Após meia hora de voo, o Cessna L-19 Bird Dog aterrisou na pista de grama escassa e muita poeira nos arredores de Charqueadas, na Região Carbonífera. Lotado de antibióticos, insulina e produtos hospitalares, o monomotor havia decolado no aeródromo de Belém Novo, em Porto Alegre, em mais uma missão de apoio aos municípios afetados pela enchente.
Desde o começo dos temporais, o hangar da Sociedade Aeronáutica Riograndense (SAR), no extremo sul da Capital, se tornou ponto de partida para entrega de donativos. Com cinco aviões e três helicópteros, a entidade fez cerca de 130 viagens pelo Estado, transportando 30 toneladas de mantimentos, roupas, cobertores e remédios.
— Chegamos a fazer uma média de 10 voos por dia, levando 250, 300 quilos em cada deslocamento, principalmente para Eldorado do Sul. As pessoas estavam ilhadas, não tinham o que comer nem o que vestir — conta o empresário Ricardo Mansur, vice-presidente da SAR.
Nas primeiras semanas, os desafios eram as condições climáticas adversas, com chuva forte sobre o RS, e o estado das pistas, embarradas e escorregadias. Por vezes, o piloto fazia um sobrevoo raspando as rodas no chão para sentir se as poças d'água eram fundas e havia segurança para a aterrisagem.
— Fizemos missões com tempo fechado, voando baixo e confiando no braço, porque as pessoas precisavam do que estávamos levando — diz o mais experiente membro da entidade, o instrutor de voo Sérgio Machado, de 79 anos.
Fundada em 2009 por um grupo de aviadores apaixonados por aeronaves antigas, a SAR empregou na maioria dos voos o Cessna L-19, construído em 1955 e usado na guerra do Vietnã, um Citabria 7GCBC, de 1960, e um Cessna 172, de 1975. Restaurados pelos associados, os aviões têm pouca capacidade de carga, mas praticamente prescindem de pista de pouso.
— São aviões que não carregam uma tonelada, mas descem em qualquer lugar. Durante a enchente, pousamos em muitas pistas precárias — diz Mansur.
Os donativos foram entregues principalmente em Eldorado do Sul, Charqueadas, Camaquã e Santa Cruz do Sul. No voo realizado quarta-feira (12), os medicamentos e produtos hospitalares foram destinados ao Hospital Regional de São Jerônimo, que abrange 10 municípios da Região Carbonífera.
— A cidade ficou isolada nos primeiros dias, precisando de oxigênio, remédios, de tudo um pouco. Só eu recebi 2,5 toneladas de doações dos aviões para o hospital. Essa ajuda aérea foi fundamental — comenta o empresário Gleidson Teixeira, que atua como voluntário.