Idealizado pela diretora adjunta do Departamento da Diversidade Sexual e Gênero, da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado, Gloria Crystal, o primeiro abrigo destinado ao público LGBT+ de Porto Alegre fica localizado no bairro Glória. Inicialmente, funcionava em uma creche desativada, mas, com o aumento da demanda, uma casa grande, que foi disponibilizada solidariamente, agora abriga quase 40 pessoas.
O abrigo Renascer não é destinado apenas a este grupo social, e Gloria explica o porquê:
— Tem pessoas de todos os gêneros, cores, religiões, mas quem está aqui é porque respeita as diferenças. No momento em que tu faz algo específico para um público, tu está segregando, então trabalhamos na linha de naturalizar a nossa existência dentro da sociedade.
A criação deste espaço se tornou necessária, segundo a diretora, em razão do preconceito registrado em outros locais de acolhimento. A inutilização do nome social é o problema mais comum.
— Tudo o que já é histórico de acontecer, né? — indaga Gloria.
Por lá, cerca de 20 transexuais homens e mulheres já fizeram morada. Hoje, são quatro que estão acolhidos (as) no abrigo. É o caso de Katlina Machado Fernandez, de 60 anos, que é uma mulher trans desde os 25. Em toda sua trajetória, lutou e trabalhou pelos direitos do grupo o qual faz parte. Moradora de Canoas, teve sua casa inundada e precisou do auxílio de abrigos.
— Vim pra cá e fui muito bem acolhida. Em Canoas, a gente estava passando por preconceitos, principalmente na hora de usar os banheiros. Sempre tem aquelas piadinhas, te chamam de “viadinho”, é muita agressão verbal — relata.
Desprotegida
Rhyanna Costa da Silva, 19 anos, morava na rua antes da catástrofe acontecer. Estava nesta condição por sua família não aceitar sua transexualidade.
Antes de ser acolhida no abrigo Renascer, esteve em um outro em Viamão. Neste, teve que sair para poder manter sua integridade física.
— Diziam (os outros abrigados) que a gente (ela e mais duas amigas) ia incentivar as crianças a serem como nós, que os maridos estavam se sentindo incomodados. A organização do abrigo decidiu nos tirar de lá porque não estavam conseguindo nos proteger. Alguma coisa pior poderia acontecer se a gente ficasse lá — conta.
Depois de entrar para o Renascer, ela diz que “novas coisas se abriram”. E muito dessa afirmação se deve à comunidade Tabajara, segundo Rhyanna.
— Aqui é o meu lugar. Queria que todas as trans viessem para cá, tem muito respeito. Tu passa na rua, deseja um bom dia para uma pessoa e ela te responde, não é igual lá fora (da comunidade) — relata, com um sorriso de satisfação no rosto.
Serviço
- O abrigo fica localizado na Rua Alameda Servidão, 25, bairro Glória, em Porto Alegre
- Doações podem ser feitas por meio da chave Pix (e-mail): boeiradani16@gmail.com
#AjudaTransRS
Pensando em ajudar o público ao qual a artista, produtora cultural e comunicadora Luka Machado, 26 anos, faz parte, foi criado o Ajuda Trans RS. A iniciativa partiu da necessidade de evitar violências transfóbicas neste momento em que o povo gaúcho está passando.
O projeto faz um mapeamento de pessoas trans atingidas, tanto de forma direta quanto indireta, e um outro mapeamento de pessoas trans voluntárias disponíveis a ajudar. A partir de um formulário preenchido por quem precisa de ajuda, identificam-se as pessoas trans em vulnerabilidade e estas são conectadas ao grupo de ajuda.
— A gente vive numa sociedade que nos impede de muitos acessos, então uma rede transcentrada é importante demais nesse momento. A ação garante uma assistência de qualidade, afetiva e segura, porque estamos tendo denúncias de muitas pessoas trans que não estão tendo um acolhimento digno — relata Luka.
Lançado no dia 13 de maio, o projeto já ajuda 143 pessoas trans e conta com 140 profissionais trans trabalhando, tanto no atendimento quanto na ajuda final.
A ideia é que a iniciativa possa auxiliar também, por meio de uma base de dados, na criação de políticas públicas direcionadas a este grupo social.
— Os dados ajudam a registrar e documentar o que as pessoas trans estão passando nesse momento e quantos (em relação a números) nós somos. Para se ter uma ideia, o IBGE não nos mapeia por meio do censo. Então não se sabe quantas pessoas trans existem, o que dificulta até mesmo a criação de políticas públicas para nós — diz a idealizadora.
Serviço
- Tanto pessoas trans atingidas como pessoas trans dispostas a realizar trabalho voluntário podem acessar o formulário bit.ly/ajudatransrs e realizar sua inscrição
- Doações podem ser feitas por meio da chave Pix (e-mail): ajudatransrs@gmail.com
- O projeto pode ser acompanhado no Instagram por meio da hastag #AjudaTransRS, e pela conta da idealizadora @_lukkam