Por Cristina Ranzolin
Leio e ouço diversas histórias de pessoas que, depois de muitos anos de vida, finalmente conseguem ver de perto o mar e se deliciar tomando um banho entre ondas e espumas. Comigo foi diferente...o banho de mar, os castelinhos na areia, as caminhadas na praia sempre fizeram parte da minha infância. Quando eu era pequena, meus pais nunca quiseram comprar um imóvel no litoral, preferiam alugar ou levar meu irmão e eu para hotéis, sempre em locais diferentes.
Por isso, tive de recorrer a minha mãe para saber onde foi minha "primeira vez". Segundo ela, foi em Tramandaí, mas realmente não podia me lembrar, afinal eu tinha apenas alguns meses de vida.
Mas lembro, sim, das idas em família para Atlântida, onde meu tio Sereno tinha um apartamento no edifício Coral, de um veraneio nos chalés no centro de Atlântida junto com todos os colegas de rádio do meu pai, hoje meus colegas, outro no apartamento da tia Sonia, em Capão da Canoa, ao lado de um banhado onde sapos coaxavam sem cessar ao entardecer, a casa da tia Eloah em Atlântida, da tia Ida em Camboriú, do Ivan em Canasvieiras, das vezes que nos instalávamos no centro de Florianópolis e, a bordo de um Maverick branco, lotado de primos, nos dirigíamos cada dia a uma praia diferente.
Quando o sol teimava em se esconder, cantávamos em coro: "Viva o sol, do céu da nossa terra vem surgindo no alto da linda serra!" Rapidinho ele brilhava de novo... Meu avô materno, o vô Lauro, acostumado a andar no lombo de um cavalo e a lidar com o gado pelos campos do nosso Planalto Central, chamava o mar de Bichão.
Quando chegávamos à praia, depois de um ano longe, antes de nos acomodarmos, ele nos levava primeiro para ver o Bichão. Enquanto minha avó ajeitava toda a tralha que trazíamos dentro do fusquinha azul claro, com muitas delícias preparadas por ela - nunca faltava um grande pote de ambrosia -, nós não perdíamos tempo... corríamos para o banho naquela lagoa sem fim.
Eu e o vovô, de mãos dadas, ficávamos de lado para as ondas esperando que elas viessem com força quase nos derrubando. E, em meio a gargalhadas, às vezes realmente éramos levados por elas.
Meu irmão, apenas 11 meses mais velho do que eu, morria de medo dos siris e vivia encarrapichado nas pernas de minha mãe quando entrava na água. Só quando já chegava a uma profundidade que podia nadar, sem encostar o pé no fundo, soltava-se... Meu pai nos ensinou a furar as ondas:
"Água mole em pedra dura tanto bate ate que FURA!" era a deixa para a gente mergulhar de cabeça nas ondas. Também aprendemos com ele a pegar jacarés. Minha mãe apenas boiava, mas boiava como ninguém... ela podia ficar uma tarde inteira flutuando sobre a água...quem visse podia jurar que tinha uma boia debaixo dela.
Já adolescente, fui aprendendo a curtir outros prazeres do verão, não só à beira-mar... quantas amizades renderam esses veraneios, os amores de verão...que surgiam e às vezes acabavam antes do primeiro beijo porque era hora de voltar pra casa... Já adulta conheci mares mais distantes, mas nunca abri mão de estar perto do Bichão nas minhas férias.
Quando eu era uma garotinha, era preciso ficar de olho para que eu não entrasse mar adentro...hoje tenho que cuidar da minha filha, que aos sete anos já é uma apaixonada pelo mar.
Talvez de tanto que tomamos banhos juntas, mesmo quando a água gelada não convida, de tantas ondas que furamos, jacarés que pegamos juntas...castelinhos que construímos e desmanchamos aos pulos, caminhadas e corridas entre as marolas... espero que um dia ela possa recordar e sentir essa saudade gostosa dos veraneios que hoje curtimos juntas.
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