrações de clubes são mais fortes e chegam a resistir a subidas na mesa para jogadas plásticas e certeiras. Na praia, há também quem jogue em uma mesa de cozinha ou de plástico mesmo.
Em outros lugares do mundo, o esporte é conhecido como "teqball". Há uma federação internacional para o jogo, com embaixadores como o ídolo do Barcelona Carles Puyol e Ronaldinho Gaúcho, um dos responsáveis pela popularização do esporte no Rio Grande do Sul. A primeira Copa do Mundo de Teqball foi realizada em junho de 2017, em Budapeste, capital da Hungria. Os primeiros registros de partidas são de 2015.
O jogo também é conhecido como "futtoc" ou "mesabol", com dimensões menores.
Oportunidade para fábrica da Capital
A popularização do futmesa se tornou uma oportunidade para a fábrica de shapes de skate e pequenas pranchas Osnós Boards, do bairro Assunção, zona sul de Porto Alegre. O dono da empresa, Bruno Lemos da Silva, 29 anos, teve contato com o novo esporte em Saquarema, litoral de São Paulo, enquanto acompanhava uma etapa da World Surf League (WSL), o campeonato mundial de surfe.
– Tinha uma mesa para o pessoal jogar e a gente passou todos os dias que estávamos lá jogando. Nos divertimos demais com a mesa, era algo fantástico, diversão de toda a galera. Quando voltamos para Porto Alegre, os amigos de um bar pediram para fazer uma mesa, e eu fiz meu primeiro projeto – comentou o administrador.
A primeira mesa foi colocada no Céu Bar + Arte, na Rua Lima e Silva, em Porto Alegre. Uma outra foi feita para o mesmo bar em sua unidade de Atlântida. Uma terceira foi feita para o Deck 22, na mesma praia. Cada uma foi vendida por aproximadamente R$ 1,2 mil.
A mesa é feita de madeira compensada, sextavada e reta. Silva entende que desta maneira a jogabilidade é maior, já que não há as pontas. A fábrica ainda não divulgou que faz mesas preparadas para o esporte, mas planeja aumentar o foco no projeto nos próximos meses, pela procura ser alta.
Onde jogar
As unidades de verão do Sesc no litoral gaúcho (confira as cidades abaixo) possuem mesas preparadas para futmesa. O uso do espaço é gratuito e uma bola de futevôlei é emprestada.
- Atlântida
- Atlântida Sul
- Capão da Canoa
- Cassino
- Cidreira
- Imbé
- Laranjal
- Pinhal
- São Lourenço do Sul
- Torres
- Tramandaí