É sob as sombras de árvores frondosas e taquarais, onde o cenário se completa com uma lagoa de águas transparentes, que há 48 anos uma comunidade se forma entre dezembro e março, às margens da ERS-784 (Km 5), em Cidreira, no Litoral Norte. Dispostos a fugir das grandes cidades e do vaivém das areias da praia nesta época do ano, famílias inteiras se mudam para as terras do Camping Magnus, uma área de cinco hectares que, pelo tempo de existência, acabou se tornando referência na região. Hoje, é um dos mais antigos ainda em atividade no Litoral Norte – título que o proprietário e fundador do espaço, Nilton Tressoldi Magnus, 59 anos, não tinha se dado conta até esta reportagem.
– Deve ser isso mesmo. Todos os outros que nasceram junto com o meu já não existem. Se tiver algum, será lá para as bandas de Torres, onde não conheço muito – diz Nilton, contando nos dedos e rebuscando os concorrentes na memória.
No final da década de 1960, Nilton encontrou a atividade que exerceria ao longo da vida. E é desta época que ele conta a criação do Magnus, mesmo que tenha sido por acaso. De tanto proibir os pescadores de invadirem a propriedade da família para usufruírem da Lagoa Fortaleza, Nilton passou a cobrar uma espécie de "pedágio" de quem se atrevia a cruzar a cerca de arame farpado.
– Ia a cavalo e cobrava uns trocos de cada um. Eles pagavam para montar acampamentos na beira da lagoa. Eu era um guri, mas já sabia negociar – recorda.
Ponto forte
Nilton lembra que, com a explosão dos acampamentos organizados a partir do início de 1970, a família só precisou registrar o serviço já oferecido desde o final da década anterior e construir banheiros coletivos. A área, que já chegou a comportar até 300 barracas durante a década de 1980, vem recebendo cada vez menos adeptos – cerca de 150 em 2016.
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Nilton justifica a queda na procura por conta das exigências dos clientes, que estão preferindo o conforto de um hotel – com café da manhã incluído, por exemplo. Para tentar alavancar o negócio, o empresário construiu 24 cabanas (diária entre R$ 80 e R$ 160) e 12 apartamentos mobiliados (diária de R$ 160), todos com banheiros particulares.
Durante o ano, quando o camping fecha, o local recebe excursões de escolas e de igrejas.
– O cliente pede conforto e está disposto a pagar. Vale investir! Se paramos no tempo, o negócio morre – ensina Nilton, que vê na tradição dos campistas e na beleza da Lagoa Fortaleza os pontos fortes.
– Estamos na terceira geração que segue conosco. Quem vem para cá, quase não vai ao mar e prefere aproveitar a natureza existente por aqui – completa.
Para ficar em barraca, a diária é de R$ 20 por pessoa.
"Somos uma grande família"
Entre os clientes assíduos do Magnus, está a dona de casa Almeri Gonçalves Lima, 51 anos, de Sapucaia do Sul. Frequentadora desde os dez anos, quando ia com os pais, Almeri seguiu acampando no local depois de se casar com o metalúrgico Roberto Lima, 53 anos, e ter os filhos, o bombeiro Wagner, 27 anos, e a fotógrafa Débora, 23 anos. A paixão pelo camping é tamanha, que a dona de casa nem se importa com a distância do mar de Cidreira – 5km: chega a ficar a temporada inteira sem avistá-lo, pois prefere os banhos na lagoa.
– Aqui é outro mundo. Fico contando os meses para vir para cá. E tenho arrepios quando estou voltando para a cidade – confessa Almeri, que já teve casa na praia, mas optou por seguir nas barracas do acampamento.
Assim como os outros clientes, os Lima também gostam de conforto. Só que nas barracas de lona. Almeri conta que o "luxo" do acampamento da família foi sendo conquistado ano a ano. A cabana tem assoalho de folhas e de tela na entrada (para evitar a areia) e de madeira dentro da peça, cortinas de TNT trocadas a cada dois anos, telas na volta contra os insetos, pia, eletrodomésticos e, até, máquina de lavar.
– Com o passar dos anos, fomos aprendendo a sobreviver na mata. Até sofá de madeira construímos sozinhos. Todo o ano montamos o acampamento em dezembro e desmontamos tudo em março – conta.
Como vizinhos mais próximos, estão as barracas da família do filho de Almeri e da irmã dela. Todos trabalham durante a semana, quando a dona de casa costuma ficar com o marido. Eles só voltam para Sapucaia do Sul no final do verão. Com tantos anos frequentando o mesmo ambiente, Almeri tem amigos de camping que levou para a vida urbana:
– Antes da internet, a gente só se encontrava no verão. Agora, combinamos pelo Facebook os encontros também no inverno. Tem uma das campistas que até me chama de mana. Somos uma grande família que o Nilton (o fundador) recebe todos os anos!
"Não dispenso!"
Foi buscando o ambiente familiar que o casal de sapateiros aposentados Armindo e Loiva Dalin, de 83 e 71 anos, respectivamente, de Igrejinha, descobriu o Magnus. Acampando há cinco décadas, os dois ficam no local há sete anos e se tornaram o "modelo de campistas" para o proprietário do camping. Antes de se instalarem por 70 dias, Armindo vai à área com um familiar para montar o acampamento, que conta até com "jardim de verão", como o casal identifica a área entre centenas de taquaras onde costumam sorver o chimarrão da tarde.
– Não é o preço da diária que nos atrai, é a chance de sair do meio de tanta gente. Moramos no centro de Igrejinha durante o ano inteiro. Nas férias, queremos natureza e sossego – resume Armindo.
Assim como Almeri, o casal não vai ao mar. Quando não estão na barraca, na companhia do cão Frederico, os dois fazem outras atividades: Armindo gosta de pescar na lagoa e Loiva de cuidar das flores plantadas ao redor do acampamento.
– É uma vida diferente, com o convívio harmônico entre todos. Não dispenso isso por nada! – afirma Loiva, que aos finais de semana gosta de preparar caipirinhas e distribuir aos vizinhos de temporada.
Preços são atrativos
Enquanto a diária num hotel no Litoral Norte pode ultrapassar R$ 100, nos campings, a diária numa barraca varia de R$ 20 a R$ 40. Uma das principais diferenças está no espírito coletivo de quem escolhe a segunda opção. O compartilhamento do banheiro é um dos serviços oferecidos, como ocorre no Magnus.
A área é dividida por gêneros e compartilhada entre todos campistas. Também é comum o compartilhamento de churrasqueiras, principalmente, nos finais de semana. Assim como o camping de Cidreira, pelo menos outros dois no Litoral Norte já ultrapassaram a barreira das quatro décadas de existência (Santa Luzia e das Furnas). No site TripAdvisor (o maior site de viagens do mundo), outros quatro são citados por viajantes.
Confira abaixo quais são eles:
Camping Cabanas Guarita: Rua Porto Alegre, 530, Praia da Cal, Torres, fones (51) 3664-2569 e (51) 99912-6013
Barraca: R$ 40 por pessoa (valores diminuem de acordo com a quantidade de campistas na barraca)
Motor-home: R$ 80 para 2 pessoas (valores diminuem de acordo com a quantidade de campistas na barraca)
Sobrado: R$ 250 para até 8 pessoas
Cabanas: R$ 200 para até 6 pessoas
Quitinetes: de R$ 150 a R$ 180
Camping Fazenda Carla: Estrada do Mar, BR-389 Km 88, Torres, fone (51) 3605-2357
Barraca: R$ 30 por pessoa
Pousada Camping Oliveira: Avenida Central, 1.403, Atlântida, fone (51) 3689-6575
Barracas: R$ 30 por pessoa (se levar barraca) e R$ 65 por pessoa (se alugar barraca no local)
Quartos para até 8 pessoas: R$ 80 por pessoa (valor diminui de acordo com a quantidade de hóspedes no quarto)
Camping Lagoa e Mar: Avenida Fernandes Bastos, 5.500, Tramandaí, fones (51) 3661-1840, 99908-9267, 99379-6609 e 98277-4013
Barracas: R$ 25 por pessoa
Trailer: R$ 35 por pessoa
Motor-Home: R$ 40 por pessoa
Camping Santa Luzia: Rua Mauricio de Souza, 262, Bairro Santo Antônio, Capão da Canoa, fones (51) 3665-3281 , 98120-5050, 99973-2614 e 98120-5050
Quartos com banheiro: R$ 60 por pessoa (quartos também para três e quatro pessoas)
Cabanas para até 7 pessoas e com banheiro externo: R$50 por pessoa
Barracas: R$ 35 por pessoa
Pousada e Camping das Furnas: Avenida Beira-Mar, 917, Praia da Cal, Torres, fones 3664-3284 e 99983-2946
Barracas: R$ 35 por pessoa
Apartamento: R$ 140