Terminou na madrugada deste domingo (21) o recolhimento dos bagres que apareceram mortos entre a sexta-feira (19) e o sábado (20) na orla de Mariluz e Santa Terezinha, no município de Imbé. A pesagem dos animais foi finalizada durante a tarde e, no total, foram contabilizadas 25 toneladas de peixes.
Ainda que a causa da mortandade não esteja clara, a hipótese que ganha força é de que barcos tenham realizado a pesca de cerco com arrastão. Duas embarcações foram avistadas próximas à costa na tarde de sexta e na manhã de sábado. Ao perceberem a presença de um helicóptero da Brigada Militar que fazia um sobrevoo pela região, os responsáveis pela pesca ilegal teriam devolvido os animais no mar:
– A perseguição fica difícil de helicóptero. E eles suprimiram identificação, então não foi possível ver a origem dos barcos – diz o diretor do Departamento de Pesca de Imbé, ligado à Secretaria do Meio Ambiente, Pesca e Agricultura do município, João Batista Ferreira, acrescentando que os pesqueiros teriam rumado para Santa Catarina.
Proprietária de uma casa em Mariluz, a costureira Marley Fill se disse chateada com a situação. Ela foi uma das que ouviu relatos da presença dos barcos nos dias anteriores ao surgimento dos animais na areia.
– Nunca vi coisa igual. Era muito triste. Acho que passava de seis mil peixes. Pela manhã, pegaram uma retroescavadeira para retirar os animais – conta.
– É uma tristeza. Eram toneladas de peixes – completa Marlene Andrade, funcionária de um quiosque no entorno da guarita 120.
Imagens dos barcos devem ajudar na investigação dos responsáveis
Declarado como uma espécie em risco de extinção em setembro de 2014, o Genidens barbus é o bagre mais comum na região de Tramandaí, diz o oceanógrafo do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) Joaquim Ribeiro. Baseado em um estudo feito em Rio Grande, a colocação dos bagres na lista de risco em todo o Estado considerou a distribuição regional desses animais, tornando sua pesca um crime ambiental.
– Quatro toneladas seria bastante. Mas 20 é demais. Essa mortandade tem impacto significativo para a espécie – avalia Ribeiro.
Por se tratar de crime ambiental, supõe Marcelino Teixeira, presidente da Colônia de Pescadores de Imbé, as embarcações teriam largado os pescados no mar:
– O sonar deve ter sinalizado o cardume. Eles cercaram pensando que era uma qualidade de peixe e quando viram que era bagre, levantaram a rede e os animais morreram. Agora, é mais vantagem colocar o peixe fora ou deixar o pescador pescar? A lei está errada, essa pesquisa foi feita há 20 anos – critica o pescador.
Depois de apurar o volume total de animais, o próximo passo é enviar o relatório aos órgãos competentes. Conforme o capitão do Comando Ambiental da Brigada Militar, João César Verde Selva, Marinha do Brasil, Ibama e Ministério Público Federal devem receber documentos para apuração dos fatos no âmbito de suas competências.
– Já temos fotos de uma das embarcações que estavam aqui na costa, e elas vão compor o relatório que será encaminhado aos órgãos para apuração das responsabilidades dos fatos.
Na próxima semana, o Ceclimar deve receber amostras desses animais para classificação e análise das causas de morte.
Na manhã deste domingo (21), a reportagem voltou ao local onde havia acúmulo de peixes. Foram encontrados menos de cinco animais no trecho. Contudo, é preciso atenção entre as guaritas 119 e 122, pois o bagre tem esporões que podem causar ferimentos.
No sábado, o vendedor ambulante Jeferson Ribeiro Gonçalves precisou ser levado ao pronto atendimento de Imbé depois de fincar um esporão no pé. Ele conta que estava trabalhando na região quando foi surpreendido pelo "ferrão".
– Estava de tênis empurrando o carrinho quando o esporão entrou. Um senhor me ajudou a tirar o ferrão, e os Bombeiros me levaram ao pronto-socorro, onde tiraram os restos do peixe e me medicaram.
Guarda-vidas também ouviram diversos relatos de banhistas e surfistas que se machucaram dentro do mar em função da presença dos animais mortos na água.