Uma faixa de 160 quilômetros distancia a primeira da última praia do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Ao longo do percurso, dezenas de balneários estão distribuídos em 11 cidades – Palmares do Sul, Balneário Pinhal, Cidreira, Tramandaí, Imbé, Osório, Xangri-lá, Capão da Canoa, Terra de Areia, Arroio do Sal e Torres.
Em toda a orla gaúcha, avistam-se a imensidão da faixa de areia, vazia ou cheia de guarda-sóis e cadeiras coloridas, o mar, ora com nuances límpidas, ora turvo e repleto de mães d'água, os arranha-céus, que no entardecer fazem sombra nas principais praias, e a vegetação, resistente aos fortes ventos. Mas e do alto? Como são, por exemplo, o Parque da Guarita, em Torres, e a Barra de Tramandaí e de Imbé, alguns dos destinos mais visitados por veranistas?
A reportagem de GaúchaZH percorreu toda a faixa de areia do Litoral Norte e escolheu seis pontos distintos para apresentar de cima essas paisagens.
Dunas Altas, em Palmares do Sul: a primeira do Litoral Norte
As quase 200 casas que compõem Dunas Altas, em Palmares do Sul, dão ao balneário o título de primeira praia do Litoral Norte, para quem vem do Sul do Estado. Distante 160 quilômetros de Torres, Dunas Altas é um pequeno paraíso cercado de areia por todos os lados. Um condomínio fechado, mas sem muros ou cercas. Tem como vizinhas a praia Santa Rita, a dois quilômetros, e o Farol da Solidão, em Mostardas, a 35 quilômetros.
Criado no final da década de 1980, o balneário é terreno do farol Rubem Berta, com 30 metros de altura, e possui cinco ruas. Não há guarda-vidas, transporte público e o sinal do celular pega em pontos determinados. Quem veraneia no local aprecia exatamente isso: a possibilidade de contemplar a natureza, distanciando-se de algumas das facilidades da vida moderna.
Lagoa dos Barros em Osório e Santo Antônio da Patrulha: imponência na água doce
A maior lagoa dos municípios de Osório e Santo Antônio da Patrulha é também uma das maiores de todo o Estado, conforme o projeto Lagoas Costeiras, desenvolvido pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Ela ocupa uma área de 9 mil hectares e tem 14,5 quilômetros de comprimento - o equivalente a ir do centro de Osório ao centro de Tramandaí. O ponto mais fundo da lagoa fica a apenas 250m da margem norte, com 6,1m de profundidade. Mesmo assim, ela tem uma das praias de água doce mais frequentadas do Litoral Norte, o Balneário Lagoa dos Barros, em Santo Antônio da Patrulha.
Também conhecida pelas inúmeras lendas que a acompanham, a Lagoa dos Barros é cenário de histórias, como a da noiva Maria Luísa, morta pelo noivo na década de 1940 na altura da Agasa e que até hoje apareceria para caminhoneiros e moradores da região. Outra história é a da cidade submersa e a ligação subterrânea com o mar, o que explicaria as águas turvas da água e a formação de ondas em dias de temporal.
Parque eólico e as dunas entre Cidreira e Tramandaí: tecnologia e natureza juntas
Apesar de chamar-se Cidreira I, o parque eólico que se observa da RS-786 ao lado das dunas da praia de mesmo nome está localizado em Tramandaí. Inaugurado em 2012 e em operação comercial desde 2014, o parque tem 31 unidades geradoras com potência instalada de 70 megawatts. Cada torre tem 98 metros e pás de 40 metros, que somam uma altura total de 138 metros, equivalente a um prédio de 50 andares. A energia limpa e renovável abastece mais de 2 mil unidades habitacionais.
Ao lado do parque, uma área de cerca de 10 quilômetros de preservação permanente guarda um refúgio entre as zonas urbanas da região. Quando chove, lagoas se formam temporariamente entre as montanhas de areia, que chegam a 20 metros de altura. As dunas de Cidreira são espaço de visitação para contemplação da natureza.
A barra de Tramandaí e de Imbé: vista disputada
É na divisa entre as cidades de Tramandaí e de Imbé que fica um dos pontos mais visitados no amanhecer e no entardecer. Pela manhã, a vista é para o mar. À tardinha, o sol se põe no rio Tramandaí e na lagoa das Custódias, ao fundo das duas cidades. Ponto de encontro de pescadores profissionais e amadores, a Barra de Tramandaí e de Imbé também é especial por ser uma das poucas no mundo a registrar o ritual da colaboração entre golfinho (boto, como é chamado no Sul) e pescadores.
Uma família da espécie Tursiops truncatus vive na região e auxilia os profissionais na pesca colaborativa, sinalizando onde estão os cardumes de peixes. De acordo com o projeto Botos da Barra, realizado pelo Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos da Ufrgs (Ceclimar), este fenômeno só ocorre no Sul do Brasil, em Tramandaí e Laguna (SC), e na costa oeste da África, na Mauritânia.
Atlântida: mistura de história
Na praia mais frequentada pelos jovens gaúchos, há também a plataforma de pesca mais antiga em atividade no Litoral Norte, conhecida como a "velha senhora". Com três quilômetros de extensão, Atlântida, pertencente ao município de Xangri-lá, atrai a juventude pelas inúmeras danceterias e bares que lotam à noite e, também, por ser point de ondas propícias ao surf.
Por sua vez, o cartão-postal da praia, a Plataforma Marítima de Atlântida, luta para manter-se de pé. Construída em 1970, perdeu o braço sul durante uma das maiores ressacas na região, em 1997. Hoje, resta apenas o braço norte. Sócios pertencentes à Associação dos Usuários da Plataforma Marítima de Atlântida (Asuplama) são os responsáveis por manterem aberta a área, que passa por reformas. Pagando uma taxa de visitação, os turistas podem percorrer os 300 metros de extensão do local.
Parque da Guarita: a paisagem singular
Criado em Torres no início da década de 1970, o Parque Estadual José Lutzenberger, mais conhecido como Parque da Guarita, é o principal atrativo turístico da cidade litorânea. O contraste das torres basálticas com o mar deixa a paisagem ainda mais única na região e é alvo de estudos para geólogos do mundo inteiro. O nome da própria cidade surgiu por conta da formação rochosa na faixa de praia.
A entrada é gratuita para quem vai a pé ou tem veículo emplacado em Torres. Visitantes com carros de outras cidades devem pagar uma tarifa – os valores variam de R$ 10 a R$ 80 por duas horas e a depender do tipo de veículo. O horário de atendimento na baixa temporada é diariamente, das 8h30min às 17h30min. Na alta temporada, é das 8h às 20h. Seis escadarias levam os visitantes às partes mais altas dos morros que formam o parque. Mas é preciso cautela ao se aproximar das áreas próximas ao mar: a região é conhecida como a mais perigosa para banhistas, entre as praias do Litoral Norte. A equipe de GaúchaZH chegou a flagrar um salvamento na área.