A preparação segue a mesma: ainda em casa, em fila indiana, um passa protetor nas costas do outro. Cadeiras no carrinho das tralhas, guarda-sol na mão, bebidas no isopor, todos pegaram óculos de sol e bonés, é hora de partir para o mar.
Na região central de Capão da Canoa, a caminhada é tranquila até os últimos 50 metros antes da areia. A partir dali, os caminhos estão tortuosos. Do asfalto à beira, uma grande obra, que está mudando para sempre a cara desta praia, toma conta. Derrubar o clássico Baronda foi só o começo.
Em meio a obras, litoral gaúcho se prepara para receber veranistas
A revitalização da orla está a pleno, com muitas máquinas e homens trabalhando justo no período em que a população do município pula dos mais de 55 mil habitantes para cerca de 350 mil. Destes, naturalmente, a maioria está de folga e quer colocar as pernas ao ar de frente ao chocolatão.
Sem controle sobre o fervo, operários sentados no chão martelam pedras portuguesas enquanto banhistas pisam na calçada assentada há poucos minutos. Blocos de grama são pisoteados sem nem serem regados. O longo muro de contenção, que serve de banco na área de eventos já pavimentada, tem pessoas sentadas mesmo onde escoras de madeira ainda sustentam o concreto em processo de secagem. Para levar o filho de 11 meses no carrinho, o comerciante de Santa Cruz do Sul Evandro Kist precisou desviar de vergalhões de ferro.
Obras de revitalização se espalham pela beira-mar de Capão da Canoa
O veranista de Capão da Canoa está com aquela sensação de casa em obras, quando todos se estressam, mas guardam uma esperança: está ruim, mas ficará bom, um dia. Ninguém queria entrar o verão convivendo com a bagunça, mas a maioria concorda que é um sacrifício capaz de render prazer e tranquilidade no futuro (que chegará em março do ano que vem, essa é a promessa da prefeitura).
- Tivemos problemas na licitação, na licença e diversos outros. Gostaríamos de ter começado em maio ou junho, mas começamos em outubro, muito em cima do laço. Por isso, queremos pedir desculpa aos veranistas, aos moradores, aos que visitam Capão da Canoa pelo transtorno que está causando essa obra. Mas tenho certeza que isso é para o bem de todos - afirma o prefeito Valdomiro Novaski (PDT).
Maquete mostra como ficará a orla de Capão da Canoa
Foto: Félix Zucco / Agência RBS
Se algo já se impõe aos primeiros olhares é a amplitude de visão da praia. Antes, com quiosques e as chamadas casas de governo (como da Brigada Militar, Corsan, entre outras), quase não se via o horizonte ao caminhar no calçadão. Dos 30 quiosques, sobrarão oito com estilo renovado, mas apenas cinco já estão em funcionamento.
- Estava poluído e tinha muitos usuários de drogas próximo aos quiosques, as famílias não podiam nem passar - lembra o prefeito.
Agora, com um amplo espaço e calçado, o mar parece ter se aproximado. Com vento suportável e lua cheia, na noite de segunda-feira, casais se sentavam para um papo ao som do mar. Mas a poucos metros, a falta de policiamento estragava a cena, com carros de som bate-estaca a pleno e baladeiros dançando e até soltando fogos.
A travessia da obra na visão dos veranistas
A maioria das dezenas de pessoas ouvidas pela reportagem assumiram um tom ponderado (seria por estarem de férias?). Foi difícil achar alguém radicalmente contra a obra. O que se escutava era até um certo alívio de que algo foi feito para dar uma cara nova a Capão da Canoa, uma das praias que mais cresce no Litoral Norte.
- Pelo que arrecadam, pelo amor de Deus. Demorou demais para melhorar, já que piorar não era possível - diz Gilberto Diehl, 68 anos, militar da reserva.
Uma declaração que resume um pouco do pensamento geral foi a de Amanda Casagranda, empresária de Anta Gorda:
- Está péssimo... Até ficar pronto. Não é desculpa para não ir à praia.
Conclusão parecida com a do médico Luciano Brum, 55 anos:
- Já era para estar pronto para receber as pessoas, mas isso é secundário. Daqui a dois, três anos, será esquecido e as pessoas contemplarão que houve progresso.