O possível descarte de cerca de 25,3 toneladas de bagre no Litoral Norte, descoberto no sábado (20), quando os animais começaram a aparecer na orla de praias como Atlântida Sul e Imbé, revoltou pescadores e entidades ligadas à atividade na região. Na próxima sexta-feira, eles prometem fazer um protesto na ponte que liga Imbé e Tramandaí para pedir agilidade nas investigações.
— Estamos pedindo para que não fique impune o que aconteceu. Um bagre pode passar de 30 quilos. Entre os que foram mortos, a maioria não passava de dois quilos. Perdemos muito mais, se contarmos o peso que um peixe desses pode chegar. Certamente pegaram os maiores e descartaram o resto. E em plena piracema — lamenta Denis Luiz Vencato, pescador e lojista às margens do Rio Tramandaí, ressaltando que a captura dessa espécie é proibida no Estado desde 2014.
Os pescadores questionam os órgãos ambientais sobre o monitoramento da costa. Segundo eles, a fiscalização é eficiente em terra, onde atuam os pescadores artesanais, mas não ocorreria da mesma forma em alto mar, onde circulam os barcos pesqueiros que fazem a pesca mais volumosa. Muitos afirmam que volta e meia são encontrados animais mortos na praia, vítimas da pesca predatória e ilegal. No caso do cardume de bagre, apostam que foram descartados por conta do tamanho – pequenos, não serviriam muito para a produção de filés.
Preocupação com o excesso de pesqueiros
O capitão João César Verde Selva, comandante da 2º Companhia do 1º Batalhão Ambiental da Brigada Militar, órgão que recebeu a denúncia, explica que em novembro passado foi realizada uma reunião entre BM, Ibama, Polícia Federal e Marinha, na qual o comando ambiental informou a preocupação com a presença de muitos pesqueiros na costa gaúcha e a necessidade de ordenamento dessas embarcações, que em alguns casos colocavam em risco a população.
No último final de semana, algumas pessoas machucaram-se com o esporão dos bagres descartados, segundo o capitão. No mar, o batalhão tem competência para atuar em águas internas e em até três milhas da costa marítima. Depois dessa faixa, a Marinha fiscaliza o trânsito e as condições das embarcações, e o Ibama, as questões relativas ao ambiente. O instituto reconhece que, em razão da carência de recursos, atua mais por meio de denúncias.
A mortandade dos bagres também impulsionou a mobilização do Fórum de Pesca do Litoral Norte e do Meio, com representação de Torres a Tavares. A entidade denunciou o crime aos Ministérios Público Estadual e Federal e levantou a ideia de um debate acerca de um código de pesca para o Rio Grande do Sul, que definiria com clareza quais peixes podem ser pescados na costa, os materiais utilizados nessa captura e as restrições.
— Pedimos realmente um regramento, discutido com os órgãos ambientais, com os pescadores e com dados concretos — diz Leandro Miranda, integrante do fórum, que deve debater a questão em um encontro marcado para março, em Torres.